LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
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Capa de VICE VERSOS de
Alice Ruiz
Comendador Francisco Souto Neto
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VICE VERSOS de ALICE RUIZ
por Francisco Souto Neto
Alice Ruiz
quando jovem
Lá pela metade da década de 80, ao voltar para casa,
encontrei uma moça muito bonita no portão do prédio onde eu morava na Rua
Marechal Hermes. De braços cruzados resignadamente, imóvel, era bela como uma
estrela de Hollywood. Cumprimentei-a, abri o portão eletrônico e perguntei-lhe
se poderia ajudá-la em alguma coisa. Muito cordial, disse-me que estava ali
para visitar uma moradora do prédio, Martha Schlemm, mas aquela sua amiga
certamente saíra e ainda não tinha retornado.
O tempo estava um pouco instável e ventava. Fiquei
preocupado. Disse à moça que a Martha era minha amiga e morava no apartamento
exatamente um andar abaixo do meu. Disse-lhe mais: que eu morava com minha mãe,
que estava em casa, e convidei-a a entrar porque assim, ao abrigo do meu apartamento, ela poderia esperar pela chegada da Martha, protegida da provável chuva. Ainda que um pouco reticente, ela aceitou o
convite.
Alguns meses antes eu
fizera uma fotografia da Martha, numa das visitas que dela recebi. Publico esta foto como homenagem a esta amiga que não vejo há décadas, irmã de dois grandes artistas plásticos: Elizabeth Bastos Dias Titton e Paulo Dias, ambos também meus amigos.
Subimos de elevador, ela sentou-se na sala, apresentei-lhe
minha mãe e ali ficamos conversando enquanto a Martha não chegava. E foi assim
que conheci Alice Ruiz. Bons tempos em que não existia a violência como hoje a
conhecemos, e as pessoas eram mais confiantes e confiáveis.
Alice parecia preocupada,
levantou-se, foi à sacada, voltou ao seu lugar. Minha mãe serviu um cafezinho à
visita que lhe era desconhecida. Mas Martha Schelmm não se atrasou demais, talvez uns 15
minutos. Como era um andar apenas, Alice desceu pela escada, após agradecer a
acolhida.
Alice era casada com o poeta, escritor, tradutor, crítico
literário e professor de História e de Redação Paulo Leminski (1944 - 1989). Ele também
escreveu letras de músicas de grande influência na MPB. Chegou a fazer
parcerias com Caetano Veloso, Moraes Moreira, Gal Costa e Gilberto Gil. Foi um
importante tradutor de obras literárias, pois falava seis línguas estrangeiras:
inglês, francês, grego, japonês, espanhol e latim. Ainda quando vivo, Leminski
já era considerado o mais importante e mais criativo poeta do Paraná.
O casal Paulo Leminski e
Alice Ruiz.
Alice Ruiz não lhe ficava atrás: era (e continua sendo)
também uma poetisa de extraordinária força e ousadia, haicaista – tal como
Leminski –, letrista, compositora, cantora com vários CDs gravados. Igualmente
uma pessoa de muita personalidade e notável cultura. Por isso tudo, o casal era
muito conhecido e apreciado. Alice publicou mais de 20 livros. Um deles, Vice Versos, foi lançado no fim da
década de 80 na Galeria de Arte Banestado, no tempo em que eu era Assessor da
Presidência do Banestado e também Assessor para Assuntos de Cultura da mesma
instituição.
Era uma noite quente de dezembro. Os lançamentos de livros
naquele espaço cultural aconteciam quando ali já estivesse em curso uma
exposição de artes plásticas inaugurada dias ou semanas antes. Minha
justificativa para o lançamento de livros em uma galeria de arte, era a de que
estaríamos fazendo uma ponte entre a pintura e a literatura. Assim, as pessoas
ligadas às letras, que iam ao lançamento de livros, desfrutavam de paredes com
quadros expostos que eram sempre da maior qualidade.
Naquela noite, lembro-me de que os convidados demoraram um
pouco para começar a chegar. Notei que Alice Ruiz estava preocupada, os braços cruzados, e
foi algumas vezes até à porta da galeria... mas logo as pessoas foram chegando e
fizeram fila para a aquisição do livro e a dedicatória da autora.
O livro Vice Versos de
Alice Ruiz, a dedicatória com autógrafo para Francisco Souto Neto e as páginas de abertura .
Infelizmente não tenho as fotografias da noite de autógrafos, todas feitas por Alice Varajão, mas apenas um recorte de jornal com duas fotos. Numa, Alice Ruiz está com Leila
Pugnaloni, e na outra entre mim e Sílvio Back.
À esquerda, Alice Ruiz com
Leila Pugnaloni. À direita, Alice entre Francisco Souto Neto e Sílvio Back. Devido
ao excesso de flash sobre as roupas brancas, Sílvio Back quase não aparece.
Tenho mais alguns livros de Alice Ruiz em minha biblioteca,
porém somente mais um que conta com dedicatória e autógrafo, que vou expor abaixo,
apenas por curiosidade:
Meus comentários aos versos de Alice Ruiz poderão ser lidos
na minha coluna Engenho & Arte de
11 de fevereiro de 1989, que estão no link abaixo da fotografia da referida
coluna:
Alice Ruiz atualmente, sempre
bela em todas as idades.
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