quarta-feira, 27 de julho de 2022

“CRÔNICAS DA PANDEMIA”, uma coletânea organizada por Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado, da Academia de Letras José de Alencar.

 LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

 

“CRÔNICAS DA PANDEMIA”, uma coletânea organizada por Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado, da Academia de Letras José de Alencar


 
Capa do livro Crônicas da Pandemia  

 
Comendador Francisco Souto Neto

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O livro CRÔNICAS DA PANDEMIA

 

Anita Zippin, que preside a Academia de Letras José de Alencar – ALJA em Curitiba, e Alberto Vellozo Machado, membro do mesmo sodalício, idealizaram a publicação de uma coletânea lítero-poética versando sobre a pandemia da Covid-19, que reunisse autores também de outras instituições ligadas às letras, tais como o Centro de Letras do Paraná, a Academia Feminina de Letras do Paraná, a Academia Paranaense da Poesia, o  Observatório da Cultura Paranaense e a União Brasileira de Trovadores Seção Curitiba.

Luiz Fernando de Queiroz, da Editora Bonijuris Ltda., que há anos tem dado grande apoio à ALJA, prontificou-se a editar a obra. Assim, os convites foram feitos a inúmeros intelectuais, para que participassem da concepção do livro. A mencionada advogada Anita Zippin sugeriu aos autores que não se referissem especificamente ao horror da doença que envolveu todo o planeta – e que ainda nos fustiga –, mas que em textos curtos procurassem aspectos de menos austereza.

Estávamos no terceiro ou quarto mês da pandemia, em 2020, quando escrevi minha crônica. Denominei-a “A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos”. Impresso e lançado o livro no corrente mês de julho de 2022, vejo meu trabalho estampado em segundo lugar, à página18. 

A apresentação da obra vem assinada por Anita Zippin e Joatan M. de Carvalho, respectivamente presidenta e 1º vice-presidente da ALJA.

A capa do livro é da autoria de João Carlos Bonat, meu confrade da Academia. Muito bem inspirada e não menos do que genial, a capa de Bonat mostra  um homem moderno que usa a antiga máscara denominada doctore, que os médicos venezianos adotaram na Idade Média quando a peste chegou ao Vêneto, e que consiste na cara de um pássaro com longo bico. Dentro daquele enorme bico os médicos carregavam flores, cujo perfume não apenas tentava disfarçar um pouco o cheiro dos corpos em putrefação, como também imaginavam eles que o perfume afugentasse a peste. Pobres doutores daqueles tempos medievais, que não sabiam que a Peste Negra era transmitida por pulgas.


 
Gravura antiga que mostra um "Doutor da Peste" andando por Veneza na Idade Média, com a máscara que, carregando flores dentro do bico, imaginava estar protegido do contágio.

 

Pequena máscara "doctore" que comprei em Veneza.

O livro “Crônicas da Pandemia” foi lançado no dia 5 do corrente mês de julho de 2022, no salão nobre do 2º andar do Tribunal de Justiça do Paraná. Eu não compareci às solenidades do lançamento porque continuo em relativo isolamento, sem entrar em ambientes fechados e com muitas pessoas presentes. É a primeira vez que não compareço ao lançamento de livro meu em coautoria, mas é uma das formas de me proteger. Vale deixar o registro de que hoje, 27 de julho de 2022, quando escrevo estas linhas, eu soube de que no restaurante onde costumo almoçar quase diariamente na companhia de meu amigo Rubens, o garçon que está ausente há uma semana e que costuma nos atender às vezes na pesagem dos pratos, está em isolamento porque foi diagnosticado com covid. Os demais, como a moça do caixa, felizmente não foram contaminados. Aí está: a pandemia ainda não acabou e eu acho que todos temos a obrigação de nos protegermos da maneira que acharmos mais conveniente. 

Minha sobrinha e afilhada Dione Mara Souto da Rosa também participa da obra, na parte que conta com colaborações na forma de poemas.

 

 
Anita Zippin, presidenta da Academia de Letras José de Alencar - ALJA. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Anita Zippin entre Joatan Marcos de Carvalho, 1º vice-presidente da ALJA, e Alberto Vellozo Machado, prefaciador de Crônicas da Pandemia e organizador da obra. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Joatan Marcos de Carvalho, Anita Zippin (exibindo Crônicas da Pandemia) e Alberto Vellozo Machado. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
A plateia durante a solenidade. A acadêmica Dione Mara Souto da Rosa, uma das coautoras da obra, de blusa verde, é uma das poucas pessoas presentes a usar máscara de proteção contra a covid.  Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Luiz Fernando de Queiroz, proprietário da Editora Bonijuris, que graciosamente editou Crônicas da Pandemia. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
O acadêmico João Carlos Cascaes, diretor da ALJA, que na mesma ocasião lançou seu livro Ética & Envelhecimento. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

Ética e Envelhecimento, de João Carlos Cascaes, em lançamento simultâneo com Crônicas da Pandemia. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
O acadêmico João Carlos Bonat, autor das capas de Crônicas da Pandemia e Ética & Envelhecimento, ao lado de Anita Zippin, presidenta da ALJA. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

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“A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos”

 

Capa de Crônicas da Pandemia.

Ficha técnica do livro da Editora Bonijuris Ltda., de Luiz Fernando de Queiroz.

Páginas 18 e 19 da crônica de Francisco Souto Neto.

 

Páginas 20 e 21 da crônica de Francisco Souto Neto.

Relação dos participantes da obra, página 160.

 
Francisco Souto Neto, autor de A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos, em casa durante a pandemia. 

 
Zaribu e Zaribua no apartamento de cobertura do prédio situado atrás do meu. 

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terça-feira, 12 de julho de 2022

VESPASIANO, MEU PAI, de Nelly Barbosa Martins. Por Francisco Souto Neto.

 

LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

 

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VESPASIANO, MEU PAI

 

Capa de Vespasiano, meu pai (Centro Gráfico do Senado Federal – Junho 1989) de NELLY MARTINS.

 Capa e contracapa: fotografias de Vespasiano e Celina, pais de Nelly Martins. 

 
Autora Nelly Martins. Fotografia de Francisco Souto Neto em 1983, quando Nelly dirigia-se ao local onde o marido Wilson Barbosa Martins tomava posse como governador de Mato Grosso do Sul, tendo Ramez Tebet (pai de Simone Tebet) como seu vice.

 
Comendador Francisco Souto Neto

 

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A autora, Nelly Martins (1923-2003), prima de minha mãe Edith Barbosa Souto (1911-1997), era filha do médico Vespasiano Barbosa Martins (1889-1965), que foi governador do estado de Mato Grosso Uno, além de ter sido prefeito de Campo Grande por três vezes e senador da República em dois mandatos. Ela casou-se com um primo, Wilson Barbosa Martins (1917-2018), com o mesmo sobrenome do seu pai Vespasiano, que também teve uma carreira política de enorme importância, e foi governador de Mato Grosso do Sul durante dois mandatos, senador e deputado federal também por duas vezes, além de prefeito da então futura capital Campo Grande.

Isto significa que Nelly Martins foi filha de um governador, Vespasiano, e esposa de outro, o Wilson. Pode-se facilmente imaginar que Nelly teve uma vida admirável.  

No ano de 1964, nas minhas férias do Banestado, eu resolvi conhecer Brasília. Fiz a viagem desde Ponta Grossa, de ida e volta em ônibus. Na nova capital do Brasil , inaugurada há apenas 4 anos, visitei Wilson (que na época era deputado federal) e Nelly; em seu apartamento encontrava-se a filha Celina, uma jovem muito bonita que ao violão tocou e cantou “Guantanamera” para eu ouvir. Na mesma ocasião também me encontrei com Tio Valério (tio de minha mãe) que era médico no Senado Federal, e Tia Nadir, soprano, que fora cantora de ópera no Rio de Janeiro. 

Depois disso, voltei a ver Wilson e Nelly somente em 1983, quando Wilson foi eleito governador, e eu e minha mãe fomos à sua posse, na companhia de minha prima Terezinha Barbosa Macedo. O relato dessa viagem, com interessantes fotos, está no artigo abaixo, que escrevi quando Wilson Barbosa Martins completou 100 anos de idade, em 2017, referindo-me a ele e Nelly, e mencionando Vespasiano e alguns outros parentes, com fotografias interessantes que hoje devem ser de importância histórica. Naquele texto, conto também que quando da pandemia da Gripe Espanhola, minha mãe aos 7 anos em 1919, e seu pai (meu avô materno) foram contagiados pela doença. Meu avô não resistiu e faleceu. Minha mãe recebeu a atenção desvelada de Tio Vespasiano – seu tio-avô médico – que lhe deu assistência duas vezes ao dia, e sobreviveu graças a ele. Este é o link onde faço tais relatos:


http://fsoutone.blogspot.com/2017/06/os-100-anos-de-wilson-barbosa-martins.html


A casa paterna de Nelly era um palacete afastado da rua, em terreno que abrangia o quarteirão inteiro, entre arvoredos e jardins, no centro de Campo Grande. Em 1953 nós residimos na Av. Calógeras, a meia quadra da Av. Afonso Pena. O palacete de meu tio-bisavô, pai de Nelly, localizava-se na mesma Avenida Calógeras, no segundo quarteirão após a Afonso Pena. Eu estudava em meu 3º ano primário no Colégio Oswaldo Cruz, muito perto dali, localizado na atual Av. Fábio Zahran nº 5500, a não mais de uns 300 metros de minha casa. Naquele tempo, em frente ao colégio passava a linha férrea cujos trens de passageiros faziam a ligação Campo Grande – São Paulo. Então, tanto na ida quanto na volta do meu caminho para o colégio, eu passava ao lado do palacete de Tio Vespasiano e admirava a imponência da construção, que foi a primeira residência de alvenaria da cidade e que em 1953 já era uma vivenda antiga.


O palacete de Vespasiano Barbosa Martins. Encontrei na internet esta única referência à casa de meu tio-bisavô!

 
À direita, o antigo Colégio Oswaldo Cruz. A rua era muito mais larga e à esquerda da fotografia, onde há carros estacionados atrás de uma cerca aramada, estavam os trilhos da estrada de ferro, cujos trens ligavam Campo Grande a São Paulo (Foto da internet).


Fachada do Colégio Oswaldo Cruz (Foto da internet) 


Em seu livro “Vespasiano, meu pai”, Nelly lembra-se de como era sua casa:

 

Página 97.

Página 98.

 

No mesmo livro, um capítulo que mostra a um só tempo o refinamento da autora e seu senso de humor:

 

Página 89.

Página 90.

 

No ano inteiro de 1953 eu e minha família residimos em Campo Grande, onde meu pai Arary Souto organizou e inaugurou um jornal diário a convite de Wilson Martins, então prefeito. Algumas fotos daquele período:


Nosso bangalô de alvenaria na Av. Calógeras, a uns 50 metros da esquina com a Av. Afonso Pena, onde residimos em 1953. Na varanda, meu irmão Olímpio com seu cão basset Bopí, uma amiguinha cujo nome não me recordo, eu Francisco Souto Neto e um primo que não sei identificar. No portão, minha mãe Edith Barbosa Souto e meu primo Renato Barbosa de Rezende (filho de Alair), com uniforme do seu colégio. 

Na varanda de casa, meu irmão Olímpio com seu basset Bopí. Ao fundo, minha mãe e minha amiguinha debruçada no parapeito da varanda.

No dia 7 de setembro, eu desfilando quando aluno do Colégio Oswaldo Cruz.

 

Tio Vespasiano Barbosa Martins na rede, no quintal de sua casa.

Nelly foi uma pessoa de grande cultura e sensibilidade. Apesar de ter tido uma vida abastada, foi sempre muito simples. Quando seu marido Wilson foi prefeito e depois governador do Estado, Nelly pedia para não ser tratada por “primeira-dama”. Além de apegada às letras, Nelly era uma artista plástica de reconhecido talento.

Mantive uma interessante correspondência com Nelly durante muitos anos. Tenho guardadas algumas de suas cartas, e vou anexar somente duas delas. A primeira, de 1986, porque diz respeito à sua pintura; a segunda, de 1995, do tempo em que foi a primeira-dama de Mato Grosso do Sul.

 

Nelly Martins artista plástica

 

Em 1986 Nelly expôs em Campo Grande. Abaixo, o seu convite-catálogo com 8 páginas, que recebi anexo a um recorte de jornal e a algumas palavras dela:

 

 
O catálogo-convite.

 

O catálogo-convite.

 
O catálogo-convite.

 

O catálogo-convite.

 
O recorte de jornal que veio com o catálogo-convite refere-se a uma tia de Nelly, a também artista plástica Lydia Baís e à preservação de sua obra.



 
Acima, a mensagem de Nelly Macedo, de novembro de 1986, que veio anexa ao catálogo-convite, quando Wilson estava em campanha para senador – e, realmente, foi eleito.

 

Nelly Martins primeira-dama de Mato Grosso do Sul


 
Fotografia de Francisco Souto Neto em 1983, quando Nelly dirigia-se ao local onde o marido Wilson Barbosa Martins tomava posse como governador de Mato Grosso do Sul, tendo Ramez Tebet (pai de Simone Tebet) como seu vice.

Acima, após a posse do governador, a primeira-dama recebe suas parentes. Da esquerda para a direita: Nelly Martins, sua tia Nadir Martins, prima Nêmesis de Lima, cunhada Ruth Barbosa Martins, sogra Adelaide Barbosa Martins, e primas Edith Barbosa Souto e Naíde Martins. 

A mensagem abaixo foi escrita por Nelly Macedo em julho de 1995, quando ela era a primeira-dama da Mato Grosso do Sul. O Governador estava com 78 anos, a minha idade ao escrever este artigo. Ela relata que ela e Wilson estiveram em Nova York e Washington, onde Wilson “foi ao BID tentar conseguir um empréstimo para um Projeto Pantanal. Foi elogiado e parece que no próximo ano sai a negociação, considerando que foi, seu projeto, prioritário. Ficamos felizes”. Mais adiante, refere-se ao seu trabalho (do qual nada recebia, logicamente) na qualidade de primeira-dama do Estado: “Sou presidente (de fato) do órgão assistencial do governo. Trabalho muito, mas não recebo nada. Tenho 700 e tantos funcionários, 31 creches, 25 polos em bairros, 48 hortas comunitárias (em bairros), meninos de rua em vários programas especiais, promovo campanhas pró programas sociais (este mês um bingo de carro 0 km) e o mês que passou uma festa junina na praça por 8 dias, com 50 e tantas barracas, baile, quadrilhas, pesque infantil, jogos, uma loucura”. E após despedir-se, um post scriptum: “Meu trabalho se estende ao interior. Assinamos, este ano, 208 convênios. Nenhum município ficou de fora. É uma luta”.



 
Mensagem de Nelly Macedo de julho de 1995.

 

São apontamentos que poderão ser interessantes para a História de Mato Grosso do Sul e, por extensão, do Brasil.

 Nelly escreveu diversos outros livros, alguns dos quais são os que aparecem abaixo:



Capa de “Duas Vidas” de Nelly Macedo com dedicatória.


 
Capa de “Casos Reais” de Nelly Macedo com dedicatória.


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