terça-feira, 2 de junho de 2020

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, AS PORTAS DA PERCEPÇÃO, O CÉU E O INFERNO, O MACACO E A ESSÊNCIA, A ILHA... e outros, de Aldous Huxley.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Alguns Aldous Huxley da minha coleção.

 Comendador Francisco Souto Neto

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ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, AS PORTAS DA PERCEPÇÃO, O CÉU E O INFERNO, O MACACO E A ESSÊNCIA, A ILHA... e outros, de Aldous Huxley

Comentário por Francisco Souto Neto

Aldous Huxley.

Quando eu residia em Ponta Grossa, viajava muito a São Paulo para visitar meus parentes e para assistir a peça teatrais ou ao lançamento de filmes, num tempo, lá pelas décadas de 60 e 70, em que filmes não eram lançados simultaneamente no país, e que após a exibição em São Paulo e Rio, poderiam levar um ano ou mais para chegarem às telas dos cinemas ponta-grossenses.

Quando eu estava a passeio em São Paulo, ia invariavelmente à Livraria Francesa, que ficava na Rua Sete de Abril, e a outras das imediações.


O livro Admirável Mundo Novo acompanhou-me na longa viagem

A inauguração da Rua Engenheiro Francisco Souto Júnior, meu avô, ocorreu na cidade de São Pedro, interior paulista, na véspera do Natal. Viajei então a São Paulo, donde parti com meus parentes em direção a Piracicaba, e de lá para São Pedro. Mas ao chegar a São Paulo, creio que no dia 23 de dezembro, eu fui à Livraria Francesa e a outras nas imediações, quando encontrei o livro Admirável Mundo Novo, que há muito eu desejava conhecer. Levei esse exemplar comigo ao longo de todo o percurso planejado até São Pedro, para ir lendo nos hotéis onde me hospedei e também no meu retorno a Ponta Grossa.

Admirável Mundo Novo.

 Minha anotação na abertura do livro.

 Minha anotação ao término da leitura. 

A quarta capa (ou contracapa) do livro.


Na inauguração da rua em homenagem a meu avô em São Pedro, SP


Antes de referir-me a Admirável Mundo Novo e aos demais livros de Aldous Huxley, todos com histórias paralelas, vou anexar, abaixo, algumas fotografias do percurso que fiz carregando este livro: São Paulo – Piracicaba – São Pedro – Piracicaba – São Paulo – Ponta Grossa:

Na manhã de 22 de dezembro de 1967, em São Paulo, com minha avó Mãe Nina e Tia Jurema, prestes a iniciarmos a viagem a Piracicaba.

Dia 23 de dezembro. Na casa de meu Tio Jurandir em Piracicaba, em frente a um dos gigantescos viveiros de pássaros que ele criava por puro prazer. Era possível passear dentro dos viveiros. Na foto: eu, Tio Oscar, Tia Iracema, Mãe Nina, Tio Jurandir.

Na casa de meu Tio Jurandir em Piracicaba, com minha avó Mãe Nina, em frente a um dos enormes viveiros.

Dia 24 de dezembro. Já na cidade de São Pedro, meus parentes caminhando para o local da inauguração.

Minhas tias Cecy e Iraty.

Minhas familiares chegando ao local da inauguração.

Meu Tio Jurandir discursando na inauguração da Rua Engenheiro Francisco Souto Júnior.

A placa com o nome da rua, em fotografia desfocada.

Vamos iniciar o retorno a Piracicaba: Tia Lourdes, Mãe Nina, eu, Tia Iracema e Tia Jurema. Observar que a placa do carro de meu Tio Jurandir tinha apenas quatro dígitos: 32 14. Sem letras e sem mais números.

Retornando a Piracacaba, Tia Jacy, eu e Tia Jurema paramos nos parques de Águas de São Pedro.

Em Piracicaba, Tia Jurema e eu nas Quedas do Rio Piracicaba.

Em Piracicaba, minha tia Cecy, “faraônica” na rede, enquanto minha prima toca violão e canta na casa de Tio Jurandir.

Natal em Piracicaba. Minha Tia Jurema vai ao piano, na casa de Tio Jurandir, e toca músicas natalinas.

Dia 26 de dezembro, em São Paulo, minha avó Mãe Nina com seu poodle Joy no quintal de sua casa.

Na parede da casa de minha avó, o retrato (óleo sobre tela) de Francisco Souto Júnior.

Enquanto me hospedei em hotéis durante a viagem, bem como quando viajava com meus parentes ou ainda, depois, no percurso de retorno em ônibus entre São Paulo e Ponta Grossa, eu lia Admirável Mundo Novo.

Nos primeiros dias de janeiro em Ponta Grossa, meu amigo Gilson Cordeiro fez uma sensível publicação no Jornal da Manhã, a respeito da inauguração da rua em homenagem à memória do meu avô.

Texto de Gilson Cordeiro no Jornal da Manhã. Janeiro de 1968.


Meus outros livros de Aldous Huxley



Quatro dos cinco livros de Huxley que tenho em minha biblioteca.

Outros livros de Aldous Huxley, da minha biblioteca, têm também algumas histórias paralelas. Por exemplo, O Macaco e a Essência, que eu li mais ou menos há meio século, por volta do começo da década de 70. Era um livro de que gostei muito. Durante o curso de Direito, uma colega, a Evelyn, me pediu o exemplar emprestado. Emprestei-o, mas ela nunca o devolveu. Minha solução, para não ficar pedindo o livro de volta, foi simples: dirigi-me à Livraria Montes, onde comprei outro exemplar novo, que mantenho até hoje.


 Capa de O Macaco e a Essência.

Minha anotação na primeira página de O Macaco e a Essência.

Belíssimo foi o livro que ganhei de minha amiga Marlene Sant’Anna em 1975: A Ilha. Assim, fui lendo e me deliciando em multiplicar meu conhecimento das obras-primas de Huxley.

Capa de A Ilha de Aldous Huxley.

Dedicatória de Marléne para mim.


Minha anotação ao terminar a leitura em 4 de dezembro de 1975.

Outro livro memorável de Huxley foi As Portas da Percepção e O Céu e o Inferno. Neste, Aldous Huxley conta suas experiências com um alucinógeno chamado mescalina. Eu li este livro apenas uma vez, e isto aconteceu há muito tempo, uns 55 ou 60 anos passados, portanto já não me recordo dos detalhes.

Capa de As Portas da Percepção e O Céu e o Inferno.

Coincidentemente, logo após ter lido esse livro, recebi a visita de um primo de São Paulo, que viajou a passeio a Ponta Grossa na companhia de um seu amigo, que era um jovem ator que já tinha até feito uma ponta num filme com Joana Fomm. Minha mãe encontrava-se em viagem para visitar parentes. Conversando com meu primo e seu amigo, casualmente veio à baila o assunto de Huxley e os alucinógenos. Contei-lhes que eu tinha a curiosidade para fazer uma experimentação com alguma droga “leve”, mas com o sério propósito de que a pesquisa transcorresse tão “cientificamente” quanto possível, e também para formação de opinião. Estabeleci a condição de que o experimento teria que ser gravado. “Como ter opinião própria sobre algo que não conheço?”, era a justificativa. Meu primo e o ator contaram-me que possuíam familiaridade com marijuana e que poderiam participar para me orientarem na experiência. Isso foi antes da descoberta do VHS, quando poucas pessoas tinham o privilégio de gravador em casa. Eu possuía um, que pertencera a meu pai. Um amigo de Ponta Grossa em quem eu confiava, encarregou-se de conseguir a cannabis sativa para pormos em prática aquela espécie de desobediência civil. E assim aconteceu. Como faz muito tempo, praticamente há meio século, já não me recordo de detalhes, porém senti-me como se estivesse viajando num mundo paralelo, cheio de fantasias de ordem estética e sensorial. Por exemplo, era como se num movimento dos braços eu pudesse abarcar uma galáxia... e nesse movimento dos braços, as dimensões se alteravam, deixando rastros etéreos que transcorriam como nos fotogramas de um filme cinematográfico. Ou seja, a droga agia sobre o cérebro criando um mundo artificial mas de extraordinária beleza. Tudo me parecia em transmudação, mas eu tinha consciência de que aquele “mundo paralelo” era irreal, consequência da droga.

Enfim, foi uma experiência válida e cheguei a uma conclusão: a de que a beleza do mundo, pelo menos para mim, não poderia ser artificial. Que a beleza da vida deveria ser encontrada no mundo real e a felicidade conquistada no factível e não nos sonhos enevoados e fantasiosos dos alucinógenos. E isto foi definitivo. A fita magnética da gravação, passei às mãos de um dos três participantes, pedindo-lhe que a guardasse até que um dia, se sentisse curiosidade, eu a ouviria. Essa fita ainda existe com o amigo, mas nunca senti nem a mínima curiosidade para ouvi-la.

Anos depois, fiquei chocado ao tomar conhecimento de uma declaração da viúva de Huxley. Contou ela ao mundo que quando o marido estava em seu leito de morte, em agonia, ela aplicou-lhe uma injeção de LSD (ácido lisérgico). Não imagino o que o escritor possa ter sentido no momento do seu passamento e não tenho opinião formada sobre esse episódio da Srª Huxley. Mas continuo achando que minha experiência foi positiva, porque minha decisão após a relatada investida, ocorreu no sentido de que se tratou de uma experiência válida, porém única e definitiva. E nunca mais me interessei, nem minimamente, por outras experiências extrassensoriais.

Entretanto, não fiquei inteiramente livre dos vícios. Por exemplo, não resisto a uma boa fatia dum bolo, ainda mais se o recheio for de morango com nata. Ou a um chocolate, de preferência da Kopenhague...

Huxley e sua esposa Laura.

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