LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode
conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar
pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter
sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por
ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog
pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados
exemplares da minha biblioteca.
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Capas de ASPAS, PARÊNTESES E RETICÊNCIAS e A PRINCESA E EU, de Lourdes Rocha Strozzi
Comendador Francisco Souto Neto
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ASPAS,
PARÊNTESES E RETICÊNCIAS
e
A PRINCESA E EU,
de Lourdes Rocha Strozzi
Lourdes Rocha Strozzi (1922-2005)
As
amigas de minha mãe, durante minha infância e adolescência
Lourdes Rocha foi uma figura de importância na minha vida. No período em
que, em Ponta Grossa, moramos na Rua Visconde de Nacar – entre 1948 e 1952 –
ela foi nossa vizinha. Creio que era recém-casada com Jayme Srozzi e penso, mas
não posso afirmar, que durante esse tempo nasceram seus filhos João Bosco e
Maria do Carmo. Tornou-se muito amiga de minha mãe. Aliás, era um quarteto de
amigas: minha mãe Edith Barbosa Souto, Noemi Carriel (mais tarde Copacheski)
que tinha o apelido carinhoso de Mimi, Lia Pinto Hilgenberg e Lourdes Rocha
tornada Strozzi pelo casamento. Não sei o porquê, mas nós a chamávamos de
Lourdes Rocha, como se o Strozzi do marido fosse recente demais e ainda não tivéssemos
assimilado o seu nome de casada.
Mimi à direita. Sentada, sua mãe Dona Maria Rosa
Carriel. À esquerda Elaine, filha de Mimi.
Lia Hilgenberg na entrada da minha casa.
As três amigas de minha mãe residiam, todas elas, na Rua Marechal
Deodoro: Lourdes no nº 736 subindo alguns metros da Visconde de Nacar, e Mimi e
Lia descendo a Marechal Deodoro, também
a alguns metros da nossa rua, Mimi do lado esquerdo no nº 817 e Lia em frente,
no nº 816 do lado direito.
Minha casa na Rua Visconde de Nácar, 149. Era maior do que parece: tinha quatro quartos no térreo e mais dois no sótão. Pintura de Ruben Esmanhotto.
Eu com o gato Juju. À direita, minha casa na Rua Visconde de Nácar. Abaixo, na esquina, casa de Constante e Anastácia Schmidt, pais de Alice Schmidt de Vasconcellos (casada com Orlando de Vasconcellos) e avós de Orlando Schmidt de Vasconcellos, meu afilhado. Atravessando a rua (Marechal Deodoro) está a casa de Alberto Emílio e Ada, pais de Zelândia e Adelaide (sobre os quais há comentários no livro de Lourdes Strozzi), Adalberto, Sílvio, Nei e outros.
Eu com o gato Juju. À direita, minha casa na Rua Visconde de Nácar. Abaixo, na esquina, casa de Constante e Anastácia Schmidt, pais de Alice Schmidt de Vasconcellos (casada com Orlando de Vasconcellos) e avós de Orlando Schmidt de Vasconcellos, meu afilhado. Atravessando a rua (Marechal Deodoro) está a casa de Alberto Emílio e Ada, pais de Zelândia e Adelaide (sobre os quais há comentários no livro de Lourdes Strozzi), Adalberto, Sílvio, Nei e outros.
Quando elas se reuniam em minha casa para o lanche, eu ficava sempre
brincando por perto, porque as suas conversas eram muito envolventes,
empolgantes e cheias de cor e luz. Eu espalhava os brinquedos pelo chão,
ocupados pelas minhas mãos, porém eu mantinha as minhas “antenas” voltadas para
o bate-papo das quatro amigas. Não raro escapavam-lhes palavrões em meio a
muito riso, e Lourdes e Mimi eram as mais “desbocadas”. Entretanto, esses
“palavrões” jamais eram obscenos ou indecentes. Não iam muito além do singelo “puta la merda”.
As quatro amigas, quando reunidas, formavam o grupo de senhoras mais
divertido que vi em toda vida. Eram alegres, riam o tempo todo. Eu, ainda um
garotinho, estava sempre perto do quarteto e adorava ouvir as conversações.
Quando minha mãe reunia mais amigas em nossa casa para um lanche, invariavelmente
Lourdes Rocha estava presente. Claro que essas reuniões com mais pessoas eram
também mais formais. Nas três fotos abaixo, aproximadamente de 1956, na nossa
casa da Rua Augusto Ribas, eis mais algumas das amigas que também sempre se
faziam presentes. As três fotos abaixo foram feitas no mesmo dia, com intervalo de alguns minutos.
A primeira senhora não me lembro quem era. A segunda é Lourdes Rocha Strozzi, com seus belos e grandes olhos verdes. Não me recordo do nome da terceira, e a quarta é Glacy Hilgenberg Sponholz.
Glacy Hilgenberg Sponholz, Marlene Pinto Di Piero, Ivete Osternack Pinto e minha mãe Edith Barbosa Souto.
Argentina Vargas de Oliveira, Romilda Lange, minha
mãe Edith Barbosa Souto e Graziela Pinto Maia.
Anos depois, do final de 1955 a 1961, quando passamos a residir na Rua
Augusto Ribas nº 571, entre a Rua 15 de Novembro e a Marechal Deodoro – do
final de 1955 a 1961 – mais uma vez Jayme e Lourdes com os filhos foram nossos
vizinhos. Aquele endereço era estratégico para meu pai, porque ele era diretor
da Rádio Central do Paraná, que se localizava na mesma Rua Augusto Ribas, uns
100 metros abaixo. Durante esse tempo, Lourdes foi admitida no quadro de
funcionários Rádio Central na qualidade de radioatriz. Naquela época, anterior
à televisão em Ponta Grossa, o rádio era o mais importante veículo de
comunicação de massas, por isso o cargo de meu pai, de diretor de uma rádio,
era muito notável sob todos os aspectos. Também ainda não se utilizava a gravação
de voz, uma tecnologia então quase desconhecida. Portanto naquele tempo os
noticiários e as novelas no rádio eram realizados ao vivo. Desenvolviam-se
também pequenas peças radiofônicas, tragédias ou comédias.
A casa onde residimos na Rua Augusto Ribas nº 571. As duas janelas do prédio ao lado esquerdo (depois do poste duplo) eram da antiga Câmara Municipal. Pelo portão do lado direito era a entrada para a residência no 1º andar. Éramos vizinhos dos Ribas, dos Pereira Jorge e depois dos Strozzi.
O portão da casa. Meus pais, eu e meus irmãos, subimos e descemos esta escada milhares de vezes. Por incrível que pareça, lá no alto tínhamos um quintal grande com jardim, horta, gramado e um galinheiro.
O portão da casa. Meus pais, eu e meus irmãos, subimos e descemos esta escada milhares de vezes. Por incrível que pareça, lá no alto tínhamos um quintal grande com jardim, horta, gramado e um galinheiro.
Nas ocasiões em que eram levadas essas peças radiofônicas, eu e minha
mãe íamos à Rádio Central para vermos a atuação de Lourdes Rocha. Os atores
ficavam na sala de som, hermética, sentados numa mesa redonda, cada qual com as
folhas contendo o texto, com um microfone à frente de cada um. Havia vários radioatores
desenvolvendo a história. Quem fazia o papel da “mocinha” de voz jovem e
angelical, era uma senhora gorda; o “mocinho” de voz bela e grave, era um homem
calvo de meia idade... e assim por diante. Além disso, quando, por exemplo, no
texto o “mocinho” corria até à porta, um auxiliar corria no recinto acompanhado
por um microfone baixo; quando alguém chegava à porta e batia, alguém da equipe
fazia tóc-tóc-tóc sobre a superfície da mesa. Nas ocasiões em que Lourdes
notava que nós a observávamos através do vidro, nos momentos em que não tinha
que falar na peça, ela se levantava e ia até atrás da cadeira de quem estivesse
naquele momento lendo o seu texto, e fazia às suas costas o gesto de “dar
manivela” num carro... e eu e minha mãe, e quem mais estivesse conosco, ríamos
às gargalhadas.
Na minha adolescência,
a vida era uma alegria, uma festa infinita
O que vou relatar neste parágrafo, tem relação com Lourdes Strozzi. Lá pela
metade dos anos 50 as colunas sociais movimentavam tanto a futilidade quanto a
intelectualidade das “altas rodas” sociais. No Jornal da Manhã, aos domingos,
circulava a coluna “Cortina de Seda”, assinada por Fadlo Auak, que por um
período contou com a colaboração de alguém que assinava o pseudônimo de Moby
Dick. Ibrahim Sued fazia sucesso no Rio, Dino Almeida despontava em Curitiba e
Fadlo Auak em Ponta Grossa. Nos outros jornais, destacavam-se cronistas sociais
tais como Michel Acras e João Copla.
Anos depois Fadlo Auak resolveu afastar-se da imprensa e cedeu sua
famosa coluna para a então desconhecida Belinda. Quando a “Cortina de Seda”
passou às mãos dessa misteriosa colunista, mandei a ela uma carta propondo
enviar-lhe notas sobre o “high society”, assinando “Mister X”... e Belinda
aceitou minha colaboração. Eu mesmo me surpreendi por Belinda ter aceito e me
senti muito importante mais ou menos aos 15 anos de idade – ainda um menino! A
história de Belinda e Mister X poderá ser lida por quem tiver curiosidade neste
endereço:
A coluna social Cortina de Seda, no Jornal da
Manhã, assinada por Belinda e também por Mister X (Francisco Souto Neto)
Depois de algum tempo, passado o período da minha participação na
“Cortina de Seda”, revelei a meus pais e irmãos que eu era Mister X. Após meus
familiares, a primeira pessoa a quem contei a minha identidade secreta foi... à
minha vizinha Lourdes Rocha Strozzi. Fui à sua casa, surpreendi-a com minha
revelação, e ela retribuiu revelando-me que ela era Moby Dick, antiga
colaboradora de Fadlo Auak na mesma “Cortina de Seda”. Nossas vidas cruzavam-se
mais uma vez.
As fotografias de
Lourdes Strozzi
Em Curitiba, onde resido desde 1977, eu e minha mãe fomos novamente quase vizinhos do casal Strozzi, que
morava a uma distância de não mais do que uns 400 metros.
Algumas vezes fui buscá-la com meu carro, mas Lourdes não gostava de
entrar em nenhum automóvel. Eu nunca soube o motivo do seu temor, nem lhe
perguntei, mas creio que se tratasse, talvez, de algum trauma de infância. Na
primeira vez que ela nos visitou em Curitiba, mostrou-se admirada com o portão
da garagem do meu prédio, que abri por controle remoto. “A vida moderna é
fantástica”, disse-me ela.
Lourdes Rocha Strozzi era membro da Academia de Letras José de Alencar,
em Curitiba, onde ocupou a cadeira patronímica nº 40, de Felinto de Almeida,
atualmente ocupada pela também minha amiga Tânia Rosa Ferreira Cascaes. Nessa
mesma Academia de Letras eu ocupo a cadeira patronímica nº 26, de Emiliano
Perneta.
As fotos abaixo são já do tempo em que todos nós passamos a residir em
Curitiba.
Em 1988, quando eu era assessor de diretoria do Banestado (depois assessor da presidência e assessor para assuntos de cultura), criei, com o auxílio de Tadeu Petrin, o SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos. Jayme e Lourdes Strozzi prestigiaram o acontecimento e compareceram às solenidades inaugurais. Na foto: o casal Janguta e Graziela Maia, o casal Jayme e Lourdes Strozzi, Francisco Souto Neto, Edith Barbosa Souto e Marlene Sant’Anna Granville Urban.
Uma foto curiosa, de olhares dispersos: Francisco Souto Neto, Edith Barbosa Souto, Lourdes Strozzi, Jayme Strozzi (atrás de Lourdes), Rubens Faria Gonçalves e Marlene Sant’Anna Granville Urban.
Lourdes Strozzi com Francisco Souto Neto e Tadeu
Petrin.
Em 1992, no aniversário de minha mãe: Lourdes Strozzi, Edith Souto e Marlene Sant’Anna Granville Urban.
Em 1993, Francisco Souto Neto recebe Lourdes Strozzi e Ute Frankl.
Em 1993, Francisco Souto Neto recebe o colunista
social Michel Acras e Jayme Strozzi.
Os livros de Lourdes
Strozzi
Aspas,
parênteses e reticências
Em seu
primeiro livro, Lourdes Rocha Strozzi coletou histórias da sua própria vida dos
tempos de Ponta Grossa, “apimentou-os um pouco” (segundo palavras dela mesma) e
relatou-os de forma muito divertida. Lourdes escrevia muito bem e suas
personagens quase sempre aparecem com nomes trocados por pseudônimos, para
resguardar suas verdadeiras identidades. Gostei muito de sua estreia no mundo
dos livros publicados.
Capa de Aspas, parênteses e reticências.
Dedicatória de Lourdes Strozzi para Francisco Souto Neto em julho de 1977.
Primeira página.
Abertura do livro com oferenda da autora.
Uma das muitas e divertidas passagens do livro.
A parte final que Lourdes chamou de “Instantâneos de rua”.
O retrato de Lourdes Strozzi na 4ª capa (ou
contracapa).
A
Princesa e Eu
Muitos
anos depois, em 2000, Lourdes Rocha Strozzi lançou o seu segundo livro, A Princesa e Eu. Ela estava com 78 anos.
A “princesa” a quem Lourdes se refere no título, é a cidade de Ponta Grossa,
que tem o cognome de “Princesa dos Campos”. Comprei o livro no ano seguinte.
Após terminar a leitura, visitei-a na Rua Euzébio da Motta nº 669, a apenas
quatro quarteirões de onde eu residia. Minha mãe falecera há quatro anos.
Na capa, Lourdes Rocha aparenta uns 5 ou 6 anos, com o guarda-pó e a lancheira idênticos aos que eu usei no meu jardim da infância, sendo levada pela mão do pai, o Dr. Rocha, conhecido e respeitado médico de Ponta Grossa.
Na primeira página, a minha anotação no dia em que
comprei o livro.
Comentei
com Dona Lourdes que o livro me pareceu interessantíssimo, porque eu conhecia
praticamente todas as pessoas às quais ela se referiu em sua narrativa. Assim,
descobri a visão pessoal que a autora tinha das mesmas.
O detalhe
que não gostei, foi o dela ter usado palavras estranhas em seu texto, quase
sempre desconhecidas, e disse-lhe que eu teria preferido encontrar substantivos
mais comuns e usuais. Ela me respondeu que “na Academia gostaram, sobremaneira,
das palavras eruditas que eu usei”. Seja como for, eu acho que, ordinariamente,
o escritor deve sempre usar de mais simplicidade, e que o excesso de palavras
“eruditas” faz parecer que o autor está querendo demonstrar sapiência, isto é, que
ele conhece “palavras difíceis”. Durante
a leitura, fiz grifos nas palavras estranhas, que mostrei à minha amiga.
Abaixo, 7 exemplos dos 15 que com ela comentei:
Mais adiante encontrei referências às
“fogueteiras”, como seriam conhecidas as filhas do nosso vizinho Sr. Alberto
Emílio – que era pirotécnico – as jovens Zelândia e Adelaide. Mas essa alcunha,
entretanto, era considerada pejorativa pela família Emílio. Zelândia, pianista, faleceu muito cedo e Adelaide teve longa vida. Adelaide era a mais bonita e eu
a achava parecida com a cantora Linda Baptista. Eu gostava muito da Adelaide
que no Natal se vestia de Papai Noel e fazia a festa das crianças da
vizinhança. Eu tinha pavor do Papai
Noel, e somente quando me foi revelado que ele era a Adelaide, meu medo se
dissipou. Até ao seu falecimento visitei-a muitas vezes na companhia de minha
mãe. Ela morava na Rua XV de Novembro, a apenas três quarteirões de onde então residíamos
na Rua Augusto Ribas, no começo da década de 60. No fim dos anos 40 e começo
dos 50, Adelaide e Zelândia eram provavelmente as moças mais elegantes da
cidade. O pai, Sr. Alberto, talvez o mais rico da Princesa dos Campos, era proprietário
de uma grande fábrica de fogos, estabelecida num terreno gigantesco, com as dimensões de um parque, na esquina
da Rua Visconde de Nácar com a ladeira da Rua Padre Lux. Dona Ada, esposa do
Sr. Alberto, contava que tinham mais de cem casas de aluguel. Minha tia Iraty,
irmã de meu pai, casou-se com Adalberto, um irmão das moças Adelaide e
Zelândia, e Lindamir, prima de minha mãe, casou-se com Sílvio, também irmão das
referidas moças. Assim, pode-se dizer que meus pais se aparentaram duplamente
com a família Emílio – uma das mais conceituadas da Princesa dos Campos.
No 1º parágrafo da página 75, Lourdes refere-se a Zelândia e Adelaide.
Mais uma referência a Adelaide.
Nas páginas 150 e 151 Dona Lourdes faz um longo relato
sobre a Adelaide e um seu pretendente.
No "Jornal da Manhã".
Avançando nas páginas finais...
...e já chegando ao final do livro.
Eu gostava muito de Dona Lourdes, e isto é evidente, mas
amigos verdadeiros não podem fingir situações. Se por exemplo há algo que eu
não goste num filme, numa peça teatral, num livro, sou autêntico e sincero na minha crítica. Lourdes Rocha teve razão no desentendimento havido com a Madre Superiora do colégio, que se
chamava Irmã Animata. Algumas freiras eram, sabidamente, exageradamente conservadoras e
“ossos duros de roer”. Mas neste caso a autora se referiu à doença da freira muito cruamente. Contudo... quem sou eu para julgar?
Moby Dick.
Nas páginas 230 e 231, Lourdes publicou um dos
sonetos em versos de doze, que na Cortina de Seda ela publicava sob o
pseudônimo de Moby Dick... uma preciosidade dos tempos do Jornal da Manhã.
Uma vez mais tornamo-nos vizinhos... e assim
referiu-se Lourdes Rocha Strozzi, com carinho, à “família de Arary Souto”.
Contracapa ou 4ª capa.
Os
comentários que fiz com Lourdes sobre os detalhes do seu livro que não me
agradaram, não abalaram nossa amizade... e isto seria impossível, porque eu adorava Lourdes Rocha e toda sua família.
O casal
mudou-se mais uma vez de domicílio em Curitiba, agora para um apartamento na Rua Nicolau
Maeder, também não muito longe de onde eu residia naquela ocasião. O que eu não
imaginava é que apenas quatro anos depois, Lourdes Rocha Strozzi viria a falecer.
Jayme sobreviveu a Lourdes por mais 12 anos. Foi-se ele aos 91 anos no dia 17
de fevereiro de 2017.
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Eu, agora
prestes a chegar à idade de 77 anos, vivendo um tempo de terror no planeta pela
pandemia que, no Brasil, acaba de ultrapassar o devastador número de 100.000
mortes pela covid-19, e mais de três milhões de infectados, enquanto me
mantenho já há quase cinco meses em “isolamento social”, reflito sobre meus
familiares, parentes e amigos que já partiram. Lourdes Rocha terá sempre um
lugar especial em meu coração.
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Francisco Souto Neto em julho de 2020, em meio à
triste e terrível pandemia, esperando pela vacina contra a covid-19, que será
um bálsamo para os males do mundo.
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POST SCRIPTUM ACRESCENTADO EM 30.01.2022.
Cerca de um ano e meio após ter escrito o artigo acima, agora em 30 de janeiro de 2022, o planeta continua enfrentando a pandemia da Covid-19, neste momento com uma terrível e avassaladora onda de contaminações cujo índice diário supera o pior dos momentos vividos em meados do ano passado.
Mexendo em caixas contendo antigos papéis, encontrei uma correspondência que travei com Lourdes Rocha Strozzi. Esse contato reporta-se a fevereiro de 1960, quando éramos vizinhos e eu coloquei sob sua porta uma carta que assinei com o pseudônimo de Jayme Sinatra, dizendo-lhe que desejava revelar-lhe o segredo da identidade de Mister X que fora coautor na coluna social assinada por Belinda, no Jornal da Manhã de Ponta Grossa.
Escrevi-lhe que a resposta deveria ser dirigida a "Jayme Sinatra", através da Posta Restante da agência do Correio. Depois de alguns dias, procurando na posta restante, a funcionária disse-lhe que havia uma correspondência destinada ao Sr. Jayme Sinatra. Eu, aos 16 anos em fevereiro de 1960, fiquei sem saber como retirar a correspondência que, segunda a funcionária, só poderia ser retirada mediante apresentação de carteira de identidade do destinatário. Na inocência dos meus 16 anos, contei àquela senhora gentil e "boazinha" que Jayme Sinatra não existia, que se tratava de um meu pseudônimo, e relatei-lhe as circunstâncias. Ela acreditou na minha honestidade e entregou-me o envelope. Era um pequeno envelope medindo 6 e meio por 10 centímetros, e o remetente era "M.D.".
Logo depois disso, telefonei a Lourdes Rocha dizendo-lhe que eu, seu vizinho, queria apresentar-lhe um amigo chamado "Jayme Sinatra". Então batia à sua porta e apresentei-me como "Jayme Sinatra", "heterônimo" de Mister X.
Foi uma tarde de muito riso e confidências. Disse à minha amiga que era eu o misterioso Mister X da coluna Cortina de Seda, e ela, conforme confessara em sua carta, era a também famosa Moby Dick, que fora coautora da mesma Cortina de Seda, no tempo em que a influente coluna era assinada por Fadlo Auak. Lourdes sentia total aversão à sucessora Belinda. Mas a identidade de Belinda era desconhecida por mim. Só depois de muitas décadas descobri, casualmente, quem era a famosa Belinda que mobilizou a alta sociedade de Ponta Grossa em ondas de alegria e ódio. Infelizmente não tive a oportunidade de revelar à minha querida amiga Lourdes Rocha Strozzi a identidade de Belinda, porque Lourdes faleceu antes disso. Pois Belinda, que incrível, era pseudônimo do "também heterônimo" Fadlo Auak, grande amigo de Lourdes. Que imblóglio!
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Olá, Padrinho. Como sempre seu texto é perfeito e reflete um carinho especial pelas pessoas do passado. Acho que esses relatos dariam um livro muito curioso e interessante.
ResponderExcluirQuerida sobrinha, muito obrigado por estar acompanhando minhas publicações sobre os livros da minha (nossa) biblioteca. Beijo!
ExcluirOi Tio Neto! Achei muito interessante conhecer mais sobre essa história, pois engloba nossas origens também! E também fico feliz que acessar essas memórias tem sido benéfico para você, nesses tempos de isolamento. Saudades. Super beijo!!
ResponderExcluirOi Tio Neto! Achei muito interessante conhecer mais sobre essa história, pois engloba nossas origens também! E também fico feliz que acessar essas memórias tem sido benéfico para você, nesses tempos de isolamento. Saudades. Super beijo!!
ResponderExcluirQuerida sobrinha, fiquei muito feliz pelo seu interesse em conhecer essas histórias que envolvem as nossas mútuas raízes. Muito obrigado. Beijão.
ExcluirOi NETO
ResponderExcluirMuita emoção tomou conta de mim, me trasportando à Ponta Grossa,onde passei maravilhosa fase de minha vida.
Beijos
Obrigado por expressar suas impressões. Mas quem é você? Sua mensagem está identificada como "Unknown" ("Desconhecida"). Por favor, assine seu nome para eu saber de quem se trata. Obrigado.
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