LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
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Semeadura e
Colheita – Memória Histórica da Imperial Sociedade Amante da Instrução, de
Gemaro Rangel
Comendador Francisco Souto Neto
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SEMEADURA E COLHEITA – Memória Histórica da
Imperial Sociedade Amante da Instrução, de Genaro
Rangel
Comentário por Francisco Souto Neto
Ao escrever Semeadura e Colheita, Genaro Rangel
inspirou-se no livro publicado em 1895, Notas
de um Repórter, de Ernesto Senna, e conta a história da Imperial Sociedade
Amante da Instrução, que mantinha um asilo para crianças órfãs. Baseou-se
também numa publicação na revista do Instituto Geográfico e Histórico
Brasileiro de 1892, que registra: "Era preciso um braço potente para
suster a queda da Amante da Instrução; mas quem viria em seu auxílio? / Quem
lhe traria o socorro? / Ao grito implorador de piedade respondeu o coração
generoso do então abastado e conhecido banqueiro o visconde de Souto, que já
por vezes lhe mandara o seu óbulo e que agora oferecia gratuitamente para asilo
das órfãs o seu palacete da Rua da Imperatriz, por sua conta reformado e
preparado para tal fim. Não satisfeito com esse valioso socorro,
responsabilizou-se ainda por todas as despesas durante um ano. E quando atroz
enfermidade acometeu essas meninas, abriu-lhes as portas da sua chácara na
ponta do Caju. / A fatalidade não deixou perdurar tão salutares benefícios e em
1864 a desastrada quebra do importante banqueiro estancou à Sociedade Amante da
Instrução esse manancial em que bebia vida e vigor. (REVISTA..., 1892, p. 124).
A revista do IGHB ao
descrever em 1892 o episódio acima (28 anos após a Quebra do Souto) já errava
ao informar o endereço do Visconde: "(...) seu palacete da Rua da
Imperatriz". Outros autores ampliaram o erro ao citar o endereço como
"Rua NOVA da Imperatriz". Nem uma, nem outra. O palacete
localizava-se na Travessa (depois Rua) do Campo Alegre, e a entrada para o zoo
é que se fazia pela Rua Nova do Imperador (não da Imperatriz).
Vários outros livros
referem-se aos atos de humanismo do Visconde e da Viscondessa de Souto, mas
também de apoio à arte e à cultura. Faziam isso sem nada pedir em troca, e
porque Visconde de Souto era um dos homens mais ricos do Brasil.
A falência de sua casa
bancária, conhecida popularmente como “Casa Souto”, interrompeu isso tudo. Essa
falência abalou o império brasileiro, pois foi seguida pela quebra de três
outros bancos e de mais de cem empresas, algumas das quais em Portugal. No
entanto, o velho Visconde foi inocentado dos motivos que provocaram “o terrível
cataclismo”, como foi também chamada a sua falência, isto é, o episódio marcado
na História do Brasil como “a Quebra do Souto”.
O livro Semeadura e Colheita, de Genaro Rangel.
Abaixo, as páginas de 227 a
229 escaneadas.
A partir da seta em vermelho, está a história do humanismo do
Visconde de Souto neste episódio.
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