LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
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Capa de COMO É de SAMUEL BECKETT
Comendador Francisco Souto Neto
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COMO É (COMMENT C’EST) de
SAMUEL BECKETT
Comentário por Francisco Souto Neto
Quem
conhece Samuel Barclay Beckett certamente sabe que ele foi um dramaturgo e
escritor irlandês, amplamente considerado como um dos escritores mais
influentes do século XX. Fortemente inspirado por James Joyce, ele é
considerado um dos últimos modernistas. Recebeu o Nobel de Literatura de
1969. Utiliza nas suas obras, traduzidas em mais de trinta línguas, uma riqueza
metafórica imensa, privilegiando uma visão pessimista acerca do fenômeno humano.
No
teatro, sua peça mais importante é Esperando Godot, um dos ícones do Teatro de
Absurdo.
Por
maior que seja a nossa estranheza ao ler COMO
É, devemos ter em mente que em se tratando de um Nobel de Literatura, é preciso
estar convicto de que se refere a uma obra séria, apesar de Beckett não usar
letras maiúsculas ao início das frases, nem pontuação – não existem pontos, nem
vírgulas, nada – e construir as frases de um
modo que foge à gramática e à própria lógica. No entanto, à medida em
que avançamos nas páginas, vamos ganhando a compreensão daquilo que o autor
pretende transmitir.
Saramago,
outro grande escritor – um dos maiores do mundo – e também ganhador do Nobel de
Literatura, igualmente vale-se de um modo revolucionário e inovador na
construção das frases.
Página de abertura, com minhas
impressões em 22 de agosto de 1977.
Esta é a primeira página de COMO É, com seus cinco primeiros
parágrafos. Até à última página do livro, o estilo é o mesmo.
Sempre surpreendente como na página
65...
...e como relata a morte do pai na
página 96.
E ainda como termina a obra, à
página 178.
Numa
das reuniões do Núcleo de Literatura e Cinema André Carneiro – NLCAC, cujas
Oficinas Literárias são coordenadas por Valter Cardoso, meu amigo e também confrade na
Academia de Letras José de Alencar - ALJA, levei este livro e li para os colegas
vários dos seus parágrafos.
As
reuniões de ambos os referidos centros literários citados foram interrompidas devido à pandemia
que estamos vivendo no Brasil e no mundo inteiro no momento em que escrevo, a
26 de abril de 2020. Por isso, este blog que criei para contar histórias
pessoais envolvendo livros da minha biblioteca, surge-me como um lenitivo para
me ocupar enquanto durar esta prisão necessária, a que chamamos de “isolamento
social”. É duro estarmos em nossas residências isolados do mundo exterior, entretanto
esta é uma medida necessária. Isto nos dá imaginar o sentimento das famílias
engolidas pela Peste Negra durante a Idade Média, tal como nos contam os livros
de História e o filme “O Sétimo Selo”, do genial diretor sueco Ingmar Bergman. Quem diria que haveríamos de viver uma tragédia parecida? No
nosso caso, o isolamento pode ser a diferença entre a vida e a morte.
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