segunda-feira, 21 de outubro de 2024

CADA UM CAI DO BONDE COMO PODE, de Rafael Valdomiro Greca de Macedo (RAFAEL GRECA), por Francisco Souto Neto.

 

LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

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Capa de CADA UM CAI DO BONDE COMO PODE de RAFAEL VALDOMIRO GRECA DE MACEDO.

 

Rafael Valdomiro Greca de Macedo, o autor. 


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Comendador Francisco Souto Neto (foto de 2015)

 

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CADA UM CAI DO BONDE COMO PODE

 

Comentário por Francisco Souto Neto

  

Hoje, 20 de outubro de 2024, é o dia em que resolvi escrever sobre o livro acima, da autoria do atual prefeito de Curitiba que se encontra nos últimos meses de seu mandato, cargo que exerce pela terceira vez. Trata-se do primeiro livro escrito por Rafael Greca, publicado em 1975, quando ele tinha apenas 19 anos de idade.

Naquele 1975 eu era inspetor do Banco do Estado do Paraná e estava com 32 anos, prestes a ser convidado para o cargo de Assessor de Diretor do banco oficial do Paraná, o que se deu no ano seguinte.

Comprei este exemplar provavelmente no começo da década de 80, interessado em conhecer a história dos tipos populares de Curitiba, não só daqueles que vogavam pelas ruas do centro da capital, como também dos que já haviam falecido há décadas, mas que continuavam – e continuam ainda – na memória dos curitibanos.

As ilustrações especialmente feitas para o livro são de Jair Mendes, querido e saudoso meu amigo. O autor também colheu desenhos de E. Pichote, Columero, Cadiz, Marcelo, Janot e Joca, e nosso contemporâneo Dante Mendonça.

Abaixo, cópias de algumas das páginas do livro para ter-se uma ideia de seu conteúdo.

Capa de livro de 1975.


Páginas 12 e 13.


Páginas 18 e 19.


Páginas 20 e 21.

Como conheci Rafael Greca


No ano de 1981 foi inaugurado o Museu de Arte Sacra de Curitiba, instalado no anexo da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, que é o templo mais antigo da cidade, com entrada pelo Largo da Ordem. Adentrei-me ao museu e, enquanto admirava o seu acervo, ouvi uma voz de alguém que discursava em algum lugar do museu. A dicção de quem falava pareceu-me um tanto artificiosa. Apenas por curiosidade, desviei-me das salas de exposição e continuei andando em direção ao som daquela voz, até que dei num auditório ocupado por senhoras sentadas em cadeiras comuns, de costas para a porta onde eu me encontrava. Um jovem robusto, em pé, falava a elas e o tema talvez fosse sobre religião. Ele me olhou bem nos olhos e eu, sentindo-me intruso, retornei ao setor do acervo do museu. Após mais alguns passos, lá encontrei uma colega do Banestado, cujo nome infelizmente não consigo me recordar. Tal como eu, ela também estava conhecendo o novo museu.

Após algum tempo caminhando juntos e conversando, terminamos a visita. Quando íamos saindo, o jovem orador também deixava o interior do museu, e minha colega falou-me que conhecia o rapaz. Ao passar por nós, ele a cumprimentou efusivamente, e ela nos apresentou um ao outro.

Enquanto caminhávamos de volta ao trabalho minha colega disse-me que aquele rapaz era autor de um livro pitoresco, denominado “Cada um cai do Bonde como Pode”. Que coincidência, eu havia comprado esse livro há não muito tempo, e então a partir dali, inconscientemente vinculei o livro à figura do seu autor.


Reencontro com Rafael


Tempos depois, quando estava indo a pé para casa, um carro parou ao meu lado e o motorista buzinou para me chamar a atenção. Reconheci o Rafael. “Estamos indo na mesma direção; quer uma carona?”. Aceitei, agradeci e lá fomos.

Rafael me pareceu muito culto; não me lembro sobre o que teríamos conversado, exceto uma frase dele que achei curiosa e nunca me esqueci. Disse-me ele exatamente isto: “O seu Português é bem castiço. Lá em casa nós também só falamos assim”. Achei-o um tanto empertigado, porém sem dúvida era um jovem muito bem educado e gentil, a ponto de oferecer-me carona quando nós tão pouco nos conhecíamos. Depois de vários quarteirões ele viraria o carro para um lado e eu teria que seguir para o outro lado, já muito perto de minha casa. Agradeci muito pelo bom trecho que não precisei percorrer a pé... e nada mais soube dele, exceto no ano seguinte, 1983, quando soube que ele foi pela primeira vez eleito vereador por Curitiba.


A cronista social Margarita Sansone que anos mais tarde se casaria com Rafael


Margarita Sansone tinha sua coluna social, Zoom, na Gazeta do Povo, o jornal mais importante e lido de Curitiba. Algumas vezes ela, muito gentilmente, referiu-se a mim em Zoom. Foi uma época em que eu estava em bastante evidência por causa de meu trabalho no Banestado. Abaixo, duas das ocasiões em que  Margarita fez referências a meu respeito.

A cronista social Margarita Pericás Sansone.


Em 1982, ao ser inaugurada por Jaime Lerner a rua em homenagem à memória de meu pai Arary Souto, a cronista social Margarita Sansone gentilmente divulgou o acontecimento em sua coluna da Gazeta do Povo. Na foto: Francisco Souto Neto, Ivone Souto da Rosa, Everaldo Silva, Edith Barbosa Souto, Jaime Lerner e um vereador.


Em 1983, quando Wilson Barbosa Martins, o primo de minha mãe, foi eleito governador de Mato Grosso do Sul, eu e minha genitora viajamos a Campo Grande para assistirmos à cerimônia de posse, o que foi divulgado por Margarita Sansone em sua coluna social.


Três vezes prefeito e meus elogios no princípio

Rafael seguiu carreira política vertiginosamente. Foi secretário de Planejamento e Coordenação Geral do Estado do Paraná em 1997 e secretário-chefe da Casa Civil de 1997 a 1998.

Rafael Greca quando deputado federal.

Em 1998 foi eleito deputado federal, o mais votado do Paraná. Chegou a ser ministro de Esporte e Turismo no segundo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso de 1999 a 2000. Vi-o, ao lado de Margarita, sendo entrevistado por Hebe Camargo. E prefeito de Curitiba foi por três vezes, a primeira delas com o apoio de Jaime Lerner com quem rompeu depois.

Ao candidatar-se pela primeira vez à prefeitura de Curitiba, elegeu-se. Teve meu voto. Nas colunas que eu então publicava em jornais e revistas de Curitiba, aplaudi sua chegada ao cargo de alcaide. Na minha coluna Expressão & Arte, de página inteira no Jornal de Domingo de 11 de agosto de 1996, ilustrei meu texto com uma fotografia do meu dedo sobre o prédio da Prefeitura, cuja legenda foi “No toque do moderno Midas, o bom gosto ao invés do ouro”. O título que dei à matéria foi “O dedo do Rafael e a Arte no Urbanismo”. O prefeito telefonou-me, agradecendo pelo meu artigo e pela referência ao "dedo de Midas"...


"O DEDO DO RAFAEL E A ARTE NO URBANISMO", Expressão & Arte, de Francisco Souto Neto, coluna em página inteira no Jornal de Domingo de 17.8.1996.


Quem desejar ler o artigo acima, encontrará sua transcrição no “site” abaixo:

 https://fsoutoneto.wordpress.com/2013/05/01/expressao-arte-por-francisco-souto-neto-curitiba-11-a-17-ago-1996/


Depois, o desencanto com Rafael


Com a passagem dos anos podemos mudar de opinião sobre qualquer assunto e nem sempre tudo é como desejaríamos que fosse. Jaime Lerner, por exemplo, a quem tanto elogiei quando prefeito, passei a criticar quando tornou-se um governador medíocre e fingidor.

Eu sempre fui um entusiasta em prol da construção do metrô curitibano. O primeiro prefeito a prometer este novo sistema de transporte coletivo para Curitiba foi justamente Jaime Lerner. Aquele prefeito apresentou seu projeto como “um pré-metrô” numa curta linha norte-sul, que seria subterrânea desde as imediações da Av. Getúlio Vargas, passando ao lado do prédio dos Correios (vizinho do edifício da Universidade Federal do Paraná) até ao Passeio Público, donde depois emergiria e prosseguiria já como um metrô de superfície através da Av. João Gualberto rumo ao norte. Esse projeto foi capa do carnê do IPTU de Curitiba.

Prefeitos sucederam-se prometendo construir o nosso metrô, cada um deles com um projeto e linhas diferentes do anterior... mas todos os que se comprometeram com esse projeto não o cumpriram, pois não passava de lorota com fins eleitoreiros.


Fartas verbas para o metrô de Curitiba


Em 2011 Dilma Rousseff, na presidência da República, veio pessoalmente a Curitiba na gestão de Luciano Ducci como prefeito, trazendo uma vultosa  verba de 1,7 bilhão de reais para o início das obras, como se vê na reportagem abaixo, até com a ilustração da primeira linha do metrô:


https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2011/10/dilma-oficializa-repasse-de-verba-para-primeira-fase-do-metro-de-curitiba.html


Em outubro de 2013, com Gustavo Fruit na prefeitura, a verba para a construção do metrô mostrava-se insuficiente, e então Dilma Rouseff voltou a Curitiba repassando mais R$4,56 bilhões para que a construção começasse. 

Na ocasião foi divulgado até o mapa do metrô, e quais os bairros que seriam alcançados pela primeira linha...  exultei ao ler que uma das estações seria no Centro Cívico, onde eu residia quase colado ao Palácio da Justiça, mas nada disso aconteceu.


https://exame.com/economia/dilma-anuncia-investimentos-no-metro-de-curitiba/



Decepção com Greca que afirma: "Metrô é para toupeira"!


Em 2016 assumiu Rafael Greca na prefeitura e lá permanece até hoje (estamos em outubro de 2024, no final de sua gestão). O transporte coletivo através de canaletas para ônibus articulados, exemplar quando criado por Jaime Lerner, tornou-se precário. E o que foi feito da gigantesca verba para o metrô?! Disse o prefeito Rafael Greca que ele é contra o metrô e que usou a verba para outros fins da mobilidade urbana. Sua absurda justificativa através do jornal televisivo  foi: “Metrô é para toupeira”.

Ao início do segundo mandato de Rafael como prefeito, o jornalista Haroldo Murá havia me entrevistado com Rodrigo de Lorenzi para eu figurar no seu livro Vozes do Paraná Volume 9. Ali, quando perguntado por Lorenzi, declarei o que penso do nosso alcaide:



Capa de Vozes do Paraná Volume 9 com os nomes dos convidados pelo autor.

Páginas 158 e 159.

Detalhe ao final da página 159, a pergunta a mim formulada foi: “Você foi um grande incentivador da cultura e um grande curador. Como enxerga a cultura no Paraná hoje e toda a polêmica com leis de incentivo, o cancelamento da Oficina de Música, entre outras coisas?”. É que Rafael Greca, ao assumir a Prefeitura, cancelou um dos eventos mais tradicionais de Curitiba, de importância nacional. Minha resposta vai no final da página 159: “...o que esperar de quem diz que metrô é para toupeira?”. 

Pobre Curitiba! Quem já viajou, como eu, por Américas, Europa, Ásia e África, sabe que o metrô subterrâneo, ou de superfície (agora o VLT) ou o aéreo, é um tipo de transporte imprescindível às cidades consideradas evoluídas. Até no Cairo, incrivelmente até mesmo em Jerusalém (cidades onde já estive) foram implantados VLT com estrondoso sucesso para as pessoas que dependem de transporte coletivo. O primeiro VLT que vi na minha vida foi em Strasbourg, na França, quase no fim do século passado, onde tirei uma fotografia evocando “O Grito” de Munch. A minha foto, abaixo, pode ser traduzida como “Até aqui na pequena Strasbourg? E Curitiba, SOCORRO, quando nossa capital chegará a esse nível?”.


Francisco Souto Neto em Strasbourg (França) parodiando “O Grito” de Munch e fingindo “choque cultural”: quando Curitiba chegará a este nível em transporte público coletivo? 

A fotografia acima já é antiga; tem mais de ¼ de século. Como se vê o "progresso" chega aos países desenvolvidos décadas antes do Brasil. 

Estou com 81 anos e agora sei que jamais verei Curitiba alcançando o patamar de grande metrópole do transporte sobre trilhos. Talvez nas próximas gerações de prefeitos, talvez somente na segunda metade do século XXI.


O prefeito Rafael Greca em fim de mandato em 2024. 

Ao encerrar, não posso deixar de manifestar algo como uma comiseração pelo atual prefeito em final de mandato, cuja esposa, Margarita, infelizmente faleceu há poucos meses. 

Apesar dos erros, é inegável o amor de Greca por Curitiba. Aposentando-se, poderá dedicar-se a atividades mais amenas. Seria muito bem-vindo o volume 2 de “Cada um cai do Bonde como Pode” com as figuras dos “tipos populares” que surgiram nos últimos 50 anos... pois meio século já transcorreu desde o seu jovial, despretensioso e divertido livro, objeto de todas as reflexões que acabo de fazer.


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O autor Francisco Souto Neto em 2024, aos 81 anos, 5 meses após três fraturas no ombro esquerdo e agora com "dedo em gatilho" no anelar.

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quarta-feira, 27 de julho de 2022

“CRÔNICAS DA PANDEMIA”, uma coletânea organizada por Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado, da Academia de Letras José de Alencar.

 LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

 

“CRÔNICAS DA PANDEMIA”, uma coletânea organizada por Anita Zippin e Alberto Vellozo Machado, da Academia de Letras José de Alencar


 
Capa do livro Crônicas da Pandemia  

 
Comendador Francisco Souto Neto

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O livro CRÔNICAS DA PANDEMIA

 

Anita Zippin, que preside a Academia de Letras José de Alencar – ALJA em Curitiba, e Alberto Vellozo Machado, membro do mesmo sodalício, idealizaram a publicação de uma coletânea lítero-poética versando sobre a pandemia da Covid-19, que reunisse autores também de outras instituições ligadas às letras, tais como o Centro de Letras do Paraná, a Academia Feminina de Letras do Paraná, a Academia Paranaense da Poesia, o  Observatório da Cultura Paranaense e a União Brasileira de Trovadores Seção Curitiba.

Luiz Fernando de Queiroz, da Editora Bonijuris Ltda., que há anos tem dado grande apoio à ALJA, prontificou-se a editar a obra. Assim, os convites foram feitos a inúmeros intelectuais, para que participassem da concepção do livro. A mencionada advogada Anita Zippin sugeriu aos autores que não se referissem especificamente ao horror da doença que envolveu todo o planeta – e que ainda nos fustiga –, mas que em textos curtos procurassem aspectos de menos austereza.

Estávamos no terceiro ou quarto mês da pandemia, em 2020, quando escrevi minha crônica. Denominei-a “A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos”. Impresso e lançado o livro no corrente mês de julho de 2022, vejo meu trabalho estampado em segundo lugar, à página18. 

A apresentação da obra vem assinada por Anita Zippin e Joatan M. de Carvalho, respectivamente presidenta e 1º vice-presidente da ALJA.

A capa do livro é da autoria de João Carlos Bonat, meu confrade da Academia. Muito bem inspirada e não menos do que genial, a capa de Bonat mostra  um homem moderno que usa a antiga máscara denominada doctore, que os médicos venezianos adotaram na Idade Média quando a peste chegou ao Vêneto, e que consiste na cara de um pássaro com longo bico. Dentro daquele enorme bico os médicos carregavam flores, cujo perfume não apenas tentava disfarçar um pouco o cheiro dos corpos em putrefação, como também imaginavam eles que o perfume afugentasse a peste. Pobres doutores daqueles tempos medievais, que não sabiam que a Peste Negra era transmitida por pulgas.


 
Gravura antiga que mostra um "Doutor da Peste" andando por Veneza na Idade Média, com a máscara que, carregando flores dentro do bico, imaginava estar protegido do contágio.

 

Pequena máscara "doctore" que comprei em Veneza.

O livro “Crônicas da Pandemia” foi lançado no dia 5 do corrente mês de julho de 2022, no salão nobre do 2º andar do Tribunal de Justiça do Paraná. Eu não compareci às solenidades do lançamento porque continuo em relativo isolamento, sem entrar em ambientes fechados e com muitas pessoas presentes. É a primeira vez que não compareço ao lançamento de livro meu em coautoria, mas é uma das formas de me proteger. Vale deixar o registro de que hoje, 27 de julho de 2022, quando escrevo estas linhas, eu soube de que no restaurante onde costumo almoçar quase diariamente na companhia de meu amigo Rubens, o garçon que está ausente há uma semana e que costuma nos atender às vezes na pesagem dos pratos, está em isolamento porque foi diagnosticado com covid. Os demais, como a moça do caixa, felizmente não foram contaminados. Aí está: a pandemia ainda não acabou e eu acho que todos temos a obrigação de nos protegermos da maneira que acharmos mais conveniente. 

Minha sobrinha e afilhada Dione Mara Souto da Rosa também participa da obra, na parte que conta com colaborações na forma de poemas.

 

 
Anita Zippin, presidenta da Academia de Letras José de Alencar - ALJA. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Anita Zippin entre Joatan Marcos de Carvalho, 1º vice-presidente da ALJA, e Alberto Vellozo Machado, prefaciador de Crônicas da Pandemia e organizador da obra. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Joatan Marcos de Carvalho, Anita Zippin (exibindo Crônicas da Pandemia) e Alberto Vellozo Machado. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
A plateia durante a solenidade. A acadêmica Dione Mara Souto da Rosa, uma das coautoras da obra, de blusa verde, é uma das poucas pessoas presentes a usar máscara de proteção contra a covid.  Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
Luiz Fernando de Queiroz, proprietário da Editora Bonijuris, que graciosamente editou Crônicas da Pandemia. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
O acadêmico João Carlos Cascaes, diretor da ALJA, que na mesma ocasião lançou seu livro Ética & Envelhecimento. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

Ética e Envelhecimento, de João Carlos Cascaes, em lançamento simultâneo com Crônicas da Pandemia. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

 
O acadêmico João Carlos Bonat, autor das capas de Crônicas da Pandemia e Ética & Envelhecimento, ao lado de Anita Zippin, presidenta da ALJA. Crédito fotográfico: SemeARTE Cultura - Arriete Rangel de Abreu.

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“A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos”

 

Capa de Crônicas da Pandemia.

Ficha técnica do livro da Editora Bonijuris Ltda., de Luiz Fernando de Queiroz.

Páginas 18 e 19 da crônica de Francisco Souto Neto.

 

Páginas 20 e 21 da crônica de Francisco Souto Neto.

Relação dos participantes da obra, página 160.

 
Francisco Souto Neto, autor de A vida escancarada de meus simpáticos vizinhos, em casa durante a pandemia. 

 
Zaribu e Zaribua no apartamento de cobertura do prédio situado atrás do meu. 

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terça-feira, 12 de julho de 2022

VESPASIANO, MEU PAI, de Nelly Barbosa Martins. Por Francisco Souto Neto.

 

LIVROS COM HISTÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

 

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VESPASIANO, MEU PAI

 

Capa de Vespasiano, meu pai (Centro Gráfico do Senado Federal – Junho 1989) de NELLY MARTINS.

 Capa e contracapa: fotografias de Vespasiano e Celina, pais de Nelly Martins. 

 
Autora Nelly Martins. Fotografia de Francisco Souto Neto em 1983, quando Nelly dirigia-se ao local onde o marido Wilson Barbosa Martins tomava posse como governador de Mato Grosso do Sul, tendo Ramez Tebet (pai de Simone Tebet) como seu vice.

 
Comendador Francisco Souto Neto

 

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A autora, Nelly Martins (1923-2003), prima de minha mãe Edith Barbosa Souto (1911-1997), era filha do médico Vespasiano Barbosa Martins (1889-1965), que foi governador do estado de Mato Grosso Uno, além de ter sido prefeito de Campo Grande por três vezes e senador da República em dois mandatos. Ela casou-se com um primo, Wilson Barbosa Martins (1917-2018), com o mesmo sobrenome do seu pai Vespasiano, que também teve uma carreira política de enorme importância, e foi governador de Mato Grosso do Sul durante dois mandatos, senador e deputado federal também por duas vezes, além de prefeito da então futura capital Campo Grande.

Isto significa que Nelly Martins foi filha de um governador, Vespasiano, e esposa de outro, o Wilson. Pode-se facilmente imaginar que Nelly teve uma vida admirável.  

No ano de 1964, nas minhas férias do Banestado, eu resolvi conhecer Brasília. Fiz a viagem desde Ponta Grossa, de ida e volta em ônibus. Na nova capital do Brasil , inaugurada há apenas 4 anos, visitei Wilson (que na época era deputado federal) e Nelly; em seu apartamento encontrava-se a filha Celina, uma jovem muito bonita que ao violão tocou e cantou “Guantanamera” para eu ouvir. Na mesma ocasião também me encontrei com Tio Valério (tio de minha mãe) que era médico no Senado Federal, e Tia Nadir, soprano, que fora cantora de ópera no Rio de Janeiro. 

Depois disso, voltei a ver Wilson e Nelly somente em 1983, quando Wilson foi eleito governador, e eu e minha mãe fomos à sua posse, na companhia de minha prima Terezinha Barbosa Macedo. O relato dessa viagem, com interessantes fotos, está no artigo abaixo, que escrevi quando Wilson Barbosa Martins completou 100 anos de idade, em 2017, referindo-me a ele e Nelly, e mencionando Vespasiano e alguns outros parentes, com fotografias interessantes que hoje devem ser de importância histórica. Naquele texto, conto também que quando da pandemia da Gripe Espanhola, minha mãe aos 7 anos em 1919, e seu pai (meu avô materno) foram contagiados pela doença. Meu avô não resistiu e faleceu. Minha mãe recebeu a atenção desvelada de Tio Vespasiano – seu tio-avô médico – que lhe deu assistência duas vezes ao dia, e sobreviveu graças a ele. Este é o link onde faço tais relatos:


http://fsoutone.blogspot.com/2017/06/os-100-anos-de-wilson-barbosa-martins.html


A casa paterna de Nelly era um palacete afastado da rua, em terreno que abrangia o quarteirão inteiro, entre arvoredos e jardins, no centro de Campo Grande. Em 1953 nós residimos na Av. Calógeras, a meia quadra da Av. Afonso Pena. O palacete de meu tio-bisavô, pai de Nelly, localizava-se na mesma Avenida Calógeras, no segundo quarteirão após a Afonso Pena. Eu estudava em meu 3º ano primário no Colégio Oswaldo Cruz, muito perto dali, localizado na atual Av. Fábio Zahran nº 5500, a não mais de uns 300 metros de minha casa. Naquele tempo, em frente ao colégio passava a linha férrea cujos trens de passageiros faziam a ligação Campo Grande – São Paulo. Então, tanto na ida quanto na volta do meu caminho para o colégio, eu passava ao lado do palacete de Tio Vespasiano e admirava a imponência da construção, que foi a primeira residência de alvenaria da cidade e que em 1953 já era uma vivenda antiga.


O palacete de Vespasiano Barbosa Martins. Encontrei na internet esta única referência à casa de meu tio-bisavô!

 
À direita, o antigo Colégio Oswaldo Cruz. A rua era muito mais larga e à esquerda da fotografia, onde há carros estacionados atrás de uma cerca aramada, estavam os trilhos da estrada de ferro, cujos trens ligavam Campo Grande a São Paulo (Foto da internet).


Fachada do Colégio Oswaldo Cruz (Foto da internet) 


Em seu livro “Vespasiano, meu pai”, Nelly lembra-se de como era sua casa:

 

Página 97.

Página 98.

 

No mesmo livro, um capítulo que mostra a um só tempo o refinamento da autora e seu senso de humor:

 

Página 89.

Página 90.

 

No ano inteiro de 1953 eu e minha família residimos em Campo Grande, onde meu pai Arary Souto organizou e inaugurou um jornal diário a convite de Wilson Martins, então prefeito. Algumas fotos daquele período:


Nosso bangalô de alvenaria na Av. Calógeras, a uns 50 metros da esquina com a Av. Afonso Pena, onde residimos em 1953. Na varanda, meu irmão Olímpio com seu cão basset Bopí, uma amiguinha cujo nome não me recordo, eu Francisco Souto Neto e um primo que não sei identificar. No portão, minha mãe Edith Barbosa Souto e meu primo Renato Barbosa de Rezende (filho de Alair), com uniforme do seu colégio. 

Na varanda de casa, meu irmão Olímpio com seu basset Bopí. Ao fundo, minha mãe e minha amiguinha debruçada no parapeito da varanda.

No dia 7 de setembro, eu desfilando quando aluno do Colégio Oswaldo Cruz.

 

Tio Vespasiano Barbosa Martins na rede, no quintal de sua casa.

Nelly foi uma pessoa de grande cultura e sensibilidade. Apesar de ter tido uma vida abastada, foi sempre muito simples. Quando seu marido Wilson foi prefeito e depois governador do Estado, Nelly pedia para não ser tratada por “primeira-dama”. Além de apegada às letras, Nelly era uma artista plástica de reconhecido talento.

Mantive uma interessante correspondência com Nelly durante muitos anos. Tenho guardadas algumas de suas cartas, e vou anexar somente duas delas. A primeira, de 1986, porque diz respeito à sua pintura; a segunda, de 1995, do tempo em que foi a primeira-dama de Mato Grosso do Sul.

 

Nelly Martins artista plástica

 

Em 1986 Nelly expôs em Campo Grande. Abaixo, o seu convite-catálogo com 8 páginas, que recebi anexo a um recorte de jornal e a algumas palavras dela:

 

 
O catálogo-convite.

 

O catálogo-convite.

 
O catálogo-convite.

 

O catálogo-convite.

 
O recorte de jornal que veio com o catálogo-convite refere-se a uma tia de Nelly, a também artista plástica Lydia Baís e à preservação de sua obra.



 
Acima, a mensagem de Nelly Macedo, de novembro de 1986, que veio anexa ao catálogo-convite, quando Wilson estava em campanha para senador – e, realmente, foi eleito.

 

Nelly Martins primeira-dama de Mato Grosso do Sul


 
Fotografia de Francisco Souto Neto em 1983, quando Nelly dirigia-se ao local onde o marido Wilson Barbosa Martins tomava posse como governador de Mato Grosso do Sul, tendo Ramez Tebet (pai de Simone Tebet) como seu vice.

Acima, após a posse do governador, a primeira-dama recebe suas parentes. Da esquerda para a direita: Nelly Martins, sua tia Nadir Martins, prima Nêmesis de Lima, cunhada Ruth Barbosa Martins, sogra Adelaide Barbosa Martins, e primas Edith Barbosa Souto e Naíde Martins. 

A mensagem abaixo foi escrita por Nelly Macedo em julho de 1995, quando ela era a primeira-dama da Mato Grosso do Sul. O Governador estava com 78 anos, a minha idade ao escrever este artigo. Ela relata que ela e Wilson estiveram em Nova York e Washington, onde Wilson “foi ao BID tentar conseguir um empréstimo para um Projeto Pantanal. Foi elogiado e parece que no próximo ano sai a negociação, considerando que foi, seu projeto, prioritário. Ficamos felizes”. Mais adiante, refere-se ao seu trabalho (do qual nada recebia, logicamente) na qualidade de primeira-dama do Estado: “Sou presidente (de fato) do órgão assistencial do governo. Trabalho muito, mas não recebo nada. Tenho 700 e tantos funcionários, 31 creches, 25 polos em bairros, 48 hortas comunitárias (em bairros), meninos de rua em vários programas especiais, promovo campanhas pró programas sociais (este mês um bingo de carro 0 km) e o mês que passou uma festa junina na praça por 8 dias, com 50 e tantas barracas, baile, quadrilhas, pesque infantil, jogos, uma loucura”. E após despedir-se, um post scriptum: “Meu trabalho se estende ao interior. Assinamos, este ano, 208 convênios. Nenhum município ficou de fora. É uma luta”.



 
Mensagem de Nelly Macedo de julho de 1995.

 

São apontamentos que poderão ser interessantes para a História de Mato Grosso do Sul e, por extensão, do Brasil.

 Nelly escreveu diversos outros livros, alguns dos quais são os que aparecem abaixo:



Capa de “Duas Vidas” de Nelly Macedo com dedicatória.


 
Capa de “Casos Reais” de Nelly Macedo com dedicatória.


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