FOGO NO BORDEL: MEMÓRIAS DE TECA SANDRINI.
Autor: RICARDO FREIRE
LIVROS COM HISTÓRIAS PARALELAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro
pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O
exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras,
ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos
leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante.
Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a
determinados exemplares da minha biblioteca.
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FOGO NO BORDEL:
MEMÓRIAS DE TECA
SANDRINI,
de RICARDO FREIRE
por Francisco Souto Neto
Um dos mais fascinantes livros que li ultimamente é “Fogo no Bordel:
Memórias de Teca Sandrini”, escrito por Ricardo Freire. Ambos, Teca e Ricardo, são
meus amigos há longa data e, como não bastasse, estou mencionado nessa
biografia, fato que muito me honra e envaidece.
Farei preliminarmente comentários sobre Teca e Ricardo.
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Teca
Sandrini
Acompanho a obra da artista plástica Teca Sandrini desde o ano de 1982
ou 1983 e por diversas vezes escrevi sobre a mesma na minha coluna “Expressão
& Arte” em jornais e revistas de Curitiba. Consultando meus arquivos, vejo
que embora eu tenha escrito sobre Teca Sandrini em várias ocasiões, ilustrei esses
meus textos com fotografias suas por apenas quatro vezes, e aqui estão estas quatro
referidas colunas que também registram a maneira como eu via e comentava a
criatividade da artista:
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Como Teca Sandrini tem dificuldades de visão, ela entregou ao brilhante
Ricardo Freire a reponsabilidade de escrever as memórias a ele reveladas. Essas
lembranças são fascinantes porque abrangem a história da própria capital do
Paraná, da política, da sociedade curitibana, da intelectualidade e da arte. Posso
afirmar, sem medo de estar exagerando, que Teca menciona centenas e centenas de
amigos meus, uns que já faleceram e outros que ainda continuam entre nós, e a
proximidade que tive e tenho com os mesmos faz com que muito do que se comenta no
livro me pareça bastante familiar.
Além disso, Teca Sandrini nasceu apenas um ano depois de mim. Morávamos
em cidades diferentes, eu em Ponta Grossa e ela em Curitiba, mas na minha
infância eu vinha muito à capital com meus pais, que tinham alguns amigos
mencionados por Teca em sua tenra idade; além disso, vivemos os mesmos costumes
vigentes à época (fins da década de 40 e começo dos anos 50) e sem dúvida fomos
igualmente afetados pelos acontecimentos culturais e políticos daquele período.
Depois que me mudei para Curitiba, na metade da década de 70, ainda que trabalhando
arduamente no Banco do Estado do Paraná na qualidade de Assessor de Diretor
durante os cinco dias úteis da semana, aos sábados e domingos eu escrevia e
publicava assuntos a respeito da vida cultural em Curitiba. Mais tarde minha
atuação no Banco expandiu-se e passei a cumular dois
cargos paralelos e simultâneos: passei a responder também como Assessor para
Assuntos de Cultura do Banestado.
Nesses períodos contei com grande apoio do diretor Octacílio Ribeiro da
Silva e dos presidentes Edisson Elleri Faust e Carlos Antônio de Almeida
Ferreira.
Nessa época concentrava-me, nos fins de semana, a visitar exposições de
artes plásticas e atividades ligadas à literatura, poesia, teatro e música e a
escrever críticas a respeito. Com a
passagem do tempo, envolvi-me mais diretamente com a produção e criatividade
dos artistas plásticos, chegando ao ponto em que, através dos diretores a quem
assessorei, eu consegui influir sobre sucessivas gestões do Banco oficial do
Paraná no seu apoio a essa parte importante da cultura paranaense. Minha coluna
em jornais e revistas foi o veículo que me possibilitou conhecer e até conviver
com as pessoas que faziam mover a cultura, notadamente os artistas plásticos. Por
causa dessa afinidade, o livro de Teca Sandrini levou-me a um reencontro com a
infinitude de pessoas que me foram e são ainda tão caras, muito especiais, que
passaram a fazer parte da minha vida.
As memórias da querida Teca Sandrini nada têm de superficiais. Sua
profundidade é tamanha, e tão intenso esse mergulho, que por momentos a leitura
do livro me surpreende, assombra e encanta, quase diria ao mesmo tempo. Essas revelações
em certos momentos tornam-se quase transcendentais e fazem-nos planar num éter
de delicadeza para, no momento seguinte, levar-nos tanto ao riso pelo insólito
ou às lágrimas pelo trágico. E tudo isso é relatado com a sensibilidade respeitosa
do escritor Ricardo Freire.
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Ricardo
Freire
O jovem autor é assim descrito na última página do livro: “Ricardo
Freire é graduado em História, especialista em História Antiga e Medieval e
mestre em Antropologia (UFPR). Colaborou com textos para livros (...) e
revistas (...). Ilustrou o livro Paz Guerreira (Nova Acrópole, 2011). Foi
voluntário e diretor da Casa do Contador de Histórias, em Curitiba”. Quero
acrescentar que ele é também ator e em duas diferentes ocasiões aplaudi-o
assistindo às suas atuações no palco. Além disso, Ricardo é ligado ao Museu
Oscar Niemeyer e foi assessor de Teca Sandrini na diretoria e presidência do
MON. Importante detalhe: Ricardo é calígrafo, o mais admirável que já conheci,
tanto que escrevi por duas vezes sobre sua caligrafia e publiquei na internet.
O meu primeiro artigo, em 31.10.2017, chamou-se “O livro do MON e Ricardo
Freire”. No segundo texto, para o Portal Iza Zilli, escrevi “Bela e má grafia”
em 11.12.2017, que com fotografias ilustrativas podem ser vistos e lidos nos
seguintes links:
https://fsoutone.blogspot.com/2017/10/livro-do-mon-e-ricardo-freire-o.html
https://fsoutone.blogspot.com/2017/12/bela-grafia-e-ma-grafia-por-francisco.html
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A primeira visita de Ricardo Freire
Recebi Ricardo Freire em três diferentes ocasiões. A primeira, quando
ele entrevistou-me em 2014 para uma exposição que seria realizada no MON (popularmente
conhecido como Museu do Olho) e teria como tema a História do Museu Banestado –
por mim criado – e os sucessivos Salões Banestado de Artistas Inéditos. Essa
exposição reuniu peças do acervo do Museu Banestado, do Salão Banestado de
Artistas Inéditos (que era realizado anualmente na Galeria de Arte Banestado) e
do Museu Paranaense (do qual eu fui conselheiro durante a gestão de Ennio
Marques Ferreira) e teve a duração de dois anos. As fotografias abaixo são da
primeira visita de Ricardo, quando eu residia no Centro Cívico e tinha
meu chihuahua Paco Ramirez:
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A inauguração da exposição no MON
Na inauguração da exposição, encontrei-me com Teca Sandrini que tirou
algumas fotografias comigo:
Mais uma vez, meu dedo aponta. Agora, na história do Salão Banestado de Artistas Inéditos que existiu até 9 anos após minha aposentadoria, e foi extinto por causa do fim do Banco do Estado do Paraná S. A.
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O ingresso de Teca Sandrini na
Academia de Letras José de Alencar
Em 28 de novembro de 2014 Teca Sandrini tornou-se minha confreira na
Academia de Letras José de Alencar, sob a presidência e a convite de Anita Zippin, em solenidade no Palacete dos Leões.
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A segunda visita de Ricardo Freire
A segunda visita de Ricardo Freire ocorreu em 2017, quando ele levou para mim, de presente, um exemplar do livro “Museu Oscar Niemeyer”, contendo matérias sobre as exposições ali realizadas, no qual meu trabalho no Banestado foi divulgado e enaltecido. Nessa ocasião meu amigo Rubens Faria Gonçalves, que residia no mesmo prédio, alguns andares acima do meu apartamento, desceu à minha residência com o seu buldogue francês que se chamava Tibério.
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A terceira visita de Ricardo Freire
Pedi ao Ricardo uma dedicatória no livro e em outra ocasião, agora
munido de suas canetas com penas próprias para a escrita gótica, ele voltou à
minha casa e fez a dedicatória com sua impressionante caligrafia, como se vê
abaixo:
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O lançamento de FOGO NO BORDEL
Voltemos, agora, à obra “Fogo no Bordel”, biografia de título instigante
e inteligente; entretanto não vou fazer “spoiler” (para usar um estrangeirismo
em voga entre os jovens) e deixar que os leitores de Ricardo Freire descubram
seu significado ao lerem o livro.
No dia 22 de março de 2024, “Fogo no Bordel” foi lançado no Palácio
Belvedere, com a presença de centenas de convidados, e a fotografia abaixo foi
tirada por Giovanna, filha de Teca Sandrini, quando Ricardo Freire começava a
escrever a dedicatória no meu exemplar.
Abaixo, a linda dedicatória no meu exemplar de “Fogo no Bordel”,
assinada por Teca Sandrini e Ricardo Freire.
Na página 340, a referência a meu nome.
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Conclusão
Mesmo não querendo ser repetitivo, nem prolixo, ao encerrar reafirmo que Ricardo romanceou
magnificamente tudo o que lhe foi contado por Teca Sandrini, e escreveu de um
modo tão próprio e com tamanho domínio e graça, que a leitura faz-se em enorme
deleite. Uma leitura agradabilíssima cheia de surpresas encantadoras e os
infortúnios tratados com tato e delicadeza.
Teca Sandrini não poderia ter escolhido ninguém melhor do que Ricardo Freire
para relatar suas memórias.
Que simbiose perfeita!