domingo, 12 de julho de 2020

O DESPERTAR DOS MÁGICOS, de Louis Pauwels e Jacques Bergier. Por Francisco Souto Neto.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Capa de O DESPERTAR DOS MÁGICOS, de Louis Pauwels e Jacques Bergier.

Comendador Francisco Souto Neto

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O DESPERTAR DOS MÁGICOS, de Louis Pauwels e Jacques Bergier.

Os autores Louis Pauwels e Jacques Bergier.


Desde o ano de 1970 – há justo meio século! – o livro O DESPERTAR DOS MÁGICOS fazia grande sucesso e era um dos dez mais lidos no Brasil. Desde seu lançamento na França em 1960, Le Matin des Magiciens teve grande êxito e foi traduzido para inúmeros idiomas. Comprei meu exemplar em 1971, já na 6ª edição em português, pela Difusão Europeia do Livro, então apresentado como uma introdução ao realismo fantástico na literatura.

Eu tinha 28 anos ao ler este livro. Logo ao início, os autores fizeram uma citação do antropólogo americano Loren Eiseley que me impressionou muito pela beleza contida no seguinte texto:

“Descobrir outro mundo. não é apenas um fato imaginário. Pode acontecer aos homens. Aos animais também.
Por vezes, as fronteiras resvalam ou interpenetram-se: basta estar presente nesse momento. Vi o fato acontecer a um corvo. Esse corvo é meu vizinho: nunca lhe fiz mal algum, mas ele tem o cuidado de se conservar no cimo das árvores, de voar alto e de evitar a humanidade. O seu mundo principia onde a minha vista acaba. Ora, uma manhã, os nossos campos estavam mergulhados num nevoeiro extraordinariamente espesso, e eu dirigia-me às apalpadelas para a estação.

Bruscamente, à altura dos meus olhos, surgiram duas asas negras, imensas, precedidas por um bico gigantesco, e tudo isto passou como um raio, soltando um grito de terror tal que eu faço votos para que nunca mais ouça coisa semelhante. Esse grito perseguiu-me durante toda a tarde. Cheguei a consultar o espelho, perguntando a mim próprio o que teria eu de tão revoltante...
Acabei por perceber. A fronteira entre os nossos dois mundos resvalara, devido ao nevoeiro. Aquele corvo, que supunha voar à altitude habitual, vira de súbito um espetáculo espantoso, contrário, para ele, às leis da natureza. Vira um homem caminhar no espaço, no centro do mundo dos corvos. Deparara com a manifestação de estranheza mais completa que um corvo pode conceber: um homem voador...
Agora, quando me vê, lá do alto, solta pequenos gritos, e reconheço nesses gritos a incerteza de um espírito cujo universo foi abalado. Já não é, nunca mais será como os outros corvos...”.

De um livro que li há 50 anos não poderia mesmo me recordar muito além do belo texto acima. Nos primeiros dias deste mês de julho de 2020 (quando o planeta enfrenta uma epidemia jamais por mim imaginada), reli alguns trechos da obra e recordei-me de que em princípio o livro parece apresentar uma narrativa da realidade, porém aos poucos o leitor vai percebendo tratar-se da exploração de “áreas de conhecimento pouco explorado, nas fronteiras entre a da ciência e da tradição”.

Naquela época eu estava muito interessado em antigas civilizações, pois alguns anos antes viajara pela Cordilheira dos Andes pesquisando as civilizações incaicas e pré-incaicas, e o livro referia-se, a certa altura, a este tema. Mas abrangia também a alquimia, os estranhos e inexplicados fenômenos, as ciências ocultas, e até extraterrestres e a ficção científica.

Hoje eu já não encontraria o mesmo encantamento na leitura deste livro. É que nos encontrávamos, naquela época, em pleno ano pós-Woodstock, quando se falava só em “Era de Aquarius”, e o mundo parecia rumar para um tempo de paz e beleza. Ledo engano. Tenho algumas fotografias da época, que mostram uma espécie de desprendimento, de encantamento... talvez porque todos fôssemos jovens e acreditávamo-nos eternos.

 FOTO 1 – Francisco Souto Neto em 1971 com uma escultura em madeira feita por ele mesmo, com base no Monólito Ponce Estela 8, que viu numa viagem a Tiahuanaco, interior da Bolívia, um sítio arqueológico pré-colombiano próximo às margens do Lago Titicaca.

 FOTO 2 – Francisco Souto Neto em 1971.

 FOTO 3 – 1971: Francisco Souto Neto em sua residência com seu primo Luis Antonio Bitencourt Emílio.

 FOTO 4 – Luis Antonio “Shiva”, foto de seu primo Francisco Souto Neto. Um tempo de fotografias experimentais em 1971.

FOTO 5 – Francisco Souto Neto “com ele mesmo” em 1971, um tempo de fotos experimentais. O truque fotográfico foi realizado artesanalmente pelo próprio Souto.


Familiares


FOTO 6 – Edith Barbosa Souto, mãe de Francisco Souto Neto, em 1971.

FOTO 7 – Edith Barbosa Souto observando a abertura da flor hata, ou dama da noite. 

 FOTO 8 – A irmã Ivone Souto da Rosa com o marido Dulci Col da Rosa, e as filhas do casal: Dione Mara Souto da Rosa e Rossana Souto da Rosa.


 FOTO 9 – O irmão Olímpio Souto em Nova York, com a estranha roupa que era comum há meio século, em seu apartamento, ao lado de um Picasso por ele adquirido.


FOTO 10 – Maria Aparecida D’Elboux Moreira Souto, esposa de Olímpio, com os três chihuahuas do casal.


Meu exemplar O Despertar dos Mágicos viajou bastante. Emprestei-o através dos Correios a um amigo, Chico Lopes, que residia no interior de São Paulo. Após lê-lo, passou-o para Pedro Romualdo que, depois de lê-lo, devolveu-o para mim pelos Correios.

Fotos do livro
 FOTO 11 – Capa de Despertar dos Mágicos.


 FOTO 12 – Lombada do livro.


 FOTO 13 – Quarta capa (ou contracapa) do livro.


FOTO 14 – Página de abertura. O desenho foi feito por Chico Lopes.

 FOTO 15 – Colagem que fiz no dia 1º de janeiro de 1972.


 FOTO 16 – Páginas 20 e 21, com o belo texto de Loren Eiseley.


FOTO 17 – Abri aleatoriamente algumas páginas do livro, cheio de anotações que fiz durante a leitura, maior parte delas sem qualquer importância. É que eu costuma – e costumo –  ler com uma caneta à mão para ir anotando quaisquer impressões e para  corrigir os erros da diagramação, ou do autor, ou do tradutor.

FOTO 18 – “Frequentes” era com trema na ortografia vigente na época, mas sem circunflexo.


 FOTO 19 – Ao ler o livro, eu já conhecia Tiahuanaco, no interior da Bolívia, daí a foto nº 1 que ilustra este artigo.


FOTO 20 – Ainda sobre o altiplano de Bolívia e Peru.

 FOTO 21 – Sem dúvida, fui encontrando disparates... e exageros.

FOTO 22 – A data em que terminei a leitura: 19.2.1972.


FOTO 23 – Na última página, anotei que no dia 25.2.1972 enviei uma carta à tradutora do livro, Gina de Freitas, com a lista das correções e algumas sugestões. Escrevi para dezenas de autores e de tradutores apontando erros com o propósio de que as próximas edições pudessem ser impressas corretamente... mas jamais recebi alguma resposta ou agradecimento. Observem-se duas anotações: uma em 1º.10.1972, de Chico Lopes, e outra em 14.10.1972, de Pedro Romualdo. Inadvertidamente, deixei nesta última página um adesivo autocolante que grudou parcialmente nas palavras escritas, estragando-as um pouco ao ser retirado décadas depois. Ainda assim, fica preservada a lembrança dos amigos que puderem usufruir da leitura.

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