domingo, 26 de abril de 2020

COMO É de Samuel Beckett com comentários de Francisco Souto Neto.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Capa de COMO É de SAMUEL BECKETT


Comendador Francisco Souto Neto


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COMO É (COMMENT C’EST) de SAMUEL BECKETT

Comentário por Francisco Souto Neto


Quem conhece Samuel Barclay Beckett certamente sabe que ele foi um dramaturgo e escritor irlandês, amplamente considerado como um dos escritores mais influentes do século XX. Fortemente inspirado por James Joyce, ele é considerado um dos últimos modernistas. Recebeu o Nobel de Literatura de 1969. Utiliza nas suas obras, traduzidas em mais de trinta línguas, uma riqueza metafórica imensa, privilegiando uma visão pessimista acerca do fenômeno humano.

No teatro, sua peça mais importante é Esperando Godot, um dos ícones do Teatro de Absurdo.

Por maior que seja a nossa estranheza ao ler COMO É, devemos ter em mente que em se tratando de um Nobel de Literatura, é preciso estar convicto de que se refere a uma obra séria, apesar de Beckett não usar letras maiúsculas ao início das frases, nem pontuação – não existem pontos, nem vírgulas, nada – e construir as frases de um  modo que foge à gramática e à própria lógica. No entanto, à medida em que avançamos nas páginas, vamos ganhando a compreensão daquilo que o autor pretende transmitir.

Saramago, outro grande escritor – um dos maiores do mundo – e também ganhador do Nobel de Literatura, igualmente vale-se de um modo revolucionário e inovador na construção das frases.

Página de abertura, com minhas impressões em 22 de agosto de 1977.

Esta é a primeira página de COMO É, com seus cinco primeiros parágrafos. Até à última página do livro, o estilo é o mesmo.

Algumas vezes indevidamente rendemo-nos ao riso, como no parágrafo grifado na página 48.


Sempre surpreendente como na página 65...

...e como relata a morte do pai na página 96.

E ainda como termina a obra, à página 178.

Numa das reuniões do Núcleo de Literatura e Cinema André Carneiro – NLCAC, cujas Oficinas Literárias são coordenadas por Valter Cardoso, meu amigo e também confrade na Academia de Letras José de Alencar - ALJA, levei este livro e li para os colegas vários dos seus parágrafos.

As reuniões de ambos os referidos centros literários citados foram interrompidas devido à pandemia que estamos vivendo no Brasil e no mundo inteiro no momento em que escrevo, a 26 de abril de 2020. Por isso, este blog que criei para contar histórias pessoais envolvendo livros da minha biblioteca, surge-me como um lenitivo para me ocupar enquanto durar esta prisão necessária, a que chamamos de “isolamento social”. É duro estarmos em nossas residências isolados do mundo exterior, entretanto esta é uma medida necessária. Isto nos dá imaginar o sentimento das famílias engolidas pela Peste Negra durante a Idade Média, tal como nos contam os livros de História e o filme “O Sétimo Selo”, do genial diretor sueco Ingmar Bergman. Quem diria que haveríamos de viver uma tragédia parecida? No nosso caso, o isolamento pode ser a diferença entre a vida e a morte.

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