quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A PESTE, de Albert Camus. - Comentário de Francisco Souto Neto.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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A PESTE, de Albert Camus


 
Capa de A Peste

 
Comendador Francisco Souto Neto

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 A PESTE, de Albert Camus


Albert Camus (1913-1960)

Meu exemplar de A Peste, com tradução de Graciliano Ramos, data de 1973. Comprei-o quando eu era inspetor do Banco do Estado do Paraná, e na década de 70 eu viajava pelo interior do Paraná inspecionando agências. Havia apenas três caminhos asfaltados no nosso Estado, que eram: Curitiba-Paranaguá, Curitiba-Foz do Iguaçu e Curitiba-Maringá e Londrina. O restante da malha viária do Estado era constituído de péssimas estradas de terra. Eu me hospedava em cidades onde os hotéis às vezes nem contavam com apartamentos, isto é, não tinham banheiro privativo. Então à noite, para passar o tempo, eu lia na cama. Li muitas centenas de livros. A Peste foi um deles. Comecei a lê-lo em Londrina, hospedado no ótimo Gávea Pálace Hotel em 5 de maio de 1976 e terminei no bom Pálace Hotel de Bandeirantes em 11 de junho daquele ano.

Passados 44 anos, eis-me aposentado desde 1991, morando num belo e espaçoso apartamento em Curitiba, porém... já no 5º mês seguido em quarentena, em “isolamento social”, porque estamos vivendo a pandemia do covid 19, o novo coronavírus, que está infectando muitos milhões no planeta inteiro, com espantoso número de mortos. Quando li A Peste, jamais imaginei que o mundo passaria novamente por tão grave provação. Há pouco mais de um século o planeta passou pela pandemia da gripe espanhola, que levou meu avô paterno. Minha mãe foi também contagiada e sobreviveu porque foi tratada pelo seu tio Vespasiano Barbosa Martins, que era o mais importante médico de Campo Grande (Mato Grosso uno), que ia vê-la duas vezes por dia. E ele, meu tio-avô, chegou a ser senador da República e depois eleito governador do Estado. Não fosse a dedicação desse meu tio-avô em salvar minha mãe, eu não existiria.

Em meu isolamento, resolvi reler A Peste, um livro cujo conteúdo eu esquecera quase completamente. Portanto, foi como se eu lesse um livro novo. Reiniciei a leitura no dia 27 de julho de 2020 e terminei em 10 do corrente mês de agosto, impressionado com a semelhança da descrição da peste com a atual pandemia pela covid 19. Não há nada mais contemporâneo do que A Peste de Camus.

Camus, chamado de pai do existencialismo, está associado também ao absurdo. No entanto, ele nunca se definiu como tal. Seu trabalho e gênio abalaram a França e o mundo. Ele considerou que a arte moldava o planeta e era o veículo do pensamento. Em 1957, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Ele rejeitou o marxismo, o cristianismo e o próprio existencialismo, e em geral repudiou todos os tipos de dogmas, enquanto defendia princípios como liberdade e justiça. Seus escritos eram uma reflexão contínua sobre a condição humana em um mundo irracional e indiferente. Ele nasceu em Mondovi, na Argélia, na época da ocupação francesa.

O romance A Peste, a obra mais conhecida de Albert Camus, foi publicado 1947 e é considerado um clássico da literatura existencialista e absurdista. O livro narra a história de trabalhadores que descobrem a solidariedade em meio a uma peste que assola a cidade de Oran na Argélia. Como Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, na época da ocupação francesa, em A Peste o leitor tem a sensação de que Oran é como se fosse uma cidade francesa.

Camus inspirou-se na epidemia de cólera que dizimou grande proporção da população de Oran em 1849, mas situou o romance na década de 1940. Oran e seus arredores foram atingidos por epidemias várias vezes antes de Camus publicar seu romance. De acordo com um estudo acadêmico, Oran foi tomada pela peste bubônica em 1556 e 1678.

Através dos efeitos que o flagelo causa na sociedade local, A Peste aborda diversas questões relacionadas à natureza do destino e da condição humana.

Resolvi colocar, abaixo, as páginas com grifos que fiz com canetas verde e vermelha, caso o leitor se interesse em ver como a situação da peste, relatada por Camus, assemelha-se à pandemia da covid 19, até sob o aspecto político da questão, tal como, infelizmente, o assunto no começo do romance é agora tratado pelo desqualificado atual governo brasileiro, presidido por um esquizofrênico sem compostura.

São apenas 25 páginas (duplas) escaneadas. Lendo os meus grifos, será possível ter-se uma ideia de como o autor relata os vários momentos e a evolução da peste na cidade de Oran. É oportuno lembrar  que Camus recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1957.



























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Francisco Souto Neto relendo A Peste.

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