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ALMANACH
HACHETTE 1908
Capa de ALMANACH HACHETTE
1908
Comendador Francisco Souto Neto
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ALMANACH HACHETTE 1908
por Francisco Souto Neto
Arary
Souto (1908 – 1963)
Meu pai Arary Souto (1908 – 1963) foi jornalista (diretor de
redação do Jornal do Paraná entre as décadas de 40 e 50) e radialista (fundador
e diretor da Rádio Central do Paraná entre as décadas de 50 e 60). Desde a
minha infância lembro-me de que livros, jornais e revistas eram uma constante
em minha casa.
Arary Souto quando jovem: um dândi.
Um desses livros é o Almanach Hachette, editado em Paris, o
mais importante almanaque mundial do começo do século XX. As bordas das páginas
são em ouro. A edição é de 1908, ano de nascimento de meu pai. Lembro-me de que
quando eu era pré-adolescente, descobri que esse almanaque continha informações
generalizadas sobre todos os países do mundo, com a relação das populações das
principais cidades de cada um deles. Eu gostava de comparar as populações das
principais cidades daquela época, 1908, com as brasileiras que eram atuais
naquela década de 50. Manias de criança...
A maior curiosidade desse exemplar é que nas suas páginas
iniciais, que contêm linhas em branco para anotações do leitor, há um
depoimento manuscrito do meu pai. Ele deixou ali registradas estas palavras:
1908 – Ano do meu
nascimento a 18 de abril.
A civilização aqui
ainda estava em evolução.
Hoje, dia 25 de julho
de 1943, em que a civilização está em seu apogeu, escrevo isto um tanto com
satisfação porque a guerra que se iniciou a 1º de setembro de 1939, hoje toma
novo aspecto em vista de ter Mussolini renunciado ao cargo de ministro, às 18
horas do dia 25 de julho de 1943.
O nosso sofrimento por
causa desta guerra é horrível, porém todos os brasileiros sofrem com uma
resignação extraordinária porque nossa causa terá que ser vencida por nós,
“aliados”. Nosso emblema é o V que quer dizer Vitória.
Como Encarregado Geral
do racionamento em Presidente Venceslau, cargo este que me impôs a guerra,
deixo aqui registrada minha satisfação pela nossa vitória que está bem próxima.
Ponta Grossa, 25 de
julho de 1943.
Arary Souto.
Exatamente 39 dias após meu pai ter escrito as palavras
acima, a 2 de setembro de 1943, eu viria ao mundo. Mas a vitória das forças
aliadas ainda demoraria exatos dois anos após meu nascimento. A II Guerra
Mundial terminou a 2 de setembro de 1945.
Como disse antes, na década de 50 eu me interessava em saber
quais eram as mais importantes cidades do Brasil. Eis a relação no Almanach
Hachette, com a grafia exatamente como consta no famoso almanaque francês:
·
Rio de
Janeiro....................................811.265 habitantes
·
Sao
Paulo..........................................332.000
·
Bahia ou San Salvador......................230.000
·
Recife................................................120.000
·
Para ou Belem...................................100.000
·
Ouro Preto......................................... 59.249
·
Céara [ou Fortaleza]......................... 40.902
·
Nictheroy........................................... 35.000
·
Therezina........................................... 31.523
·
São-Luiz.............................................. 32.000
·
Parahyba............................................ 32.000
·
Maceio............................................... 33.000
·
Desterro............................................. 30.687
·
Corityba.............................................. 25.000
·
Goyaz................................................. 17.181
·
Victoria............................................... 16.887
·
Aracaju............................................... 16.336
·
Natal................................................... 13.725
A esse tempo o Hachette registrou as populações maiores
cidades do mundo: Berlim: 2.040.148,
Viena: 1.674.957, Bruxelas:
198.311, Copenhague: 426.540, Madrí: 539.835,
Paris: (estranhamente não é informada), Londres: 4.684.794, Atenas:
111.486, Roma: (população também não informada), Lisboa: 356.009, São
Petersburgo: 1.429.090, Berna: 71.748, Estocolmo: 324.488,
Constantinopla [Istanbul]: 1.106.000, Cairo: 565.187; Nova York: 4.113.000 (a mais populosa cidade
do mundo), Buenos Aires: 1.046.517, La Paz: 78.510, Santiago; 334.538, México:
344.721, Assunção: 60.260, Lima: 130.000, Pequim: 500.000, Tóquio: 1.818.655,
Bangkok: 600.000, Sidnei: 518.570.
As seções do almanaque são nada menos do que fascinantes. Por
exemplo, as páginas que registram os dirigentes das nações do mundo. Os países
de menor importância, como o Brasil, não estão ali nem citados.
Várias páginas mostram os dirigentes dos países mais importantes do mundo. O Brasil não figura ali.
Impressionante são as páginas com as plantas das dezenas de
teatros de Paris. Eles mostram o layout interno de cada teatro e até as poltronas
numeradas da plateia e dos diversos balcões, para facilitar aos leitores a
escolha dos lugares...
O Hachette mostra, em várias páginas, as plantas dos teatros parisienses.
Enfim, um almanaque curiosíssimo com miríades de assuntos
abordados. Isso foi há 112 anos – quando meu pai nasceu.
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P.S.
Texto escrito hoje, 18 de abril de
2020, que seria aniversário de meu pai. 112 anos!
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