segunda-feira, 20 de julho de 2020

SCLIAR na Galeria de Arte André, São Paulo. Comentário por Francisco Souto Neto.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Capa de SCLIAR na Galeria de Arte André


Comendador Francisco Souto Neto

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SCLIAR na Galeria de Arte André


Carlos Scliar


“Descobri” Carlos Scliar (1920-2001) em 1970, ocasião em que eu estava em férias no Rio de Janeiro, quando ocorria uma grande retrospectiva do pintor no Museu de Arte Moderna. Há meio século, muito antes da invenção da internet, os meios de comunicação eram precários. Eu já ouvira dizer que se tratava de um importante artista plástico, talvez tivesse visto algum trabalho seu estampado nas revistas O Cruzeiro, Manchete ou Fatos & Fotos, com paisagens ou natureza morta, mas nada sabia sobre a extensão obra do pintor.

No MAM do Rio vi que a retrospectiva incluía pinturas de retratos de crianças e adolescentes feitas no começo da carreira de Scliar, e esses retratos impressionaram-me profundamente. Era como se ele houvesse captado a alma de seus retratados naquela fase de inocência e pureza.

Depois de ter apreciado a exposição em sua totalidade, tive vontade de adquirir algum trabalho de Scliar, que já utilizava a técnica de vinil encerado sobre tela. Graças às marchands de tableaux Ida e Anita, que me deram seu endereço, com ele mantive uma amizade epistolar durante anos. Bem a propósito, foi na galeria daquelas senhoras que, no ano de 1981 – há quase 40 anos – comprei uma linda tela do artista.

Carlos Scliar – Vinil encerado sobre tela – 1981. Coleção Francisco Souto Neto.

Scliar me enviava cartões natalinos pintados por ele mesmo. Tais cartões eram verdadeiras obras de arte assinadas e com dedicatória, que recebi do artista desde os anos 80 até meados da década de 90. Diversos deles eu coloquei em molduras, outros guardei com minhas coleções de cartões de Natal que eu e minha mãe recebíamos, às centenas, de amigos.

Cartão de Natal (este de 1983) enviado por Carlos Scliar para Francisco Souto Neto.

No Natal de 1983, em vez de me enviar apenas um desenho como fazia habitualmente, mandou-me também um catálogo de sua exposição na Galeria André, em São Paulo. Um catálogo com aspecto de livro, de grandes dimensões (22 x 26cm), que não cabe no scanner para reproduzi-lo neste blog. Por isso, fotografei-o para aqui exibir algumas das suas páginas. Em papel couché, ele está em minha biblioteca porque é um verdadeiro livro de arte.

Naquela exposição da Galeria André, Scliar mostrou as gravuras ao lado das pinturas que lhe deram origem. No livro, de maneira muito didática, exibiu as serigrafias (às vezes com o planejamento para a aplicação de cores e tons) e as pinturas em vinil encerado sobre tela.

Eu gostaria de rever alguma das pinturas de adolescentes feitas por Scliar lá pela década de 40 ou 50, mas não encontrei nas pesquisas de Google, nenhum daqueles retratos feitos por ele. Devem estar bem guardados em coleções particulares, infelizmente não compartilhados na internet. Mas no livro, isto é, no catálogo que dele recebi em 1983, há um desenho de um jovem, datado de 1943, que reproduzirei abaixo, ao lado de pinturas e gravuras.

 Capa do catálogo (ou do livro, como o considero).

Na abertura do livro-catálogo, a dedicatória de Scliar para F. Souto Neto.

Em 1983, Scliar escreve sobre a sua arte. 

 À esquerda, um estudo sobre as cores e tons a serem executados nas duas técnicas vistas na página à direita. Acima, o vinil encerado sobre tela, uma obra única. Abaixo, a serigrafia com o mesmo motivo da tela, sobre papel, numerada em geral de 1 a 100.

Exemplos de pintura e serigrafia. 

 Exemplos de pintura e serigrafia.

 Exemplos de pintura e serigrafia.
 Exemplos de pintura e serigrafia.

 Exemplos de pintura e serigrafia.

 Exemplos de pintura e serigrafia.

 Exemplos de pintura e serigrafia.

 Exemplos de pintura e serigrafia.

 Exemplos de pintura e serigrafia.

Um dos retratos de jovens em desenho (1943).

Em setembro de 1996, quando Scliar fez uma exposição na Casa de Pedra, como é popularmente conhecida a Simões de Assis Galeria de Arte, em Curitiba, ali estive para ver seus trabalhos recentes e, que surpresa, lá se encontrava Scliar sentado, conversando com Waldir, proprietário da galeria, e amigos.

A Casa de Pedra (Simões de Assis Galeria de Arte) fotografada do alto por Francisco Souto Neto em julho de 2020, localizada à Alameda Dom Pedro II nº 155, esquina com a Alameda Presidente Taunay.    

Foi a oportunidade que tive para sentar-me e conversar longamente com o artista. Lembrei-lhe da sua retrospectiva no MAM do Rio de Janeiro em 1970, que tanto me impressionara, e conversamos sobre as suas diversas – e cronológicas – fases na pintura. Na época eu as sabia de memória, porém hoje já não me recordo com precisão. Contou-me ele que deixou de enviar cartões de Natal com desenhos originais para os amigos mais especiais, porque esse trabalho tornara-se demasiado extenso e cansativo, e então resolveu, nos últimos anos, expedir aos amigos cartões natalinos impressos. Scliar era jovial, simples, agradável. Ele estava com 64 anos.

Comemora-se o centenário de Carlos Scliar neste ano de 2020. É incrível pensar que o amigo estaria com cem anos. Como tudo passa depressa, como fluem as vidas e se extinguem num átimo de tempo! Tudo é fugaz, mais ainda neste estranho ano em que uma pandemia permeia o planeta ceifando milhares de vidas diariamente. Que pena que sejamos todos tão efêmeros. Só a arte é perene.

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Em 1996, quando Scliar realizou a exposição na Galeria de Arte Simões de Assis em Curitiba, escrevi um artigo e publiquei em minha coluna em jornal. Quem se interessar em ver ou ler, basta clicar o seguinte link: 


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