terça-feira, 3 de junho de 2025

LIVRO "FOGO NO BORDEL: MEMÓRIAS DE TECA SANDRINI". Autor: RICARDO FREIRE. Por Francisco Souto Neto.

 FOGO NO BORDEL: MEMÓRIAS DE TECA SANDRINI.

Autor: RICARDO FREIRE

 

 

 

LIVROS COM HISTÓRIAS PARALELAS QUE NÃO ESTÃO NOS LIVROS – Um livro pode conter muito mais do que aquilo que vem escrito no seu conteúdo. O exemplar pode ter histórias pessoais do seu dono, ou conter dedicatórias raras, ou ter sido emprestado e ter ali registradas impressões manuscritas dos leitores, por ter sido impresso há cem ou duzentos anos... e assim por diante. Este blog pretende, pois, contar algumas dessas histórias paralelas a determinados exemplares da minha biblioteca.

 

 Capa de “FOGO NO BORDEL: MEMÓRIAS DE TECA SANDRINI”, de RICARDO FREIRE. A imagem que ilustra a capa refere-se ao detalhe da obra “Atrás da Porta Fechada”, 2006/2019, óleo sobre tela, 130 x 110 cm, de Teca Sandrini. 




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Comendador Francisco Souto Neto em 2015.

 

 

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FOGO NO BORDEL:

MEMÓRIAS DE TECA SANDRINI,

de RICARDO FREIRE

 

por Francisco Souto Neto

 

Um dos mais fascinantes livros que li ultimamente é “Fogo no Bordel: Memórias de Teca Sandrini”, escrito por Ricardo Freire. Ambos, Teca e Ricardo, são meus amigos há longa data e, como não bastasse, estou mencionado nessa biografia, fato que muito me honra e envaidece.

 

Farei preliminarmente comentários sobre Teca e Ricardo.

 

 

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Teca Sandrini

 

Teca Sandrini

 

Acompanho a obra da artista plástica Teca Sandrini desde o ano de 1982 ou 1983 e por diversas vezes escrevi sobre a mesma na minha coluna “Expressão & Arte” em jornais e revistas de Curitiba. Consultando meus arquivos, vejo que embora eu tenha escrito sobre Teca Sandrini em várias ocasiões, ilustrei esses meus textos com fotografias suas por apenas quatro vezes, e aqui estão estas quatro referidas colunas que também registram a maneira como eu via e comentava a criatividade da artista:

 

Jornal Indústria & Comércio de 2.12.1989. Nesta coluna, no artigo “O Brilhante Retorno de Estela Sandrini”, Francisco Souto Neto refere-se ao tempo em que Teca residiu em Baltimore, nos Estados Unidos, onde expôs seus trabalhos e lecionou arte, e seu retorno a Curitiba.

https://fsoutoneto.wordpress.com/2011/09/22/expressao-arte-por-francisco-souto-neto-curitiba-2-a-4-dez-1989-p-20-jornal-industria-comercio-curitiba-2-a-4-dez-1989-p-20/

 

 

 
Jornal Indústria & Comércio de 19.4.1993, quando Teca Sandrini expôs na Galeria de Arte Banestado, um prestigiado espaço que fez parte do Programa de Cultura criado por Francisco Souto Neto na década de 80, quando no Banco oficial paranaense, o Banestado, no qual trabalhou durante 30 anos, e ocupava duas importantes funções: a de Assessor de Diretor (depois Assessor da Presidência) e de Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado.

https://fsoutoneto.wordpress.com/2012/11/07/expressao-arte-por-francisco-souto-neto-curitiba-19-abr-1993/

 

Jornal Indústria & Comércio de 24.12.1993, na coluna de Francisco Souto Neto, quando Teca Sandrini expôs no Espaço Cultural Ghignone em conjunto com quatro outros importantes artistas plásticos: Elizabeth Bastos Dias Titton, Luiz Antônio Guinski, Eleonora Gutierrez e Paula Sppivak.

https://fsoutoneto.wordpress.com/2012/12/03/expressao-arte-por-francisco-souto-neto-curitiba-24-a-27-dez-1993-p-f3/

 

Jornal Indústria & Comércio de 1º.10.1994 no artigo de abertura da coluna de Souto Neto: “Estela Sandrini expõe no Solar do Rosário”.

https://fsoutoneto.wordpress.com/2013/01/12/expressao-arte-por-francisco-souto-neto-curitiba-10-out-1994-p-f2/

 

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Como Teca Sandrini tem dificuldades de visão, ela entregou ao brilhante Ricardo Freire a reponsabilidade de escrever as memórias a ele reveladas. Essas lembranças são fascinantes porque abrangem a história da própria capital do Paraná, da política, da sociedade curitibana, da intelectualidade e da arte. Posso afirmar, sem medo de estar exagerando, que Teca menciona centenas e centenas de amigos meus, uns que já faleceram e outros que ainda continuam entre nós, e a proximidade que tive e tenho com os mesmos faz com que muito do que se comenta no livro me pareça bastante familiar.

 

Além disso, Teca Sandrini nasceu apenas um ano depois de mim. Morávamos em cidades diferentes, eu em Ponta Grossa e ela em Curitiba, mas na minha infância eu vinha muito à capital com meus pais, que tinham alguns amigos mencionados por Teca em sua tenra idade; além disso, vivemos os mesmos costumes vigentes à época (fins da década de 40 e começo dos anos 50) e sem dúvida fomos igualmente afetados pelos acontecimentos culturais e políticos daquele período.

 

Depois que me mudei para Curitiba, na metade da década de 70, ainda que trabalhando arduamente no Banco do Estado do Paraná na qualidade de Assessor de Diretor durante os cinco dias úteis da semana, aos sábados e domingos eu escrevia e publicava assuntos a respeito da vida cultural em Curitiba. Mais tarde minha atuação no Banco expandiu-se e passei a cumular dois cargos paralelos e simultâneos: passei a responder também como Assessor para Assuntos de Cultura do Banestado.

 

Nesses períodos contei com grande apoio do diretor Octacílio Ribeiro da Silva e dos presidentes Edisson Elleri Faust e Carlos Antônio de Almeida Ferreira.

 

Nessa época concentrava-me, nos fins de semana, a visitar exposições de artes plásticas e atividades ligadas à literatura, poesia, teatro e música e a escrever críticas a respeito.  Com a passagem do tempo, envolvi-me mais diretamente com a produção e criatividade dos artistas plásticos, chegando ao ponto em que, através dos diretores a quem assessorei, eu consegui influir sobre sucessivas gestões do Banco oficial do Paraná no seu apoio a essa parte importante da cultura paranaense. Minha coluna em jornais e revistas foi o veículo que me possibilitou conhecer e até conviver com as pessoas que faziam mover a cultura, notadamente os artistas plásticos. Por causa dessa afinidade, o livro de Teca Sandrini levou-me a um reencontro com a infinitude de pessoas que me foram e são ainda tão caras, muito especiais, que passaram a fazer parte da minha vida.

 

Pintura de Teca Sandrini em foto de Alice Varajão.

 

As memórias da querida Teca Sandrini nada têm de superficiais. Sua profundidade é tamanha, e tão intenso esse mergulho, que por momentos a leitura do livro me surpreende, assombra e encanta, quase diria ao mesmo tempo. Essas revelações em certos momentos tornam-se quase transcendentais e fazem-nos planar num éter de delicadeza para, no momento seguinte, levar-nos tanto ao riso pelo insólito ou às lágrimas pelo trágico. E tudo isso é relatado com a sensibilidade respeitosa  do escritor Ricardo Freire.

 

 

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Ricardo Freire

 

O jovem autor é assim descrito na última página do livro: “Ricardo Freire é graduado em História, especialista em História Antiga e Medieval e mestre em Antropologia (UFPR). Colaborou com textos para livros (...) e revistas (...). Ilustrou o livro Paz Guerreira (Nova Acrópole, 2011). Foi voluntário e diretor da Casa do Contador de Histórias, em Curitiba”. Quero acrescentar que ele é também ator e em duas diferentes ocasiões aplaudi-o assistindo às suas atuações no palco. Além disso, Ricardo é ligado ao Museu Oscar Niemeyer e foi assessor de Teca Sandrini na diretoria e presidência do MON. Importante detalhe: Ricardo é calígrafo, o mais admirável que já conheci, tanto que escrevi por duas vezes sobre sua caligrafia e publiquei na internet. O meu primeiro artigo, em 31.10.2017, chamou-se “O livro do MON e Ricardo Freire”. No segundo texto, para o Portal Iza Zilli, escrevi “Bela e má grafia” em 11.12.2017, que com fotografias ilustrativas podem ser vistos e lidos nos seguintes links:

 

https://fsoutone.blogspot.com/2017/10/livro-do-mon-e-ricardo-freire-o.html

 

https://fsoutone.blogspot.com/2017/12/bela-grafia-e-ma-grafia-por-francisco.html

 

 

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A primeira visita de Ricardo Freire

 

Recebi Ricardo Freire em três diferentes ocasiões. A primeira, quando ele entrevistou-me em 2014 para uma exposição que seria realizada no MON (popularmente conhecido como Museu do Olho) e teria como tema a História do Museu Banestado – por mim criado – e os sucessivos Salões Banestado de Artistas Inéditos. Essa exposição reuniu peças do acervo do Museu Banestado, do Salão Banestado de Artistas Inéditos (que era realizado anualmente na Galeria de Arte Banestado) e do Museu Paranaense (do qual eu fui conselheiro durante a gestão de Ennio Marques Ferreira) e teve a duração de dois anos. As fotografias abaixo são da primeira visita de Ricardo, quando eu residia no Centro Cívico e tinha meu chihuahua Paco Ramirez:

 

Em 2014 Ricardo Freire e Francisco Souto Neto, este com seu chihuahua Paco Ramirez, apontando num álbum à história dos Salões Banestado de Artistas Inéditos.


Ricardo Freire (com Paco Ramirez ao seu lado no sofá) vendo os documentos da criação do Museu Banestado.

 

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A inauguração da exposição no MON

 

Na inauguração da exposição, encontrei-me com Teca Sandrini que tirou algumas fotografias comigo:

 

Teca Sandrini e Francisco Souto Neto. Na parede, a história da formação do Museu Banestado.

Meu dedo aponta ao detalhe, na criação do Museu Banestado.

Francisco Souto Neto em outra parede da exposição, onde é relatada a história da criação do Salão Banestado de Artistas Inéditos.

Mais uma vez, meu dedo aponta. Agora, na história do Salão Banestado de Artistas Inéditos que existiu até 9 anos após minha aposentadoria, e foi extinto por causa do fim do Banco do Estado do Paraná S. A.


Referências a uma das três galerias de arte que existiram no Banestado. Então na presidência do banco oficial do Paraná, eu assinava como “Assessor do Presidente” e como “Assessor para Assuntos de Cultura”.


Até meus telefones do trabalho, diretos, ficaram expostos nos cartazes da criação do Museu Banestado, quando iniciei a formação do acervo.

 

Na inauguração da exposição, no Museu Oscar Niemeyer: Sandra Fogagnoli, Francisco Souto Neto, Teca Sandrini e Fernando Calderari.

 

 

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O ingresso de Teca Sandrini na Academia de Letras José de Alencar

 

Em 28 de novembro de 2014 Teca Sandrini tornou-se minha confreira na Academia de Letras José de Alencar, sob a presidência e a convite de Anita Zippin, em solenidade no Palacete dos Leões.

 

Em 28.11.2014 Teca Sandrini torna-se confreira de Francisco Souto Neto na Academia de Letras José de Alencar.

 

 

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A segunda visita de Ricardo Freire

  

A segunda visita de Ricardo Freire ocorreu em 2017, quando ele levou para mim, de presente, um exemplar do livro “Museu Oscar Niemeyer”, contendo matérias sobre as exposições ali realizadas, no qual meu trabalho no Banestado foi divulgado e enaltecido. Nessa ocasião meu amigo Rubens Faria Gonçalves, que residia no mesmo prédio, alguns andares acima do meu apartamento, desceu à minha residência com o seu buldogue francês que se chamava Tibério.




O livro no qual foi mostrada a exposição sobre o Museu Banestado e os Salões Banestado de Artistas Inéditos, e meu nome mencionado como criador daqueles eventos culturais. 

Ricardo Freire entregando-me o livro.

Francisco Souto Neto e o livro que memoriza seu trabalho nas décadas de 80 e começo dos anos 90, quando exercia os cargos de Assessor de Diretor e de Assessor da Presidência para Assuntos de Cultura do banco oficial do Paraná.

Na ocasião, meu amigo Rubens Faria Gonçalves, que tinha um apartamento uns andares acima do meu, desceu à minha residência para conhecer Ricardo Freire e mostrar-lhe seu buldogue francês Tibério.

Detalhe de uma das páginas do livro.


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A terceira visita de Ricardo Freire

 

Pedi ao Ricardo uma dedicatória no livro e em outra ocasião, agora munido de suas canetas com penas próprias para a escrita gótica, ele voltou à minha casa e fez a dedicatória com sua impressionante caligrafia, como se vê abaixo:

 

 

Ricardo Freira volta à minha casa para registrar no meu exemplar a dedicatória feita com suas canetas especiais de calígrafo.

Ricardo Freire escrevendo a dedicatória.

A dedicatória.

Missão cumprida.

 


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O lançamento de FOGO NO BORDEL

 

Voltemos, agora, à obra “Fogo no Bordel”, biografia de título instigante e inteligente; entretanto não vou fazer “spoiler” (para usar um estrangeirismo em voga entre os jovens) e deixar que os leitores de Ricardo Freire descubram seu significado ao lerem o livro.

 

O convite para o lançamento do livro.

 

No dia 22 de março de 2024, “Fogo no Bordel” foi lançado no Palácio Belvedere, com a presença de centenas de convidados, e a fotografia abaixo foi tirada por Giovanna, filha de Teca Sandrini, quando Ricardo Freire começava a escrever a dedicatória no meu exemplar.

 

Francisco Souto Neto, Teca Sandrini e Ricardo Freire no lançamento de “Fogo no Bordel” no Palácio Belvedere em 22 de março de 2025.

 

Abaixo, a linda dedicatória no meu exemplar de “Fogo no Bordel”, assinada por Teca Sandrini e Ricardo Freire.

 

A dedicatória com a belíssima caligrafia de Ricardo Freire, e autógrafos dele e de Teca Sandrini.

Detalhe da dedicatória.

Teca Sandrini pediu que o livro fosse inteiramente impresso na cor azul, por considerar que deste modo a leitura seria mais confortável... e estava coberta de razão. Gostei muito de ler a obra com letras azuis e não pretas.

 

Na página 340, a referência a meu nome.

 

Na página 340, a referência a Francisco Souto Neto.


Uma das inúmeras ilustrações encontradas na obra, em azul – como todas as páginas do livro.

 

 

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Conclusão

 

 

Mesmo não querendo ser repetitivo, nem prolixo, ao encerrar reafirmo que Ricardo romanceou magnificamente tudo o que lhe foi contado por Teca Sandrini, e escreveu de um modo tão próprio e com tamanho domínio e graça, que a leitura faz-se em enorme deleite. Uma leitura agradabilíssima cheia de surpresas encantadoras e os infortúnios tratados com tato e delicadeza.

 

Teca Sandrini não poderia ter escolhido ninguém melhor do que Ricardo Freire para relatar suas memórias.

 

Que simbiose perfeita!

 

 

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