LIVROS COM HISTÓRIAS
QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do
que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias
pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e
ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso
há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar
algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha
biblioteca.
-o-
Capa de Notas de um Repórter, de Ernesto Senna
(1895).
Comendador Francisco Souto Neto
-o-
NOTAS DE UM REPÓRTER, de Ernesto Senna
Comentário por Francisco Souto Neto
Ernesto Senna.
Notas de um Repórter, de
Ernesto Senna (1859 – 1913), foi publicado no ano de 1895, e é uma das obras que se referem ao Visconde de Souto, meu trisavô, com louvores. Trata-se de um livro muito raro, com título estampado na lombada:
"Notas de um repórter", de
Ernesto Senna, edição de 1895, pela Typographia do Jornal do Commercio, de
Rodrigues & C., Rio de Janeiro. É uma das muitas obras do século XIX que
mencionam o Visconde de Souto com admiração e respeito.
Quando eu e minha prima
Lúcia Helena Souto Martini pesquisávamos para escrevermos a biografia do nosso
ancestral, encontrei um exemplar do livro em questão na Estante Virtual. O
livro foi encadernado no século XIX, mas o dono deste exemplar manteve dentro a
sua capa original. Devido ao manuseio durante os últimos 125 anos, a capa
encadernada está quase a se desprender do livro. Por isso, não o coloquei no
scanner, para evitar forçá-lo. Preferi tirar fotografias das partes que desejo
exibir aqui neste artigo.
Aspecto atual de Notas de um
Repórter. A ilustração da capa encadernada provém de uma técnica da época
que era usada em todas as encadernações.
Esta é a capa original que foi preservada em seguida à capa da
encadernação.
A primeira página da obra com a assinatura do primeiro proprietário
do livro.
Detalhe da assinatura do primeiro dono do livro: José J. (ilegível)
Sampaio. Será que alguém entende o nome que me parece ilegível?!
Na página 136, uma das inúmeras provas que eu e Lúcia Helena
encontramos, a evidenciar a exacerbada filantropia do Visconde de Souto que
sustentava não apenas o asilo mencionado.
Detalhe da página 136 sobre a extremada bondade do Visconde de Souto
em prol dos menos favorecidos.
Não é de admirar que tantas
dezenas de outros autores elogiaram o humanismo do Visconde de Souto, desde
Machado de Assis (em dois livros e diversas crônicas publicadas em jornais) a Carlos
Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.
Ernesto Senna.
Ao encerrar, gostaria de
registrar que Ernesto Senna nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de setembro de
1858, e faleceu nessa cidade, em outubro de 1913. De origem modesta, desde os
11 anos trabalhou em uma casa comercial. Depois, foi empregado na Repartição
Geral dos Telégrafos, na secretaria do Hospital do Carmo e na Cia. Garantia dos
Proprietários. Em 1878, finalmente, deu início àquela que era sua verdadeira
vocação: a carreira de jornalista, trabalhando no Diário do Rio de Janeiro.
Depois de colaborar em outros jornais dessa cidade, em 1886 entrou como
repórter para o Jornal do Commercio, onde fez sua reputação definitiva. Foi
eleito sócio correspondente do IHGB em 1903 e efetivo em 1909. Deixou obra
numerosa, repleta de notícias, biografias de brasileiros ilustres, história de
estabelecimentos públicos, de costumes e tradições, viagens e do velho comércio
carioca.
-o-
Vale acrescentar que quase
um século após a publicação do livro acima, o historiador Genaro Rangel
publicou, em 1979, Semeadura e Colheita:
Memória Histórica da Imperial Sociedade Amante da Instrução, em cujas
páginas de 227 a 229 relata o que se lê em Notas
de um Repórter, ampliando as informações sobre a prodigalidade do Visconde
de Souto no auxílio a entidades de filantropia e de saúde, e ainda mencionando
as referências ao meu trisavô Visconde, feitas por Manuel Bandeira e Carlos
Drummond de Andrade.
O livro Semeadura e Colheita, de Genaro Rangel
Neste livro, o autor conta como o Visconde de Souto
se dedicou aos menos favorecidos pela sorte. Neste caso, salvando um orfanato
do abandono. A Sociedade Amante da Instrução, que passou a ser
"Imperial Sociedade" quando D. Pedro II resolveu apoiá-la, não apenas
dava instrução às crianças pobres, como também cuidava da sua saúde, e mantinha
um enorme orfanato. Embora tivesse o apoio do Imperador e de influentes pessoas
da Corte, chegou a um ponto em que, sem suportar as dívidas, estava prestes a
fechar. O autor do livro acima, conta quem era o Visconde de Souto e como socorreu
as órfãs, na página 228: "António José Alves Souto, Visconde de Souto, era
um português de boa cepa, chegando ao Brasil aos 13 anos de idade. Tido como um
dos homens mais ricos do Brasil, sua casa bancária, António José Alves Souto
& Cia. [popularmente conhecida como Casa Souto], era das mais importantes
do país". E na página 227: "O Colégio das Órfãs era sustentado
precariamente. Valeu-lhe, nestas circunstâncias, por demais, os auxílios
prodigalizados pelo Visconde de Souto. Cedeu gratuitamente seu palacete da Rua
da Imperatriz, preparou-o por sua conta, e lá recebeu as órfãs".
Abaixo, as páginas de 227 a
229 escaneadas.
A partir da seta em vermelho, está a história do humanismo do
Visconde de Souto neste episódio das crianças órfãs.
O livro Semeadura e Colheira será objeto do próximo capítulo deste blog.
-o-
Mais um depoimento sobre o fato de Visconde do Souto ter sido um nobre altruísta. O nome escrito no livro parece ser de José Joaquim Ortigão Sampaio.
ResponderExcluir