domingo, 7 de junho de 2020

NOTAS DE UM REPÓRTER, de Ernesto Senna. Refere-se ao Visconde de Souto. Comentário de Francisco Souto Neto.


LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Capa de Notas de um Repórter, de Ernesto Senna (1895).

 Comendador Francisco Souto Neto

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NOTAS DE UM REPÓRTER, de Ernesto Senna

Comentário por Francisco Souto Neto

 
Ernesto Senna.

Notas de um Repórter, de Ernesto Senna (1859 – 1913), foi publicado no ano de 1895, e é uma das obras que se referem ao Visconde de Souto, meu trisavô, com louvores. Trata-se de um livro muito raro, com título estampado na lombada: "Notas de um repórter", de Ernesto Senna, edição de 1895, pela Typographia do Jornal do Commercio, de Rodrigues & C., Rio de Janeiro. É uma das muitas obras do século XIX que mencionam o Visconde de Souto com admiração e respeito.

Quando eu e minha prima Lúcia Helena Souto Martini pesquisávamos para escrevermos a biografia do nosso ancestral, encontrei um exemplar do livro em questão na Estante Virtual. O livro foi encadernado no século XIX, mas o dono deste exemplar manteve dentro a sua capa original. Devido ao manuseio durante os últimos 125 anos, a capa encadernada está quase a se desprender do livro. Por isso, não o coloquei no scanner, para evitar forçá-lo. Preferi tirar fotografias das partes que desejo exibir aqui neste artigo.



Aspecto atual de Notas de um Repórter. A ilustração da capa encadernada provém de uma técnica da época que era usada em todas as encadernações.

Esta é a capa original que foi preservada em seguida à capa da encadernação.

A primeira página da obra com a assinatura do primeiro proprietário do livro.

Detalhe da assinatura do primeiro dono do livro: José J. (ilegível) Sampaio. Será que alguém entende o nome que me parece ilegível?!

Na página 136, uma das inúmeras provas que eu e Lúcia Helena encontramos, a evidenciar a exacerbada filantropia do Visconde de Souto que sustentava não apenas o asilo mencionado.

Detalhe da página 136 sobre a extremada bondade do Visconde de Souto em prol dos menos favorecidos.

Não é de admirar que tantas dezenas de outros autores elogiaram o humanismo do Visconde de Souto, desde Machado de Assis (em dois livros e diversas crônicas publicadas em jornais) a Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.

Ernesto Senna.

Ao encerrar, gostaria de registrar que Ernesto Senna nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 1858, e faleceu nessa cidade, em outubro de 1913. De origem modesta, desde os 11 anos trabalhou em uma casa comercial. Depois, foi empregado na Repartição Geral dos Telégrafos, na secretaria do Hospital do Carmo e na Cia. Garantia dos Proprietários. Em 1878, finalmente, deu início àquela que era sua verdadeira vocação: a carreira de jornalista, trabalhando no Diário do Rio de Janeiro. Depois de colaborar em outros jornais dessa cidade, em 1886 entrou como repórter para o Jornal do Commercio, onde fez sua reputação definitiva. Foi eleito sócio correspondente do IHGB em 1903 e efetivo em 1909. Deixou obra numerosa, repleta de notícias, biografias de brasileiros ilustres, história de estabelecimentos públicos, de costumes e tradições, viagens e do velho comércio carioca.

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Vale acrescentar que quase um século após a publicação do livro acima, o historiador Genaro Rangel publicou, em 1979, Semeadura e Colheita: Memória Histórica da Imperial Sociedade Amante da Instrução, em cujas páginas de 227 a 229 relata o que se lê em Notas de um Repórter, ampliando as informações sobre a prodigalidade do Visconde de Souto no auxílio a entidades de filantropia e de saúde, e ainda mencionando as referências ao meu trisavô Visconde, feitas por Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade.

O livro Semeadura e Colheita, de Genaro Rangel

Neste livro, o autor conta como o Visconde de Souto se dedicou aos menos favorecidos pela sorte. Neste caso, salvando um orfanato do abandono. A Sociedade Amante da Instrução, que passou a ser "Imperial Sociedade" quando D. Pedro II resolveu apoiá-la, não apenas dava instrução às crianças pobres, como também cuidava da sua saúde, e mantinha um enorme orfanato. Embora tivesse o apoio do Imperador e de influentes pessoas da Corte, chegou a um ponto em que, sem suportar as dívidas, estava prestes a fechar. O autor do livro acima, conta quem era o Visconde de Souto e como socorreu as órfãs, na página 228: "António José Alves Souto, Visconde de Souto, era um português de boa cepa, chegando ao Brasil aos 13 anos de idade. Tido como um dos homens mais ricos do Brasil, sua casa bancária, António José Alves Souto & Cia. [popularmente conhecida como Casa Souto], era das mais importantes do país". E na página 227: "O Colégio das Órfãs era sustentado precariamente. Valeu-lhe, nestas circunstâncias, por demais, os auxílios prodigalizados pelo Visconde de Souto. Cedeu gratuitamente seu palacete da Rua da Imperatriz, preparou-o por sua conta, e lá recebeu as órfãs".

Abaixo, as páginas de 227 a 229 escaneadas.


A partir da seta em vermelho, está a história do humanismo do Visconde de Souto neste episódio das crianças órfãs.

O livro Semeadura e Colheira será objeto do próximo capítulo deste blog.

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Um comentário:

  1. Mais um depoimento sobre o fato de Visconde do Souto ter sido um nobre altruísta. O nome escrito no livro parece ser de José Joaquim Ortigão Sampaio.

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