segunda-feira, 13 de julho de 2020

À MESA DO JANTAR, de Laurita Mourão. Comentários de Francisco Souto Neto.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Capa de À MESA DO JANTAR, de Laurita Mourão.

 
Comendador Francisco Souto Neto

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À MESA DO JANTAR, de Laurita Mourão

 
A autora Laurita Mourão


Este livro tem uma história bem curiosa. Lançado em 1979, fez muito sucesso e foi amplamente comentado, porque Laurita Mourão era uma socialite, por alguns considerada meio doidivanas, e era filha do general Olímpio Mourão Filho, que quando ainda como capitão, forjou o Plano Cohen que possibilitou a Getúlio Vargas instaurar a ditadura do Estado Novo; ele, Mourão, criou uma falsa invasão judaico-comunista no Brasil, e Vargas, aproveitando-se do pânico instaurado, impôs ao exército um cerco ao Congresso Nacional e como consequência tornou-se ditador. Anos mais tarde, no golpe militar de 1964, Mourão voltou a interferir na política nacional: ele foi o primeiro dos generais “a pôr suas tropas nas ruas”. São histórias nada exemplares.

Em 1979, lançamento do livro, embora o Brasil estivesse ainda no período da ditadura militar, o presidente era o general João Figueiredo, que seria forçado a promover a redemocratização do país. Vivíamos na perspectiva de novos tempos. Além disso, o general Mourão tinha morrido há anos, em 1972. Assim, Laurita sentia-se livre para escrever à vontade, certa de que não haveria censuras nem oficiais, nem pessoais, ao seu projeto literário.


Laurita Mourão.

O livro foi por muitos taxado de fútil, como se se tratasse nada mais do que uma simples veleidade de uma dondoca. Mas eu descobriria que não era assim. Comprei o livro em 1981, já na sua 4ª edição, porque soube pelo meu irmão que ele e minha cunhada eram amigos de Laurita Mourão. Tal como eles, Laurita Mourão também residia em Nova York.

Através de nosso contato epistolar, meu irmão passou a contar-me detalhes da personalidade da amiga, a quem definia como “uma pessoa inteligente, divertida, irreverente, culta e engraçada, uma companhia adorável”. Fiquei curioso e comprei À Mesa do Jantar.

 Laurita Mourão em sua residência. Meu irmão está à direita da foto.



Meu irmão e cunhada convidam Laurita Mourão à sua casa. Passaram a frequentar-se. Na foto: Laurita com meu irmão e sua esposa (Olímpio e Aparecida).


 A meus olhos, Laurita me pareceu muito bonita e elegante.


 Capa de “À mesa do jantar”.


Primeira orelha.

 Na página de abertura, eu anotei: “Para conhecer a intrigante amiga do Olímpio. Curitiguetá [?], junho de 1981".

Segunda orelha.

Contracapa (ou 4ª capa).

Já nas primeiras páginas gostei dos assuntos abordados por Laurita e da maneira como ela os narra. O livro está inteiramente cheio de grifos e anotações minhas. Vou anexar apenas algumas páginas, é claro, apenas para que se tenha uma ideia do livro, delicioso para ser lido.

 Já ao início, gostei do conteúdo e do estilo.



Irreverente e engraçada!


 Sempre tive vontade de ir a Cadaqués, na Espanha, cidade onde viveu e morreu Salvador Dalí, e conhecer sua casa hoje transformada em museu. Pois Laurita comprou uma casa em Cadaqués.

 À medida em que eu avançava na leitura, ia gostando do livro cada vez mais.

 Gostei de saber que Laurita critica a ditadura de Franco e quero comentar que, nos idos da censura brasileira durante a ditadura militar, eu também me senti indignado com os filmes de Ingmar Bergman desfigurados com os cortes da censura.

 Bem interessante o primeiro encontro de Laurita com Salvador Dalí e Gala.

 Muito divertido outro encontro de Laurita com Salvador Dalí em Cadaqués.

 Quando estive pela primeira vez em Londres, em 1980, e fiquei hospedado com minha querida amiga Kimie Kon no apartamento tríplex de Mrs. Doussa Hazlerig, na 51 South Street, aconteceu algo bem parecido com o narrado por Laurita, mas isto já é outra história.

Quanto mais eu avançava, mais gostava do livro, tal como anotei na página acima, no dia 20.7.1981.

Gostei da frase grifada...


...e na página 295 cheguei ao fim do livro, divertido e encantado com a personalidade da interessante Laurita Mourão, de quem meu irmão e sua esposa foram amigos.

Hoje, dia 13 de julho de 2020, procurei por informações na internet e encontrei uma interessante entrevista que Laurita Mourão concedeu a Marta Serrat. Nascida em 1926, está com 94 anos, mas continua interessante e elegante como sempre foi.


Laurita Mourão na atualidade.

 
Laurita Mourão concedendo uma entrevista a Marta Serrat.

 Na chamada para a reportagem, na internet, Laurita Mourão indaga, sempre irreverente, sobre seu pai, o general Mourão: “Será que ele foi para o céu ou está no inferno?"

 Filha do general Mourão: "Será que ele foi para o céu ou está no inferno?"

Ao final da entrevista, Laurita com Marta Serrat.

 
A gravação, de cerca de uma hora, encontra-se no YouTube, e termina com Laurita Mourão ao piano, acompanhando a jornalista Marta Serrat, que canta.


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