LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
Capa de O MINOTAURO, de Monteiro Lobato (Editora Brasiliense,
São Paulo, 1954)
Comendador Francisco Souto Neto
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O MINOTAURO, de Monteiro
Lobato
Comentário por Francisco Souto Neto
Em 2 de setembro de 1957, meu 13º aniversário, em Ponta Grossa, recebi
de presente de meu amigo Carlos Oswaldo Bevilacqua o livro O Minotauro, de Monteiro Lobato. Tínhamos em casa uns dois ou três
livros de Lobato, pertencentes a meu irmão mais velho, porém eu nunca tinha
lido algum deles. Contudo, senti curiosidade por aquele presente que se referia
ao Minotauro... e comecei a lê-lo. Aos poucos. Mas lembro-me de que a
história foi me envolvendo, e eu não somente li-o inteiro, como despertei para
conhecer os outros do que tínhamos em casa, do mesmo autor. Um deles pertencera a
Joaninha, uma prima de meu pai, que faleceu ainda menina; tenho-o guardado em
um dos armários fechados aqui onde resido (se não me engano, trata-se de Reinações de Narizinho).
Eu e Bevilacqua éramos colegas de escotismo, e tínhamos como chefe o Padre
Teóphilo. Nossas reuniões ocorriam numa casa antiga, na Praça Marechal Floriano
Peixoto – que conhecíamos como “a praça da Catedral” – a uns 100 metros de onde
eu residia, no nº 571 da Rua Augusto Ribas. Bevilacqua morava na Rua Frei
Caneca nº 513. Eu já era amigo de infância do saudoso João José Pinto Maia, e
colega desde o 1º ano ginasial de Eduardo Domingos de Souza, ambos residentes,
como eu, na Rua Augusto Ribas, embora em quarteirões diferentes. Com
Bevilacqua, formamos um quarteto e nos encontrávamos principalmente para
fazermos em conjunto as tarefas da escola.
Anos depois Bevilacqua mudou-se para Lavras, Minas Gerais, e perdemos
contato. Passaram-se décadas. No ano passado, arrumando livros nas estantes
abertas da minha biblioteca, encontrei O Minotauro. E fiquei imaginando o que
teria o meu amigo feito dessas décadas todas. Procurei-o no Facebook... e lá
estava ele nos dias atuais, com ótimo aspecto, ao lado da bela esposa Maria
Helena.
Por essas e outras, vivo dizendo que eu, quando menino, imaginava que ao
início do século XXI o homem já estaria fazendo viagens de turismo para a Lua e
Marte. Entretanto, seriam outros os avanços da tecnologia que o futuro nos
reservava, um deles a incrível internet,
que é algo mais surpreendente do que viagens interplanetárias.
Bem, e certa ocasião, num cruzeiro pelo Mar Egeu, vi-me na Ilha de
Creta, entrando em Knossos, no próprio Labirinto do Rei Minos, da extinta e
avançadíssima civilização minoica, um país que não tinha exércitos e que
cultuava a beleza, onde as pessoas de ambos os sexos precisavam ter “cintura de
vespa” e as mulheres usavam roupas sofisticadas, com o detalhe de que os seios
ficavam nus, expostos cotidianamente – desde a rainha às mulheres de todo o
reino. O esporte praticado em Knossos era a tauromaquia.
Nessa época, Atenas era uma simples vila, colônia de Knossos. Na Europa ocidental os povos viviam ainda ao abrigo de cavernas. A civilização minoica foi destruída por um acontecimento cataclísmico, que foi a erupção do vulcão de Santorini. Um terremoto seguido de maremoto (tsunami) destruiu Creta e atrasou o avanço civilizador do planeta em alguns milênios. Se Knossos não tivesse desaparecido, o ano de 2020 seria muito diferente e talvez a Humanidade já estivesse fazendo viagens interplanetárias de exploração e turismo...
Planta do Labirinto de Creta (Palácio de Knossos).
Princesa minoica e dois servos.
A Grande Deusa minoica.
A tauromaquia: jovens saltando sobre o touro.
Indumentária de homens e mulheres minoicos.
Nessa época, Atenas era uma simples vila, colônia de Knossos. Na Europa ocidental os povos viviam ainda ao abrigo de cavernas. A civilização minoica foi destruída por um acontecimento cataclísmico, que foi a erupção do vulcão de Santorini. Um terremoto seguido de maremoto (tsunami) destruiu Creta e atrasou o avanço civilizador do planeta em alguns milênios. Se Knossos não tivesse desaparecido, o ano de 2020 seria muito diferente e talvez a Humanidade já estivesse fazendo viagens interplanetárias de exploração e turismo...
Detalhe do Palácio de Knossos restaurado.
Francisco Souto Neto numa das entradas do Labirinto de Creta.
Trono do rei minoico.
Pintura numa ânfora de Teseu matando o Minotauro.
Estátua em mármore de Teseu matando o Minotauro.
Nossa guia em Knossos, disse-nos solene: “E agora não se afastem de mim,
porque vamos entrar no Labirinto de Creta”. O palácio minoico era vasto,
intrincado, labiríntico... daí o seu nome. A certa altura, a guia, muito espirituosa,
brincava “séria” com o grupo no momento em que passamos por um grande salão vazio, silencioso e com luz natural muito tênue, atrás de uma parede gradeada e com uma porta que estava fechada, mas era também vazada, isto é, em forma de grade. Disse ela: “Há quem afirme que aqui era o quarto do Minotauro”. Deixei
que a excursão se afastasse um pouco – só um pouco – e fiquei por uns instantes
sozinho naquele lugar estranho, quando então pareceu-me ouvir um mugido distante...
não, não era o Minotauro, mas o vento encanado no palácio do Rei Minos.
Um dos artigos de Souto Neto em jornal: "Creta, Labirinto e Minotauro".
O artigo sobre Knossos e o Labirinto de Creta poderá ser lido neste link:
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