O livro Vozes do Paraná.
LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.
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Comendador Francisco Souto Neto
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PREÂMBULO
Com meu exemplar autografado
Com o senador Osmar Dias, localizando-nos no livro e trocando autógrafos.
Com o senador Osmar Dias, localizando-nos no livro e trocando autógrafos.
Aroldo Murá G. Haygert
é um dos jornalistas mais éticos e respeitados do Paraná. Conheci-o pessoalmente
no ano de 1988, quando fui por ele convidado a assinar uma coluna de meia
página (depois de página inteira) no Jornal Indústria e Comércio, onde ele
trabalhava como diretor de redação. Foi um convívio profícuo e rico. Minha
coluna "Expressão & Arte" não era apenas uma “divulgadora de eventos culturais”, mas um espaço de
opinião, onde exerci crítica séria e responsável.
Em 2008 o Professor
Aroldo – como ele gosta de ser tratado – idealizou e publicou um livro a que
denominou Vozes do Paraná – Retratos de
Paranaenses, com entrevistas a personalidades das mais diversas áreas de
atuação, mas que, segundo sua própria cosmovisão, colaboraram na construção do
Estado. Seu propósito foi, e continua sendo, o de restaurar a memória dos convidados e
perpetuar os seus feitos.
Desde então, todo ano
Professor Aroldo lança um novo volume da coleção: já foram editados 11 volumes,
um dos quais – o sétimo – em dois tomos. Um detalhe notável é o de que o autor
não aceita sugestões de nomes para serem incluídos na obra. Outro, ainda mais
admirável, é que os seus “personagens” – como ele chama seus convidados – não
pagam para figurar no livro, ao contrário do que ocorre com inúmeros outros
autores que reúnem personalidades em livros biográficos. Isto é o reflexo da
personalidade do Prof. Aroldo, da sua seriedade e da ética.
Os personagens do Prof.
Aroldo são convidados à sua casa para uma entrevista gravada, e outros dados são
pesquisados na internet pela equipe. O jovem jornalista Rodrigo de Lorenzi
participou ativamente da minha entrevista. O que o Professor pensa do seu entrevistado,
isto só será conhecido pelo homenageado no dia do lançamento do livro. O autor
é inteiramente imparcial, podendo o seu texto abordar tanto os aspectos
negativos quanto os positivos do personagem, mas sempre respeitando o trabalho
que este tenha realizado em sua área de atuação, sob o ângulo que for, em prol
do Estado do Paraná.
Os participantes do Volume 9: Jayne Canet Júnior (in memorian), João Ferraz de Campos (in memorian), Pedro Latro (nova geração) e Álvaro Dias, Carlos Deiró, Christiano Machado, Dom José Antônio Peruzzo, Eleidi Chautard Freire-Maia, Francisco Souto Neto, José Haraldo Carneiro Lobo, Juarez Marcondes Filho, Leomar Marchesini, Linei Dellê Urban, Luiz Lacerda Filho, Mansur Theóphilo Mansur, Marilena Wolf de Mello Braga, Osmar Dias, Paulo César Nauiack, Ricardo Alexandre Hanel, Robert Bittar, Szyja Ber Lerber.
Eu figuro no Volume 9, ao lado dos demais participantes que aparecem na foto acima. Na noite de lançamento e autógrafos no Palacete Garibaldi, adquiri meu exemplar
que foi autografado pelo Professor Aroldo, e me dirigi a um canto para poder
ler o capítulo que contém os meus traços biográficos. Devo confessar que fiquei
surpreso e muito sensibilizado pela maneira tão generosa como o autor me vê. O
título que ele deu ao meu capítulo foi “Francisco Souto Neto – Mecenas por
opção e conquista”. Desde então, nestes últimos três anos eu tenho refletido
sobre as palavras do Prof. Aroldo Murá e compreendido que o trabalho que eu
despretensiosamente efetuei como assessor de diretoria e da presidência do Banco do Estado do
Paraná ao longo de sucessivos governos, afinal gerou frutos que continuam sendo
colhidos até a este avançado momento em que vamos entrar na terceira década –
os “anos 20” – deste estranho e imprevisível século XXI.
(Escrevi este preâmbulo em 10 de abril de 2020, já há duas
semanas em quarentena – ou “isolamento
social” – contra o avanço da pandemia
mundial do COVID-19 que aflige todo o planeta).
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VOZES DO
PARANÁ
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RETRATOS DE PARANAENSES –
VOLUME 9
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Francisco
Souto Neto
Mecenas por
opção e conquista
Por Aroldo Murá G. Haygert
Capa do livro VOZES DO
PARANÁ Volume 9, de Aroldo Murá G. Haygert, de 2017.
Quarta capa (ou contracapa) do livro com fotos dos oito primeiros da coleção contendo a relação dos nomes dos entrevistados.
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Francisco Souto Neto
Mecenas por opção e conquista
Por Aroldo Murá G. Haygert
Não exagero,
examino Francisco Souto Neto no mundo real em que viveu e vive. Nem sou
hiperbólico, nem o comparo a Júlio II e/ou assemelhados. Sendo fiel ao que vi
em Souto, sei que ele foi um mecenas no seu tempo e no nosso universo local. O
que não deixa de ser bastante e importante.
Histórico. Isso foi.
Tento, com algum esforço, ficar dentro do possível neste
mundo real em que o crítico de artes plásticas e animador cultural Souto Neto
foi revelando e consolidando o seu mecenato, tendo por cenário maior o antigo
Banestado em boa parte dos anos 70 a 90 do século 20, em Curitiba.
E por isso, e outros tantos motivos, examino o personagem com
a raridade que de fato encarna: alguém que enxergou além do imediatamente
visível no âmbito essencial da cultura. Não é essa, porventura, a qualidade que
distingue pessoas com brilho muito próprio?
Com sua clara visão de futuro, ele foi utilíssimo a novas
gerações de escritores, teatrólogos, músicos, artistas teatrais, e muito
especialmente ao mundo das artes plásticas do Paraná. E alguns nomes
consolidados, como Sylvio Back e Poty Lazzarotto.
Transe
O setentão de hoje mantém-se ativo, olhar forte, perscrutador
de suas áreas de interesse. Nada parece passar-lhe à frente “gratuitamente”.
Esses exercícios do homem de bom gosto e boa formação cultural se expressam
agora em ritmo mais comedido, é certo. No entanto, com igual vigor psicológico
/ espiritual de dias passados.
Por momentos, vejo-o a examinar pausadamente as paredes do
salão em que o entrevisto. Elas estão tomadas por telas a óleo e desenhos de
artistas paranaenses, motivo suficiente para Souto me dar a impressão de que
vivia um tipo de transe. Na verdade, um transe – imersão profunda e
desligamento do mundo ao derredor – não raro entre os acostumados a contemplar
artes.
A família em Ponta Grossa em 1951. Em primeiro plano, Francisco Souto Neto.
Não mora mais nele o quarentão que pegou o peão a unha,
quando convenceu presidentes e diretores do Banestado – o complexo bancário
estadual do Paraná – de que haveria muito lucro para a instituição se ela
apostasse em promoção cultural. Seus superiores eram basicamente homens do
terra a terra, das cifras, dos números, dos lucros e perdas. Houve entre eles
poucas exceções. Ele as registra, por honestidade.
Quem lucra?
Mas a maioria do alto escalão do banco era o tipo de gente
que está sempre a se perguntar, como os latinos: “Cui Bono”, esperando lucros
financeiros a cada gesto.
A pressa dessa fauna humana por lucros financeiros foi, no
entanto, dobrada pela fala diplomática, a paciência meio beneditina, a
catequese de quem se criara numa casa dominada por pais inteligentes, ligados à
necessidade de conectar-se às dimensões do espírito e transmitir essa realidade
aos filhos.
No lar de Souto, a fome d’alma seria sempre saciada. Um dos
primeiros exemplos que o ainda menino observou foi a participação do pai em
conselhos e direções de entidades culturais. Posições que depois, com a morte
dele, Souto seria chamado a assumir, prosseguindo naquelas atividades voluntárias.
Souto, em 1951, com o gato Juju.
Residência da família, em Ponta Grossa.
No jornal
Meu convívio com Francisco Souto Neto foi quase sempre
cerimonioso, até. Ao abrigá-lo no Jornal Indústria & Comércio – cuja
redação eu dirigia e na qual ele marcaria toda uma época com suas colunas sobre
artes plásticas –, fui sendo introduzido ao ser humano que se mantinha alerta e
maravilhado com as manifestações de espírito.
Nele encontrei não apenas uma alma boa, um cavalheiro, mas
alguém disposto a decifrar as pisadas de uma geração que queria se expressar
artisticamente. Nisso foi um mecenas, como poucos encontrei.
O fato de Souto abrir-se e abrir as portas do departamento
cultural do Banestado aos novos valores não significou estar fechado aos
chamados “antigos”. Poty, por exemplo, foi um dos primeiros e fortes objetos de
suas atenções, me lembro bem. E mais: o aval que a querida amiga Adalice Araújo
dava às ações de Souto Neto foi apenas mais um reforço a uma certeza minha: as
páginas do jornal estavam, com ele, ajudando a escrever momentos singulares da
vida paranaense.
Com o jornalista Rodrigo de Lorenzi promovi uma ampla
entrevista com Souto, que aqui segue. Seguem igualmente observações e novas
opiniões sobre o crítico de artes plásticas. E muito recomendo a leitura
também, das aventuras do Visconde de Souto, trisavô de Francisco.
A irmã, Ivone Barbosa Souto.
Francisco Souto Neto em casa, aos 15 anos de idade.
ROTEIRO DE VIDA
Francisco
Souto Neto
O mecenas da
cultura paranaense
Por Aroldo Murá G. Haygert
Poucos têm o privilégio de manter na memória os fatos da vida
de forma clara, com uma narrativa sem muitos espaços em branco. Como disse o
poeta Waly Salomão, a memória é uma ilha de edição. Nosso roteiro de vida, tão
bem construído ao longo dos anos, começa a apresentar alguns furos conforme a
edição vai progredindo.
Mas esse não parece ser o caso de Francisco Souto Neto – ou
apenas Souto –, que além de ser advogado, jornalista e escritor, é um exímio
memorialista. E não poderia deixar de ser, já que sua trajetória é tão
importante para ele quanto para a história cultural do Paraná.
Caçula de três irmãos, Souto nasceu em Presidente Venceslau,
estado de São Paulo, em 1943. Dos irmãos, Souto era o mais tímido, diferente de
Olímpio e Ivone, os mais velhos. Com apenas cinco anos, mudou-se com a família
para Ponta Grossa. É filho de Edith Barbosa Souto e do jornalista Arary Souto,
diretor de redação do Jornal do Paraná (que mais tarde viraria Jornal da Manhã)
e posteriormente diretor da Rádio Central do Paraná.
Durante a infância, Souto foi criado de maneira bem diferente
das tradicionais regras familiares daquela época. Enquanto sua mãe era
voluntária da Rede Feminina de Combate do Câncer e bordava lençóis e fronhas
sob requisitadas encomendas, seu pai vivia cercado por jornais, pautas,
máquinas de escrever e muita arte.
Antes mesmo de aprender a ler, a curiosidade do pequeno Souto
chamava a atenção da mãe. O Jornal do Paraná veiculava tiras, de quatro ou
cinco quadrinhos, que eram partes de uma história seriada chamada Morena Flor.
Sua mãe lia-lhe os balões do capítulo do dia. A ansiedade do garotinho era tão
grande que, toda noite, Edith levava-o à redação do jornal para saber como
seria o capítulo da manhã seguinte.
“A saudade dessa época é a da sensação de liberdade, de
segurança e da perspectiva de uma vida quase infinita, quase imortal, e também
do ambiente familiar tranquilo, da solidez da casa, da despreocupação com o
futuro”, diz um Souto com olhos nostálgicos.
Nos anos 1950, pré-adolescente, Souto morava a 50 metros do
Cine Ópera, importante cinema de Ponta Grossa e que fazia parte do Edifício
Ópera, prédio recém construído que marcou o início da verticalização da cidade.
Cinéfilo desde quando se lembra, Souto frequentava o Cine Ópera com seu pai.
Muitas vezes, ia sozinho.
Quando não podia ir, ficava debruçado na janela da casa,
ouvindo a música de início e encerramento das sessões – Mambo jambo e Meu coração
tolo, respectivamente. Com tantas idas à sala escura para assistir a Lana
Turner, Doris Day ou Rock Hudson, não demorou muito para o garoto se dar conta
de que o cinema não se restringia a Hollywood.
Certo dia, o menino Souto descobriu o longa-metragem sueco A fonte da donzela e Ingmar Bergman
abriu seus horizontes. O cinema enfim, não era mais apenas a técnica de fixar e
reproduzir imagens que suscitavam a impressão de movimento, mas tornava-se uma
nova e empolgante visão do mundo. E foi após ver a bela Silvana Mangano falando
italiano no filme Ulisses que Souto
se apaixonou pelo idioma e foi tomar aulas com o respeitado professor Bruno
Enei.
A adolescência
Na época mais intensa da vida, Souto era introspectivo.
Quando os pais recebiam amigos no casarão alugado onde viviam, na Rua Augusto
Ribas, 571, ou quando os irmãos ofereciam festas badaladas, ele mal aparecia.
“Meu mundo era o colégio, o ginásio: à tarde ficava ocupado com as tarefas
escolares, reunido em casa com vários colegas, para as fazermos coletivamente”,
lembra.
Souto estudou por quatro anos no Ginásio Ponta-grossense,
escola de onde herdou um pequeno trauma por causa de uma tirana professora de
matemática que infligia aos alunos as temidas palmatórias, embora nunca tivesse
levado uma palmada sequer. Depois, ingressou no curso científico, no colégio
Regente Feijó. Com apenas 14 anos, talvez por querer seguir os passos do pai,
colaborou com a coluna social Cortina de Seda, no Jornal da Manhã, sob o
pseudônimo de Mister X. O adolescente tímido parecia encontrar refúgio e morada
dentro das letras e atividades culturais. Entretanto, mesmo com o pai
jornalista e com a aparente vocação para a comunicação e as artes, Souto tinha
um objetivo mais prático: tornar-se médico.
Contudo, seu roteiro de vida, sempre imprevisível, teria
reviravoltas.
Souto em frente à tela "Grupo dos Onze" de Alcy Xavier, da Coleção Max Conradt Júnior. [Souto aparece na obra na forma de uma tela pendurada na parede, à direita, ao lado retrato de Carlos Antonio de Almeida Ferreira, presidente do Banestado].
A precoce vida adulta
Em 1963, com apenas 19 anos, Souto precisa encarar a única
certeza inexorável, ainda que incompreensível. No dia 11 de abril, seu pai
falece, uma semana antes de completar 54 anos, vítima de grave doença. “Admiro
quem encara a morte como um acontecimento normal a todo ser humano. Concordo
que seja um evento natural, mas ao mesmo tempo é, na minha maneira de sentir, a
maior violência da vida”, conta.
Por uma necessidade urgente, a família de Souto é obrigada a
mudar todos os planos. A mãe, com uma pensão que ia diminuindo a cada mês,
intensifica os bordados. O irmão, Olímpio, muda-se para Nova York com a esposa.
A irmã, Ivone, casa-se. Souto, então, precisa tomar decisões adultas demais
para um jovem sonhador. Após terminar os estudos do curso científico, ao invés
de Medicina, entra para a Faculdade de Direito de Ponta Grossa, em 1966. Na
mesma época começa a trabalhar no Banco Nacional do Comércio.
Francisco Souto Neto e Adalice Araújo examinando cadernos mensais do Jornal do Paraná.
Reunidos os cinco críticos de arte de Curitiba: Orlando Dasilva, Adalice Araújo, Francisco Souto Neto, Nilza Procopiak e João Henrique do Amaral.
Souto e o amigo Rubens Faria Gonçalves no Cabo Norte (Noruega).
A arte ainda latente
Mesmo com poucos recursos e com as grandes mudanças
ocorridas, a arte continuou a aproximar-se de Souto. Durante a faculdade, ele
trabalhava em dois períodos e estudava à noite. Enquanto descobria os
intelectuais Jean-Paul Sartre e Hermann Hesse, que esclareceram suas ideias
sobre o mundo, também se aproximava do teatro.
Ainda durante a faculdade, quando sobrava dinheiro, viajava a
São Paulo para assistir a peças ou nutrir seu antigo hobby, o cinema. Os amigos de seu falecido pai começaram a chamá-lo
para ocupar cargos de diretoria em entidades culturais. Foi membro do Centro
Cultural Euclides da Cunha e fez parte da União dos Trovadores do Brasil. A
amiga de faculdade, Lúcia Itamara Hoffmann, convidou-o para participar de uma
antologia literária chamada Um jovem é um
jovem.
Vendeu seu projetor de cinema 16mm, com todos os filmes que
tinha em casa, e arrecadou dinheiro para viajar para o Peru, Bolívia, Chile e
Argentina. No final de 1960, já formado em Direito, Souto é aprovado no
concurso para o Banco do Estado do Paraná (Banestado), como escriturário.
Ao visitar uma exposição em São Paulo, ele conheceu o
trabalho de Chico Lopes, que fazia desenhos com caneta esferográfica. Souto
fica tão impressionado com o trabalho do artista, que consegue inseri-lo no
calendário da Fundação Cultural de Curitiba e escreve o texto de apresentação
da exposição. Não demoraria muito para que a vida o empurrasse em direção à sua
vocação.
A mudança para Curitiba
Depois de 10 anos trabalhando como escriturário em Ponta
Grossa, Souto desejava mais. Dentro do próprio Banestado, é aprovado em
concurso interno para o cargo de inspetor, em 1975. A partir do orçamento
limitado com que ele e sua mãe viviam, o agora inspetor começa a fazer
economias e planos maiores.
Enquanto realiza cansativas viagens de inspetoria por cidades
do Paraná, Souto recebe a proposta do diretor e criador da Carteira Rural do
Banestado, Paulo Schultz Filho, que, admirado com seus excelentes relatórios,
convida-o para ser seu assessor pessoal, em 1976. É nessa época que Souto passa
a morar em Curitiba definitivamente.
Cada vez mais, o minucioso trabalho de Souto chama a atenção
da diretoria do banco. Com o fim da ditadura militar, o fim do governo Ney
Braga e do mandato-tampão de José Hosken de Novaes, José Richa assume como o
primeiro governo pós-regime ditatorial, eleito em sufrágio universal. No
Banestado, mudava-se a diretoria, agora sob o comando de Octacilio Ribeiro da
Silva. Com um turbilhão de mudanças de uma época efervescente, Souto começa a
sonhar ainda mais. E é justamente depois de um sonho que sua vida muda
completamente.
Membros da Academia de Letras José de Alencar. Souto Neto ocupa a cadeira patronímica nº 26, de Emiliano Perneta. [A partir da esquerda: Dione Mara Souto da Rosa, Francisco Souto Neto, João Carlos Cascaes, Anita Zippin, Rubens Faria Gonçalves, Tânia Rosa Ferreira Cascaes, Hamilton Bonat e Celso Portugal]
O sonho
Após visitar uma exposição de artistas catarinenses chamada
Arte Barriga Verde, apresentada no Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep),
Souto fica impressionado com um óleo sobre tela em que há duas vacas sobre uma
cama e, na cômoda ao lado, uma cruz. Na assinatura, encontrava-se o nome de
Juarez Machado. Mais tarde, Souto descobriria que o quadro chamava-se Senhor e Senhora Fulano de Tal. Ao
dormir naquela noite, Souto sonha que compra o quadro das vacas. Porém, ao
chegar em casa, abre o pacote e vê uma pintura extremamente mal feita, assinada
por Juarez Macedo. A versão onírica de Souto havia sido enganada.
No outro dia, já desperto, Souto decide ir ao Badep e comprar
o quadro verdadeiro. Entra em contato por telefone com o próprio Juarez Machado
no Rio de Janeiro, que o vende por suaves prestações, as quais seriam cobradas
pessoalmente por seu irmão Edson Busch Machado, residente na catarinense Joinville.
Edson, ao cobrar a primeira parcela da compra de Souto, resolve, antes, passar
na Fundação Cultural de Curitiba. Ao presenciar a obra de Chico Lopes, o
artista das canetas esferográficas, Edson repara no belo texto de apresentação
da exposição, escrito por Souto (e Rubens Faria Gonçalves), o mesmo homem com
quem falaria dali a poucos minutos. Ao encontrá-lo, Edson convida-o a escrever
a apresentação de sua mostra, Homenagem a
poetas, artistas e intelectuais, que ocorreria em Joinville. A partir daí,
Souto começa a ter contatos com grandes artistas e intelectuais e a sua
história passa a confundir-se com a trajetória cultural do Paraná.
Nessa mesma época, Souto começa a ser notado no jornalismo
cultural. Assim, cria para o Jornal Indústria & Comércio a coluna Engenho
& Arte, título que posteriormente altera para Expressão & Arte. No
início ocupando meia página e depois página inteira do jornal, a coluna foi
publicada durante 11 anos. A certa altura, os textos eram veiculados ao mesmo
tempo em três diferentes jornais e numa revista, e a coluna torna-se um
programa na Rádio Estadual, a convite e Heron Trindade e René Ariel Dotti.
Inauguração do VI Salão Banestado de Artistas Inéditos.
Programa de Cultura do
Banestado
Ganhando cada vez mais prestígio dos diretores do Banestado,
Souto tem uma pequena ideia: criar um salão para artistas inéditos no estado do
Paraná. Assim, em 1983, era criado o Salão Banestado de Artistas Inéditos
(SBAI), envolvendo artes plásticas. A primeira comissão responsável por julgar
as obras expostas no salão era formada pelos pintores Mazé Mendes, Alberto
Massuda e Jair Mendes. Os três primeiros prêmios do SBAI foram entregues a
Heloísa Maria Machado Moreira, Rubens Faria Gonçalves e Dorothy de Souza Rocha.
A pequena ideia de Souto agora alcança voos inimagináveis.
Voa tão alto que ele precisa ampliar o conceito e formar o Programa de Cultura
do Banestado, que, além de abraçar o Salão, ainda abrange a Galeria de Arte
Banestado, idealizada por Christóvam Soares Cavalcanti. O Programa, então,
passa a dar espaço para literatura, música e o teatro.
Em caricatura de Rubens Gennaro, Souto é mostrado como um mecenas da arte e da cultura.
Francisco Souto Neto em caricatura de Cláudio Seto referente aos Salões Banestado de Artistas Inéditos.
Notícia sobre a inauguração do Museu Banestado.
Mais do que artes
plásticas
Na literatura, Souto conseguiu o apoio da Lei Sarney, mais
tarde conhecida como Lei Rouanet, para que o Banestado editasse e lançasse
importantes livros paranaenses, como Década,
livro de crônicas de Anita Zippin, e Moedas
de Luz, de Sylvio Back. O Programa de Cultura também incentivou novos
artistas que estavam fora do circuito das artes, dando a eles a oportunidade de
terem suas obras publicadas, sempre por meio de uma criteriosa curadoria
comandada por Souto. Na música, o Programa ampliou o Coral Banestado.
Já no teatro, o banco transformou em realidade uma ideia do
advogado Constantino Viaro, que desejava construir diversos teatros pelo
Paraná, todos em forma de barracões. Como Viaro não possuía recursos
suficientes, Souto conseguiu o apoio do Banestado para o projeto, desde que os
barracões se chamassem Teatro Banestado. Foram construídos quatro teatros: primeiro
em Maringá e depois em Foz do Iguaçu, Cascavel e São João do Ivaí. Todos eram
feitos de madeira, verdadeiros barracões, mas perfeitamente equipados.
Atualmente, o único teatro existente é o de Foz de Iguaçu, mas agora com o nome
de Teatro Barracão, como idealizado por Viaro.
Durante anos, Souto participou, como diretor ou conselheiro,
de órgãos oficiais ligados à Secretaria de Estado da Cultura. Nessa época,
chegou a assinar textos para a página dos editoriais da Gazeta do Povo, graças
ao apoio do diretor do jornal, Francisco Cunha Pereira Filho, de quem foi
colega em diretorias e conselhos de algumas instituições, tais como o Conselho
de Cultura da Telepar e a Sociedade dos Amigos dos Museus de Curitiba.
No Banestado, ao longo de vários governos, além de assessorar
diversos diretores, foi também assessor de dois presidentes: Edisson Elleri
Faust e Carlos Antonio de Almeida Ferreira. Mesmo com a saída do banco por
aposentadoria em 1991, Souto continuou escrevendo e analisando diversas obras
culturais do Paraná.
Perdas
A mãe, Edith, em 1981, com seu chihuahua Quincas Little Poncho.
Em 1997, Souto precisa, mais uma vez, imaginar o
inimaginável: viver em um mundo sem a mãe, que falece um mês antes de completar
86 anos. A dor repete-se em 2007, com a partida de seu irmão Olímpio, e em
2010, com a despedida de sua irmã Ivone. Desde a morte da mãe, Souto diminuiu
consideravelmente sua atuação como crítico cultural e passou a viajar e a
consumir mais cinema dentro de sua própria casa, sempre ao lado de cãezinhos
como seu Paco Ramirez e Tibério Bouledog, do seu vizinho Rubens Faria
Gonçalves.
O comendador Souto de
hoje
Em 2014, Souto recebeu o título de comendador, outorgado pela
Associação Brasileira de Liderança, por seu trabalho como assessor da diretoria
e da presidência do Banestado. Além disso, Souto é membro e um dos diretores da
Academia de Letras José de Alencar, onde ocupa a cadeira patronímica nº 26, de
Emiliano Perneta. Atualmente alimenta seus blogs temáticos, que reúnem todas as
suas publicações e citações a seu trabalho em mais de três mil textos, todos disponíveis
na internet. Continua cinéfilo, mas sem frequentar o cinema, porque não tem
paciência para “essa nova moda de poltronas marcadas”. Prefere o conforto do
lar, todavia ainda se emociona com o impacto causado pela sétima arte. Seu
último filme favorido é Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, uma obra que trata
justamente do poder da memória.
Trisavô milionário
O Visconde de Souto, trisavô de Francisco Souto Neto, em detalhe de óleo sobre tela de A. R. Duarte (1890), acervo da Beneficência Portuguesa, Rio de Janeiro.
Entre 2007 e 2013, em coautoria com sua prima Lúcia Helena
Souto Martini, Souto escreveu a biografia de seu trisavô, o Visconde de Souto
(1813-1880). Embora a obra permanecesse inédita, teve capítulos publicados na
Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, e tornou-se um capítulo da
série “Detetives da História”, apresentada pelo canal internacional The History
Channel.
O Visconde de Souto nasceu na cidade do Porto, em Portugal, e
veio sozinho ao Brasil aos 15 anos, em 1828. Começou trabalhando na empresa
Ferreira & Cohn, mas logo se estabeleceu por conta própria. Por volta de
1838, passou a dar à sua empresa o aspecto de um banco, tendo ele se tornado o
primeiro banqueiro particular do Brasil. Sua casa bancária ficou popularmente
conhecida como Casa Souto. Nos primeiros anos da década de 1840, a Casa Souto
competia com o Banco do Brasil em carteira de depósitos: eram os dois bancos
mais poderosos do Império.
Naquela época, ainda conhecido como Comendador Souto, comprou
uma enorme área contígua à Quinta Imperial da Boa Vista e lá mandou construir
uma mansão para ele e sua família, que ficou conhecida como Chácara do Souto.
Em um dos extremos da propriedade chegou a formar um jardim zoológico,
importando animais de três continentes.
Pela primeira vez os brasileiros puderam ver elefantes, leões
e ursos. Tornou-se amigo de D. Pedro II, que o visitava em casa. Acompanhando
os prodígios do Comendador Souto em terras brasileiras, o rei de Portugal, D.
Luís I, criou o título Visconde de Souto por decreto, em 12 de dezembro de
1862, e outorgou-o ao ilustre portuense. Ele ainda foi fundador da Junta de
Corretores que deu origem à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, fez parte da
primeira diretoria da Caixa Econômica e presidiu a Beneficência Portuguesa.
Numa outra chácara, na atual Floresta da Tijuca, mandou construir um oratório,
hoje conhecido como Capela Mayrink, nome do seu último proprietário.
O Souto quebrou!
A Casa Souto faliu em 1864. Segundo Arthur Azevedo em Contos Ligeiros, “supor naquele tempo que
o Souto quebrasse era o mesmo que acreditar na quebra do Pão de Açúcar”. Essa falência
abalou o Brasil e foi noticiada até em remotos países como Nova Zelândia e
Austrália. Uma comissão de inquérito concluiu pela inocência do Visconde na
quebra da Casa Souto. De tão comentada, até papagaios, que tanto ouvir,
aprenderam a repetir: “o Souto quebrou”! Mais de 600 livros compõem a
bibliografia com referências ao Visconde
e à Quebra do Souto. Entre elas, há citações ao Souto feitas por Machado de
Assis, José de Alencar, Lima Barreto, Barão de Mauá, Barão do Rio Branco, João
Calmon, Sérgio Buarque de Holanda e outras centenas, inclusive dos modernistas
Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.
Na entrevista com
Francisco Souto Neto
as perguntas ping-pong
Você foi um grande incentivador da cultura e um grande
curador. Como enxerga a cultura no Paraná hoje e toda a polêmica com leis de
incentivo, o cancelamento da oficina de música, entre outras coisas?
– Após escrever em coautoria com uma
prima, durante 7 anos, a biografia “Visconde de Souto – Ascensão e ‘Quebra’
no Rio de Janeiro Imperial”, contratei a Unicultura para enquadrar a obra
na Lei Rouanet e posteriormente editá-la. Após um longo tempo, aquela ONG
conseguiu enquadrar o livro na referida Lei, e essa aprovação foi publicada no
Diário Oficial da União. Entretanto a Unicultura não conseguiu patrocínio
porque as empresas estavam já comprometidas com outras obras. Disseram-me então
que seria fácil fazer o enquadramento na Lei Municipal da Cultura. Ledo engano,
pois as senhoras da Fundação Cultural de Curitiba que examinaram a obra
julgaram-na “sem interesse para o Paraná”. Que curioso: o livro é bom para o
Brasil, mas não é bom para o Paraná. Perdi tempo, dinheiro e paciência.
Portanto, para mim as leis de incentivo são jogos de cartas marcadas e não
valem nada. Quanto ao cancelamento da Oficina de Música, um dos primeiros atos
de Rafael Greca como prefeito de Curitiba, foi decepcionante! Um descaso para
com o histórico daquele respeitado evento. Mas o que esperar de quem diz que
“metrô é pra toupeira”? Em todo caso, vamos ver se o VLT, ou o VLP prometido
pelo mesmo Greca, cujo projeto já foi concluído pelo seu antecessor, será
tornado realidade ou se não passará de mais uma balela eleitoreira.
Você tem Facebook, e-mail e escreve em diversos blogs, mas
curiosamente não tem celular. Como você vê a arte, hoje, com os recursos
tecnológicos?
– Sim (risos), jamais tive um celular. Nunca digo “desta
água não beberei”, mas se o telefone fixo nos incomoda nas horas mais
inadequadas dentro de nossas casas, imagino que chato seria atender a quem quer
que seja enquanto caminho pelas ruas. Não gosto e não quero. Já a arte
praticada com recursos tecnológicos pode resultar surpreendente. É uma nova e
muito válida forma de expressão artística.
Você se envolveu especialmente com artes plásticas. Atualmente,
há um forte movimento do grafite e a arte de rua. Qual sua opinião sobre isso?
– Há que se observar a diferença: pichação é vandalismo,
é crime, é emporcalhar a cidade. Grafite é arte, por isso me causou indignação
assistir ao que o novo prefeito de São Paulo está fazendo: mandou passar tinta
cinza indistintamente nos muros, produzindo borrões e destruindo verdadeiras
obras-primas que davam beleza a locais onde os paredões de cimento eram
monótonos e tristes. Nota zero para o prefeito João Doria. Quanto à arte de
rua, ela é a arte livre, expressão máxima de artistas nos espaços urbanos,
geralmente inteligentes e que animam as cidades e despertam os cidadãos comuns.
E a crítica cultural nos cadernos culturais, especialmente no
Paraná. Tornou-se mesmo apenas orientação de consumo ou ainda é relevante? Por
que você diz que era um crítico que não se importava com a crítica?
– Os críticos de todas as áreas que se sentem donos da
verdade, parecem não perceber que estão geralmente manifestando apenas uma
opinião muito pessoal que poderá até ofender a sensibilidade do leitor, mais
ainda do autor. Quanto maior o veículo de comunicação, como por exemplo a
revista semanal mais lida do país, maior é a empáfia do crítico, que se mostra
quase sempre ácido e mal-humorado. Esse tipo de crítica nada vale. De modo
geral, acho que a crítica da imprensa local é, sim, mais uma orientação para
consumo, exceto raras e honrosas exceções. A crítica de arte, por exemplo, não
pode estar dirigida à destruição. É natural e necessário que haja críticas
negativas, mas neste caso o crítico que saiba ser respeitoso e que, se tiver
capacidade para tal, sugira ao artista caminhos mais adequados ou alternativos.
A música, hoje, está mais banalizada ou democrática? O que
você gosta de ouvir?
– A música está banalizada justamente por ser
democrática... e viva a democracia, porque não há nada mais retrógrado do que a
censura a isto ou àquilo. Respeito a música que casualmente eu não aprecie,
porque sei que o mundo não gira ao redor do meu umbigo. Sou, entretanto, muito
eclético, e vou dos compositores eruditos aos populares. Se a cantora Maria
Alcina voltar à baila com toda aquela vulgaridade, vou me divertir e
aplaudi-la. Ouvindo Gal Costa, Maria Bethânia ou Elza Soares no palco, eu poderia
atirar rosas a seus pés. Minha preferência, entretanto, desde a adolescência
recai no jazz e blues. Falando das intérpretes e não dos compositores, Billie
Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone e outras me acompanham há muitas décadas.
Amy Winehouse foi também admirável. Mas minha grande paixão será para sempre
pela voz de Julie London que, ainda menino, descobri cantando “Cry me a
River” no filme “Sabes o que quero” (“The Girl Can’t Help It”),
de 1956, com Jayne Mansfield e Tom Ewell. Tenho todos seus discos, neste século
relançados em CD.
Você continua cinéfilo? Como você vê o cinema atual?
– Continuo cinéfilo, embora não vá tanto ao cinema como
antigamente, e dê preferência à comodidade de um home theater. Continuo
cultuando Bergman, Fellini, Visconti, Buñuel, Pasolini... Eu disse há pouco que
não me importo, por exemplo, com a crítica cinematográfica porque, como
cinéfilo, cada vez gosto mais do cinema verdadeiramente inovador ou mesmo
marginal, isto é, daquele fora do circuito comercial, infelizmente visto por
poucos. Deste modo, não estou curioso quanto ao badalado filme “La La Land”.
Vou assisti-lo apenas porque gosto de musicais, mas sem quaisquer expectativas.
Fui fã da ficção científica quando os filmes eram densos e intelectualizados,
como em “Planeta Proibido” (“Forbidden Planet”) de 1956, e em “2001
– Uma Odisseia no Espaço”, de 1968, antes das desagradáveis correrias e da
câmera nervosa dos filmes do gênero, vistas em “Guerra nas Estrelas”, de
1977, um filme que estragou a introspecção do acarth fiction movies.
Pela televisão paga, enquanto na maioria dos canais proliferam principalmente
filmes e séries comerciais, uns poucos veiculam verdadeiras obras-primas de
países quase desconhecidos. No Brasil, no ano 2017 em curso, o cinema
pernambucano me parece o mais admirável e inovador pela estética diferente,
originalidade dos roteiros e até pelo atrevimento e crueza dos seus temas. O
último filme brasileiro a que assisti foi “Aquarius”, absolutamente
magistral. Causa-me espanto que segmentos da imprensa tenham sugerido o boicote
ao filme, simplesmente porque os atores que nele atuam fizeram uma manifestação
política em Cannes, onde o filme era exibido, contrária às tendências
partidárias da maioria. Perseguição a artistas respeitados e boicote à sua arte
é trazer de volta o macarthismo, um garrote que ofende e oprime a cultura e a
razão.
Ao final da entrevista, Francisco Souto Neto com Aroldo Murá e Rodrigo de Lorenzi fotografados por Annelize Tozetto.
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Apenas por curiosidade, vou anexar, abaixo, as fotografias que não entraram no livro obviamente por falta de espaço.
O pai Arary Souto.
A mãe Edith Barbosa Souto.
Francisco Souto Neto na década de 80.
A mãe, Edith Barbosa Souto, com o chihuahua Quincas Little Poncho.
Vera Marques, administradora da Galeria de Arte Banestado, entre Tadeu Petrin e Francisco Souto Neto, criadores do Salão Banestado de Artistas Inéditos.
Francisco Souto Neto em seu gabinete de trabalho na diretoria do Banestado.
Francisco Souto Neto em solenidade no Museu Banestado.
Na Galeria de Arte Banestado: Francisco Souto Neto, assessor para assuntos de cultura do Banestado, entre Alice Varajão e Marly Meyer de Araújo. Em primeiro plano, sentados, Vera Munhoz da Rocha Marques e Poty Lazzaroto.
Na Galeria de Arte Banestado: Vera Marques, Souto Neto e Clarissa Lagarrigue.
No Conselho de Cultura da Telepar, com Anita Zippin.
Diretoria da Sociedade de Amigos dos Museus de Curitiba: Lylian Vargas, Dino Almeida, Nelson Ferri, Francisco Souto Neto, Moysés Paciornik, e João Henrique do Amaral.
Lúcia Helena Souto Martini e Francisco Souto Neto no Salão Nobre da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro, com o OST de seu trisavô, o Visconde de Souto, que foi presidente daquela instituição.
Os amigos Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto com seus respectivos cães: Tibério Bouledogue e Paco Ramirez.
Souto com Tibério e Paco.
Francisco Souto Neto e Rubens Faria Gonçalves em Visby, Gotland (Suécia).
Francisco Souto Neto e Rubens Faria Faria Gonçalves nas trilhas dos Alpes nos arredores de Zermatt (Suíça).
A irmã Ivone Souto da Rosa com o marido Dulci Col da Rosa.
O irmão Olimpio Souto com a esposa Maria Aparecida D'Elboux Moreira Souto em Nova York.
Em família, em casa, no Natal de 2016: Rubens Faria Gonçalves, Francisco Souto Neto, Felipe Bill, Guilherme Confortin, Marion Souto da Rosa Lemes, Isabelle Edith Aguilar, Dione Mara Souto da Rosa e Rossana Souto da Rosa.
-o-
Um
adendo em 9 de julho de 2020
Senti necessidade de acrescentar algumas palavras nesta página
do meu blog, que é muito especial
para mim, por conter o resumo da minha vida, nas palavras do respeitado
jornalista Aroldo Murá no Volume 9 de VOZES DO PARANÁ.
Desejo registrar que hoje, 9 de julho de 2020, o 88º aniversário
da Revolução Constitucionalista de 1932, é feriado no Estado de São Paulo, em
homenagem ao movimento contra a ditadura de Getúlio Vargas.
Ao mesmo tempo, faço menção ao fato de estarmos a apenas 9 dias
do 4º mês de minha “reclusão”, em isolamento social, única medida mais efetiva para
nos protegermos da pandemia da COVID-19, frequentemente letal para pessoas da
minha idade. Nos últimos quatro meses o mundo mudou radicalmente, com 12 milhões
de pessoas infectadas até agora e mais de meio milhão de mortos. O mal
espalha-se pelo planeta e as pessoas procuram proteger-se das formas possíveis,
na esperança de que logo surja a vacina contra o coronavírus. O planeta já não
é, nunca mais será o mesmo.
Por infelicidade, temos um presidente descentrado que, mesmo
infectado, e a confirmação veio ontem pela imprensa, insiste em pretender
minimizar a pandemia. Enquanto o mundo inteiro recomenda o uso de máscaras e o
isolamento social, ele insiste em manifestar seu desprezo pelo uso dessa
proteção e em conclamar os brasileiros a deixarem o isolamento social, na
contramão das recomendações das autoridades sanitárias e dos dirigentes dos
países no planeta.
Quando o Amazonas, o estado mais afetado pela pandemia no mês de
abril, lutava bravamente para conter o alto nível de contaminações e de mortes,
houve a escandalosa reunião ministerial em Brasília no dia 22, cuja gravação
veio a público, na qual presidente e ministros portaram-se como se estivessem
numa mesa de botequim. Bolsonaro xingou de “bosta” o prefeito de Manaus, Arthur
Virgílio Neto, que na verdade agia corretamente no combate ao coronavírus, e
acrescentou: “Aquele vagabundo do prefeito de Manaus está abrindo cova coletiva
para enterrar gente e aumentar o índice da Covid.” Logo após o baixo nível da
reunião ministerial vir a público, o prefeito Arthur Virgílio, indignado,
chamou o presidente de “covarde”, “cretino”, “nojento”, “imbecil”, “analfabeto”
e “primata”, e ainda tarjou Bolsonaro de
“assassino indireto”, por “incitar as pessoas a saírem às ruas, violando o
isolamento social”. Arthur Virgílio Neto assim concluiu: “Ele tem olho de peixe
morto, uma cara assustada, típica de pessoa que não sabe ficar quieta. Não sei
que outras moléstias esse sujeito tem além da mental. Mas há algo no seu
coração perverso, capaz de tocar em feridas que estão sepultadas”.
Isto é apenas um pequeno detalhe dos atos irresponsáveis do macabro governo Bolsonaro e da mentalidade deformada do
presidente, cujo instrumento principal é a mentira e o subterfúgio. Não vale prolongar-me. Deixo apenas a minha esperança de sobreviver
à pandemia e viver o bastante para ver esse ser inominável julgado talvez por
um Tribunal Internacional por crimes contra a Humanidade.
A melhor síntese da minha indignação vai na letra, composição e voz de Álvaro Gribel, abaixo:
Sem poder sair de casa, eu tenho cortado meu próprio cabelo que
deixei de pintar. O resultado das minhas tesouradas inseguras está sendo melhor do que eu
poderia imaginar. Deixo aqui três fotos como um registro de minha aparência
atual – a menos de dois meses dos meus 77 anos – as primeiras que coloco nos
meus blogs neste tempo de reflexão e
de tristeza para o Brasil e para o mundo.
Francisco Souto Neto em 2020.
-o-
Passados mais 4 anos, agora em 2024:
Desde que colei as três fotografias acima, já transcorreram mais
quatro anos. Agora estamos em 2024. Sendo eu agora octogenário, impressiona-me
a rapidez com que os anos transcorrem. Estou acrescentando uma fotografia abaixo, apenas para registrar o meu aspecto aos 81 anos de idade. Sei que
envelheço bem, entretanto ciente de que, como escreveu Calderón de La Barca
(1600-1681) que morreu aos 81 anos:
“¿Qué es la vida? Un
frenesí.
¿Qué es la vida? Una ilusión, una sombra, una ficción;
y el mayor bien es pequeño;
que toda la vida es sueño, y los sueños,
sueños son”.
Francisco Souto Neto aos 81 anos de idade em
2024.
-o-
Parabéns Francisco! Uma linda história de vida! Que Deus continue abençoando seu caminho! Um abraço
ResponderExcluirOi, que pena que seu nome não ficou registrado na sua mensagem acima, mas mesmo assim quero agradecer-lhe muito por sua gentileza de escrever e por suas palavras de estímulo. Muitíssimo obrigado e um grande abraço.
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