LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.
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Capa
de CONTO & POESIA
Comendador Francisco Souto Neto
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CONTO &
POESIA
ASSIM
ESCREVEM OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DO PARANÁ
Autoria: José Gil de
Almeida
Comentado por: Francisco Souto Neto
Conheci José Gil de Almeida entre as décadas de 70 e 80. Eu
era Assessor da diretoria – depois da presidência – do Banco do Estado do
Paraná - Banestado, em Curitiba, e Gil funcionário da Gerência Regional do
mesmo banco em Maringá. Assim, distante da diretoria do Banco, o jovem Gil
começou a ser notado por desenvolver grandes trabalhos naquela região norte do
Estado. Ele criou um jornal mensal para a sua Gerência Regional, abordando
assuntos diversos, mas com forte tendência às questões culturais. Após algumas
edições, todos percebíamos que aquela publicação era superior ao jornal oficial
da instituição bancária em Curitiba.
Certa ocasião, José Gil lançou naquele jornal um concurso de
poesias para estimular culturalmente os funcionários do Banestado. Eu
participei com um poema que foi classificado e publicado. Começava ali o nosso
intercâmbio e amizade.
Quando Gil deixou o Banestado, residindo já em Curitiba, fundou
um jornal intitulado, muito a propósito, Opção
Cultural. A partir daí, com a passagem dos anos, ele foi ampliando sua
atuação no jornalismo. Criou quatro “jornais de bairro” denominados Jornal Água
Verde, Folha do Batel, Jornal Centro Cívico e Jornal da Rua XV. Dois deles
foram vendidos, mas José Gil continua dirigindo e editando o primeiro e o
último mencionados.
Devo acrescentar que durante a ditadura militar, Gil
participou do Movimento Cineclubista de Maringá, com o objetivo de encontrar
acesso a importantes filmes que às vezes tinham sido premiados até em festivais
internacionais, mas que a censura brasileira proibia de ser exibidos nos
circuitos comerciais de cinema, e que podiam ser vistos somente em
universidades, em círculos culturais ou em grupos fechados de desobediência
civil às leis retrógradas.
Além disso, José Gil de Almeida escreveu e publicou um número
muito grande de livros. Convidou-me a prefaciar alguns deles, um dos quais é o
objeto deste artigo. Isto ocorreu no tempo em que José Gil era o assessor
parlamentar da deputada Amélia Hruschka e havia sido nomeado presidente do
Departamento Cultural da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Ele
idealizou um concurso de contos e poesias aberto não apenas aos funcionários
públicos, mas também aos das empresas de economia mista municipais, estaduais e
federais residentes no Paraná, com premiações de uma forma totalmente original:
em vez dos habituais prêmios em espécie, José Gil resolveu oferecer obras de
arte aos vencedores. A deputada Hruschka e seu assessor entraram em contato com
o presidente do Banestado, que era Carlos Antônio de Almeida Ferreira, um homem
muito sensível às causas de cultura, que autorizou ao banco a aquisição de
obras de arte para serem entregues aos vencedores do concurso.
Os trabalhos de julgamento e classificação foram feitos por
uma composição formada por ícones da cultura paranaense: Vasco José Taborda
(presidente da Academia Paranaense de Letras), deputado Nereu Massignan,
Fernando Kal (coordenador da Feira do Poeta da Fundação Cultural de Curitiba),
fotojornalista Alice Varajão, publicitário João Luiz Goebel, Míriam Regina
Pinto (diretora do Departamento Cultural da ASALEP) e pelo próprio Gil de
Almeida.
Os prêmios foram entregues em solenidade presidida pelo Gil,
no “Plenarinho” da Assembleia Legislativa. Na categoria “contos”, o 1º
classificado foi João Henrique do Amaral que escolheu uma tela de Everly
Giller. O 2º foi o cinéfilo Lélio Guimarães Sotto Maior Júnior, que escolheu
uma tela de Maurinho Gomes. Em 3º lugar classificou-se Regina Therezinha Andrade
Benítez (esposa do conhecido crítico de arte Aurélio Benítez) que escolheu uma
tela de Rubens Faria Gonçalves (artista revelado e premiado em 1983 pelo I SBAI
– Salão Banestado de Artistas Inéditos). Na categoria “poesias”, Carla Anete
Berwig ficou em 1º lugar, tendo escolhido uma tela de Tadashi Ikoma; em 2º
lugar, José Dinalberto de Oliveira, funcionário do Banestado, que optou por uma
obra de Antônio Rizzo; em 3º lugar ficou Estela Maria Arruda Munhoz, que ficou
com uma tela de Ronald Simon. O trabalho do artista plástico Edilson de
Carvalho Viriato (grande prêmio do VI SBAI) e uma escultura de Marcony Mendes,
ficaram para o acervo da Assembleia Legislativa.
No ano seguinte, 1990, José Gil de Almeida promoveu o 2º
concurso de Conto e Poesia, agora em nível nacional para funcionários públicos,
que mais uma vez agitou o cenário cultural. Como consequência do concurso, também
editou-se um livro com dez contos e poesias dos funcionários premiados, que receberam
obras de Celso Izidoro, Cida Sanches, Everly Giller, Domício Pedroso, Júlio
César Vieira, Maria de Lourdes Zanelatto e Rubens Faria Gonçalves. Também aqui
Gil convidou-me para prefaciar o livro.
Já transcorreram 30 anos dos eventos acima comentados. E José
Gil de Almeida continua forte, com seus jornais sempre muito apreciados, e com
saúde bastante para continuar promovendo cultura.
CONCURSO DE
1989
Capa de Conto & Poesia
(1989)
Prefácio de Francisco Souto
Neto (início)
Resultado final
Contracapa (4ª capa) de
José Gil de Almeida
CONCURSO DE 1990
Capa de Conto e Poesia
(1990)
Página de abertura
Prefácio de Francisco Souto
Neto (início)
Prefácio (final)
Resultado Oficial para Contos
Resultado Oficial para
Poesias
Contracapa (4ª capa) de
José Gil de Almeida
Em dezembro de 2019, José Gil de Almeida (à direita) recebido por Rubens Faria Gonçalves e Francisco Souto Neto.
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