A CIVILIZAÇÃO DO CAFÉ e as referências a
meu tetravô JOÃO DA COSTA GOMES LEITÃO
Autor: ALVES MOTTA SOBRINHO
LIVROS COM HISTÓRIAS PARALELAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro
pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O
exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras,
ou ter sido emprestado e ter ali registradas anotações dos leitores, por ter
sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog
pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados
exemplares da minha biblioteca.
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A CIVILIZAÇÃO DO CAFÉ
e as referências a meu tetravô JOÃO DA COSTA GOMES LEITÃO,
de ALVES MOTTA
SOBRINHO
por Francisco Souto Neto
Introdução
O autor Alves Motta Sobrinho é a quinta geração (tetraneto) do controverso cafeicultor de Jacareí, SP, João da Costa Gomes Leitão (1805-1879), “que muito trabalhou, muito ganhou e nada gozou”. Eu, Francisco Souto Neto, sou tetraneto (também quinta geração) do famoso cafeicultor. Meu pai Arary Souto (1908-1963) era, portanto, seu trineto; e meu avô Francisco Souto Júnior (1881-1948) seu bisneto.
O livro “A Civilização do Café” contém diversas referências a esse meu antepassado. Ao contrário de meu trisavô Visconde de Souto, sempre mencionado na História como personalidade boníssima e abolicionista, o “temido velho Leitão de Jacareí” era escravocrata, o que considero uma vergonhosa mancha biográfica.
Apesar dessa mácula, a história desse homem é bastante curiosa. Por exemplo, talvez como demonstração de poder e contra a vontade do Barão de Jacareí, o velho Leitão mudou o curso do Rio Paraíba do Sul para que suas águas passassem a correr na frente de uma de suas fazendas, cujo local é hoje conhecido como Chácara Xavier. Por absurdo que possa parecer, esta realidade está confirmada em diversas fontes do Google. Sua residência, contudo, ficava no centro de Jacareí, ainda existe e é hoje a sede do Museu de Antropologia do Vale do Paraíba.
O “velho Leitão de Jacareí” foi inspetor de obras, vereador, banqueiro, delegado e juiz. Segundo registros históricos, era conhecido como grande filantropo porque doou, junto com o Primeiro Barão de Jacareí, o dinheiro necessário para a compra do terreno da Santa Casa; construiu o altar da capela do hospital e custeou a estada de pessoas pobres no local. Estes parecem ter sido o lado positivo de sua vida. Entretanto, apesar disso sua grande fortuna foi construída no tráfico negreiro e em empréstimos de dinheiro mediante hipoteca de imóveis. O pior: durante a década de 1860 foi considerado como o maior escravagista da região do Rio Parnaíba, e isto faz esmorecer tudo o que se poderia fazer para enaltecê-lo.
Eu e minha saudosa prima Lúcia Helena Souto Martini, falecida há dois
meses, planejávamos ir a Jacareí (cidade natal de meu pai) para visitarmos as
antigas propriedades de nosso tetravô e seu túmulo no Cemitério Municipal Campo
da Saudade, e para iniciarmos as pesquisas para nosso projeto que era escrever
a biografia do “velho Leitão”. O falecimento súbito de minha prima querida
abalou-me profundamente. Entretanto, espero não desistir das pesquisas sobre o nosso
referido antepassado e levar adiante, agora sozinho, os nossos antigos planos.
O
velho Leitão no livro “Civilização do Café”
Poucos livros referem-se a João da Costa Gomes Leitão. Graças ao site
Estante Virtual, encontrei “Civilização do Café” num sebo. Seu proprietário e
leitor anterior chamava-se Sylvio Ribeiro, que adquiriu o exemplar em Ribeirão
Preto no dia 26 de abril de 1968, portanto, há longos 57 anos.
Na dedicatória, o autor revela ser da quinta geração (tetraneto) de João
da Costa Gomes Leitão, o famoso Leitão de Jacareí, cujo túmulo leva o
surpreendente epitáfio: “muito trabalhou, muito ganhou e nada gozou”. Por ser
seu descendente, Alves Motta Sobrinho faz diversas referências à família
Leitão.
Nas páginas de 20 a 29 o autor
menciona feitos de um dos descendentes do velho escravagista e publica a sua
única fotografia conhecida, com esta legenda: “O Alferes João da Costa Gomes
Leitão, riquíssimo negociante e cafeicultor de Jacareí, sustentáculo da Guerra
do Paraguai na região, e um dos maiores acionistas da Estrada de Ferro São
Paulo-Rio”.
Na página 66 o autor revela que Leduína Maria da Conceição Leitão,
sétima filha do “alferes” ou “coronel” Leitão (títulos que eram atribuídos
pelo costume, na época, a pessoas importantes) casou-se com o Barão de Castro
Lima, de Lorena, e confirma que o “coronel” ajudou a custear a Guerra do
Paraguai.
Na fotografia da página 72, Leduína (à direita) e uma familiar transportadas “serra acima”, em balaios de palha, por um burro. O pobre animal vai amordaçado. Este era o sistema usual para as mulheres circularem em suas fazendas, e era também como às vezes viajavam de um povoado a outro próximo.
Mais comentários menos importantes nas
páginas abaixo:
Minha tia Jurema de Barros Souto, irmã de meu pai, uma das melhores
memorialistas de sua geração, contava a seus sobrinhos que os sobrenomes Souto,
Malta, Salles Oliveira, Silveira Peixoto, Alves Souto e Alves Guimarães eram interligados,
isto é, tinham a mesma origem familiar. É justamente o que o autor do livro
revela na página 85 abaixo:
Sem estender-me em mais comentários, eis mais algumas páginas referindo-se
ao “velho Leitão de Jacareí”.
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A escritora Ludmila Saharovsky, seu livro
“Jacareí: Tempo & Memória” e o velho Leitão de Jacareí
Meu pai Arary Souto e mais quatro de seus irmãos nasceram em Jacareí, pois naquela época meu avô Francisco Souto Júnior ali residia porque ele estava ajudando a administrar algumas fazendas dos filhos e netos herdeiros do seu bisavô, o velho João da Costa Gomes Leitão.
No começo da década de 10 deste corrente século XXI,
quando fiz as primeiras pesquisas na internet sobre meu tetravô Leitão, soube
do lançamento do livro “Jacareí: Tempo & Memória”, da autoria de
Ludmila Saharovsky.
Entrei em contato com a referida escritora interessado em conhecer mais
sobre meu tetravô e um pouco sobre a cidade natal de meu pai, e também
para saber se essa autora conhecia ou teria contato com alguns descendentes do
“velho Leitão de Jacareí”. Para minha surpresa, Ludmila Saharovsky enviou-me um exemplar de seu interessante e precioso livro e disse-me que na sua
cidade já não residia mais nenhum descendente daquele vulto histórico.
Quando entrei em contato com minha saudosa prima Lúcia Helena Souto Martini e contei-lhe sobre o livro de Ludmila Saharovsky, minha parente exclamou muito surpresa: “A Ludmila Saharovsky? Conheço-a; é maravilhosa! Estive com ela!”.
Como tal contato ocorreu há bem mais de 10 anos, não me recordo em que circunstância Lúcia Helena a conheceu; talvez fosse no próprio lançamento do livro ou, quem sabe, no tempo em que...
As cinco fotografias abaixo são de trechos do livro de Ludmila que em breve comentarei isoladamente neste mesmo blog.
Referências de Ludmila Saharovsky ao “velho Leitão
de Jacareí”:
A tentativa de suicídio e a morte do velho Leitão.
João da Costa Gomes Leitão infelizmente teve um fim
muito triste. Ele sofreu um derrame cerebral – um AVC – e após quatro meses
transcorridos, tentou o suicídio com um tiro na cabeça. A bala não penetrou no
crânio, mas sua saúde agravou-se e ele
veio a falecer somente dois anos depois.
Vide, acima, a notícia da tentativa de suicídio que
foi publicada no jornal de Jacareí. Vou em seguida atualizar a ortografia da
publicação, para que o meu leitor compreenda mais facilmente o que diz o texto
do jornal:
“TENTATIVA DE SUICÍDIO – Refere-se o Diário: ‘Em Jacareí tentou suicidar-se, no dia 25 do corrente, o importante fazendeiro e capitalista João da Costa Gomes Leitão, disparando um tiro de revólver na região geniana, cuja bala não tendo penetrado, ao que parece, até o crânio, e nem talvez ofendido órgão importante, não causou a morte instantânea, sendo infelizmente provável que venha afinal a sucumbir, não obstante os socorros da medicina aplicados pelos doutores Luiz P. Barreto e Nyvi. Atribui-se este fato lamentável a um extravio da razão, consequência de uma paralisia que o acometeu há quatro meses’.”
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