LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
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Capa do livro Memórias
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Comendador Francisco Souto Neto
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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis
Comentário por Francisco Souto Neto
As duas pessoas que mais me presentearam com livros foram meus amigos
Rubens Faria Gonçalves e a saudosa Marléne Sant’Anna Granville Urban. Quando
adolescente, costumava ler os livros “da moda”, que eram os autores Jean-Paul
Sartre e Hermann Hesse. Mas também Freud, talvez para imitar meu irmão Olímpio quase
10 anos mais velho do que eu. Depois de Freud interessei-me por Jung. Na
poesia, eu tinha descoberto Vinícius de Moraes, que estava “na crista da onda”.
Contudo eu parecia demonstrar interesse menor pelos autores clássicos
brasileiros.
Por incrível que pareça, eu nunca tinha lido Machado de Assis, cujo nome completo era Joaquim Maria Machado de Assis (1839 - 1908). Então, em
maio de 1976, ganhei de Rubens Gonçalves Memórias
Póstumas de Brás Cubas. Naquela época, funcionário de carreira do Banestado
– o Banco do Estado do Paraná – eu era inspetor, cargo este que conquistei através
de concurso interno.
Ontem, folheando o meu exemplar, notei, pela dedicatória, que o recebi
de Rubens Gonçalves em maio de 1976. Na última página do livro, consta a minha
anotação que diz: “No apartamento do
Hotel Globo, Cianorte, nesta noite de 11/8/1976, onde aprendia gostar de um
clássico de nossa Literatura”. É que eu me encontrava em Cianorte, no
interior do Paraná, num trabalho de inspeção na agência do Banestado. Nas
minhas viagens a trabalho, eu sempre levava livros para ler à noite, no hotel
onde me encontrasse hospedado.
Lembro-me de que este livro de Machado de Assis me impressionou muito
pela originalidade: a narração é feita por um homem morto, um defunto, que
resolve escrever as suas memórias. Publicado em 1881, o livro aborda as
experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás
Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do seu próprio enterro, dos
delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue
de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos
do narrador. Memórias Póstumas de Brás Cubas é um dos mais celebrados romances da história
da literatura brasileira.
Mais tarde passei a me interessar muito mais pelo autor, até descobrir
que ele conheceu meu trisavô, o Visconde de Souto, a quem se referiu em dois
livros, e várias vezes em artigos publicados em jornal do Rio de Janeiro,
capital do império, na década de 1880. A extensa obra de Machado de Assis constitui-se de dez romances,
duzentos contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e
mais de seiscentas crônicas. É considerado por muitos críticos, estudiosos,
escritores e leitores, um dos maiores senão o maior nome da literatura
brasileira.
Devo salientar que dei um exemplar deste livro à minha sobrinha Rossana, para induzi-la à leitura de um dos romances mais lidos e elogiados da história de nossa literatura.
Devo salientar que dei um exemplar deste livro à minha sobrinha Rossana, para induzi-la à leitura de um dos romances mais lidos e elogiados da história de nossa literatura.
Abertura do livro com dedicatória de Rubens Faria
Gonçalves.
Introito ao romance.
Minha anotação em 1976, ao término da leitura.
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É muito bom saber que você leu, fez anotações e converva até hoje o livro.
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