LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
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Capa de MEMÓRIAS DE ADRIANO,
de MARGUERITE YOURCENAR.
Comendador Francisco Souto Neto
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MEMÓRIAS DE ADRIANO, de Marguerite Yourcenar
Comentário por Francisco Souto Neto
As duas pessoas que mais me presentearam com livros durante toda a vida,
foram Marléne Sant’Anna Granville Urban (1936-2017) e Rubens Faria Gonçalves.
Marlene Sant’Anna em minha casa em 2003, segurando
o meu chihuahua Paco Ramirez, nascido naquele ano.
Lembro-me da querida e saudosa Marléne Ribeiro da Silva Sant’Anna
(Granville Urban após o casamento) desde a minha infância mais remota. Ela era
amiga de meu irmão Olímpio e tinha dois anos a menos que ele, e sete a mais do
que eu. Era uma jovem linda, exuberante, alegre, muito culta, de família
tradicional ponta-grossense. O pai, Sr. Ricardo Sant’Anna, era o dono do
cartório local. Com a passagem do tempo, ela tornou-se muito amiga de minha mãe
– isto é, de meus pais – e da minha irmã Ivone. Eu, antes mesmo da
minha adolescência, já me sentia amigo de Marléne. Posso afirmar que com a
passagem dos anos e das décadas – tanto ela quanto eu já idosos – tive-a como
uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Marléne era pródiga em atenções para conosco, como o era também em
relação a todas as suas amizades. E presenteava-me com livros sempre muito
interessantes: ou alguns que estivessem entre os mais comentados no país, ou
outros que representassem muita originalidade por parte dos autores, ou
biografias. Naquele tempo era hábito fazer-se dedicatórias nos livros
presenteados, porém Marléne desistiu delas por volta do começo do corrente
século. É que ela comprava três, quatro, cinco livros de cada vez para mim, e assim
passaram a ser tão numerosos que já não caberia escrever tantas dedicatórias.
Escolhi para figurar nestes meus comentários Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, um livro
interessantíssimo. Marléne sabia do meu interesse pela História do Império
Romano e tinha conhecimento também de que todas as vezes em que estive em Roma,
passei tardes inteiras verificando minuciosamente as ruínas do Foro Romano e do
Palatino, e identificando, fotografando e filmando aqueles lugares. Sobre o
imperador Adriano eu sabia não muito mais além do que se aprende nas lições de
História no colégio. Assim, com este livro, tive a oportunidade de lapidar meus
conhecimentos a respeito da História Romana.
Primeira página do livro.
A dedicatória de Marléne.
Minha anotação (com caneta verde) do dia em que
terminei a leitura.
A querida Marléne nos deixou no dia seguinte ao Natal de 2017. Suas
filhas pediram-me para escrever algo para a lembrança de sua missa de 30º dia
do falecimento. Por uns momentos pensei que não teria palavras para dizer da
imensa ausência e no vazio que se formou após sua partida. Como escrever sobre
a mais querida das amigas, que para nós sempre foi uma pessoa da família? No meu texto resolvi ater-me ao seu amor e
respeito pela Natureza e pelos animais... e ao seu exemplo de amizade, de
generosidade, de empatia e de profundo humanismo. Mas que falta ela nos faz!
Suas cinzas, a seu pedido, foram espargidas nas raízes de sua árvore predileta, a mais frondosa e bela dos extensos e maravilhosos jardins de sua casa.
Suas cinzas, a seu pedido, foram espargidas nas raízes de sua árvore predileta, a mais frondosa e bela dos extensos e maravilhosos jardins de sua casa.
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Marléne eterna! Letra e caráter inconfundíveis. Sorriso arrebatador. Inesquecível. Texto maravilhoso!
ResponderExcluirSim, eterna em nossos corações, ao lado da Mamãe, da Ivone e Dulci.
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